Eu fico na greve até vencer... |
JUBIABÁ
Episódio Nº 186
Um sujeito moreno pede
para ser ouvido. Ele é contra a continuação da greve. Acha que se deve aceitar
o aumento de cinquenta por cento. Já vai servindo.
Quem quer tudo de uma vez
acaba perdendo tudo. O dr. Gustavo tinha razão. Qual é a força que o operário
tem? Operário não tem força nenhuma. A polícia podia acabar com a greve na hora
se qui sesse…
- Como? Como?
- Ora se podia. Eles deviam se dar por felizes
com o aumento.
Propõe que a assembleia
aprove a terminação da greve e um voto de louvor ao doutor Gustavo.
- Vozes gritam:
- Vendido, vendido! Traidor, traidor!
Outros pedem que ouçam o
orador. Vários operários, Mariano entre eles, estão quase concordando com o
rapaz moreno. Cinquenta por cento já é alguma coisa. Depois podem perder tudo e
é muito pior. Quando o rapaz desce, ganha alguns aplausos.
Mas António Balduíno grita
mesmo do lugar onde está:
- Gente, o olho da piedade de vocês já secou.
Ficou somente o da ruindade? Vocês parece que nem se lembram da gente que
apoiou vocês. Os estivadores, os trabalhadores da padaria.
Se vocês querem ser
traídos, sejam. Cada um é dono da sua cabeça. Mas se vocês são tão burros que
querem perder tudo para ganhar uma porcaria, eu garanto que rebento a cabeça
daquele que passar aquela porta.
E eu fico na greve até
vencer.
Severino sorri. Mas vários
se impressionam com o discurso de Balduíno. O Gordo que nunca viu uma coisa
assim está tremendo.
O negro que falou de tarde
discursa novamente. Mostra que houve traição, que eles foram vendidos. Pedro
Corumba fala também, cita exemplos das greves de São Paulo e do Rio quando
confiaram em promessas de advogados que se diziam amigos do proletariado.
Mas a assistência está
indecisa, os homens conversam entre si e os que aceitam a proposta conqui stam adeptos.
O presidente vai pôr em votação. Aqueles
que concordam com a continuação da greve que se levantem. Os que acham que
devem aceitar a proposta da companhia, se conservem sentados.
Porém, antes que a votação
seja feita, um jovem operário invade a sala e grita:
- O companheiro Ademar foi preso quando saíu
daqui de tarde. E a companhia está
alugando gente para furar a greve.
Pára e toma fôlego:
- E diz que a polícia vai obrigar os padeiros
a entregar pão amanhã.
Então a assembleia se
levanta toda e vota pela continuação da greve com os braços estendidos e os
punhos fechados.
SEGUNDO DIA DA GREVE
Para que dormir nesta
noite tão bonita? O negro António Balduíno não vai dormir.
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