António Balduíno sai cantando coisas de Lampião... |
JUBIABÁ
Episódio Nº 171
Saiu correndo com o fardo. António
Balduíno levantava pedaços de trilhos:
-
Todo o mês vai dinheiro para o sindicato. O sindicato tem de aguentar.
O apito do capataz mandava a turma
abandonar o trabalho. A turma do dia estava à espera e substituía imediatamente
a que saía. Os materais para a estrada de ferro continuam a andar para o
armazém das docas.
Os guindastes rangiam.
Saem em grupos e na porta António
Balduíno se recorda de um homem que foi preso ali quando fazia um discurso. Ele
era moleque de rua mas se lembrava perfeitamente.
Gritara, e com ele o grupo todo,
protestando contra a prisão do homem. Gritava porque amava gritar, vaiar a
polícia, jogar pedra em soldado.
Hoje ele precisa de gritar novamente,
como no tempo em que corria solto pela rua e não via os guindastes inimigos
prontos a lhe rebentar a cabeça.
António Balduíno vem sozinho pela rua.
Tomou um copo de mingau de puba no Terreiro. Junto da negra homens conversavam
sobre a greve.
António Balduíno sai cantando coisas de
Lampião:
«Minha mãe me dê dinheiro
Pra comprar um cinturão
Para fazer uma cartucheira
Pra brigar pra Lampião»
Um conhecido grita.
- Alô Baldo!
O negro faz um gesto com a
mão e continua a cantar.
«A muié de Lampião
Quase morre de uma dor
Porque não fez um vestido
Da fumaça do vapor»
Agora canta em surdina,
entre dentes:
«É Lamp, é Lamp, é Lamp,
É Lamp, é Lamp, é Lamp,
Lampião.»
Com a greve que paralisou os
bondes a cidade ficou festiva. Tem um movimento desconhecido hoje. Passam grupos
de homens que conversam animadamente.
Rapazes empregados no
comércio caminham rindo, gozando a cara do patrão que não poderá reclamar do
atraso da chegada.
Uma mocinha atravessa a rua
apressadamente com medo de alguma coisa. A cidade está cheia de condutores de
bonde, de operários da oficina da companhia. Discutem com calor.
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