Sou pela greve porque assim, só com a lua, você ainda é mais linda. |
JUBIABÁ
Episódio Nº 184
A filha sonha com a baratinha que cortou a rua. O
namorado se aproxima da janela:
- Eu sou pela
greve. Porque assim, só com a lua, você ainda é mais bonita…
Quando ela tiver a baratinha não precisará de namorar
com um caixeiro de amarinho, ouvir frases românticas. Namorará um estudante, um
académico, e irá às festas elegantes.
O doutor Gustavo Barreiras salta do táxi e sobe de
dois em dois os degraus da escada do sindicato. Fazem silêncio quando ele
entra.
Senta na mesa no lugar que o presidente lhe cede. Pede
a palavra:
- Senhores,
como vosso advogado trabalhei toda a tarde junto aos directores da Companhia
Circular. Testemunha melhor do meu trabalho e do meu esforço é a grata nova que
vos trago.
Senhores, serei conciso. O caso foi solucionado
completamente… (Os ouvintes se projectam para a frente. Assim ouvem melhor)
graças aos esforços empregados pelo vosso humilde patrono.
Após discutirmos toda uma tarde chegamos à conclusão
de que o caso ficaria perfeitamente liqui dado,
com honra para ambas as partes se todos cedessem um pouco (ouve-se um zunzum na
sala).
De um lado a Companhia saía da sua intransigência, que
chegava ao ponto de não admitir qualquer entendimento com os operários enquanto
eles se conservassem em greve, e não só entrara em entendimentos como chegara
com ele, orador, a um acerto.
Os operários cederiam em cinquenta por cento,
começando as novas tabelas no dia seguinte.
- Isso é
política de advogado ou de operário? – interrompeu Severino.
- Essa é a melhor
política… - dr. Gustavo sorri seu sorriso mais caricioso – é a política de conqui star aos poucos aqui lo
que não pode ser conqui stado de um
só golpe.
Se deres ouvidos aos agitadores profissionais a luta
será perdida para vós, pois se extremardes demasiado ela se voltará contra vós
como um punhal de dois gumes, pois a fome baterá à vossa porta, a miséria
habitará o vosso lar.
- O sindicato tem dinheiro para garantir a greve…
- Mesmo que ela
se eternize?
- Ela tem que
acabar porque a cidade não pode ficar sem luz e sem bonde. Eles têm que dar o
que a gente quer. Não vamos desanimar companheiros.
O dr. Gustavo está rubro de cólera:
- Você não sabe o que diz. Eu sou um advogado, entendo
destas coisas.
- A gente é que
sabe de quanto precisa para não morrer…
- Bonito, negro
– apoia Balduíno.
Um rapaz pede a palavra. Começam a bater palmas mal
ele aparece na mesa.
- Quem é? – pergunta António Balduíno ao negro
Henrique
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