E no dia da entrega do título, vamos fazer uma farra bestial... |
OS VELHOS
MARINHEIROS
Episódio Nº 58
- Tem razão. Esqueci de lhe dizer que
não é necessário ser piloto, prático, oficial de bordo para fazer o concurso. É
aberto a todo mundo.
É claro que, em princípio, só o requerem
homens de bordo, em geral após uma vasta experiência. Mas ainda há pouco, para
certificar-me, estudei a lei que estabeleceu o concurso: é aberto a qualquer
pessoa. Só você requerer. Aliás, já estou com o borrão do requerimento pronto,
você só tem o trabalho de copiar e assinar.
Estendia-lhe outro papel, Vasco ficava
com ele na mão:
- Muito bem, posso requerer. E como vou
fazer os exames, não sei nada desse latim todo, nunca vi coisa tão complicada.
Sem falar na tese, onde vou buscar conhecimentos para escrevê-la? Não gosto de
escrever nem carta, levei muito esporro de meu avô por isso...
- Já providenciei tudo, meu velho. A
tese, descrição de uma viagem de Porto Alegre ao Rio, passando por
Florianópolis e Paranaguá, já está sendo escrita.
- Você mesmo?
- Não, até aí não vou, estou velho para
isso. O Tenente Mário está lhe prestando esse favor... Depois você, se qui ser, lhe dá um presente... Uma besteira
qualquer...
- O que ele preferir, sem falar na minha
amizade eterna, Mas, e os exames orais? Não sei pitangas de nada do que está
nesse papel.
- Simples, meu filho, pensei em tudo. Sobre cada
matéria vamos formular duas ou três perguntas e, ao mesmo tempo, as respostas.
Lhe entregamos perguntas e respostas. Você decora as respostas, presta os
exames, é aprovado com distinção, recebe seu bendito título.
Vasco parecia duvidar da realidade
daquela oferta inesperada.
Georges continuava:
- Não se esqueça que a banca examinadora
é nomeada e presidida por mim. vou designar o Tenente Mário e o Tenente Garcia,
bons rapazes e seus amigos. E fica sendo você comandante, jurado e
sacramentado, e sem perigo para a humanidade porque jamais irá se meter a
comandar navio.
- Deus me livre.
Georges levantou-se, bateu nas costas de
Vasco:
- E, se depois me aparecer ainda de
crista caída, junto aos marinheiros, mando lhe dar uma surra.
O coronel interveio, esfregando as mãos:
- E no dia da entrega do título, vamos
fazer uma farra bestial.
Maior que a de ontem... Dessas de lavar a alma.
- Daqui
a um mês reunirei a banca examinadora - anunciou Georges.
- Por que tanto tempo? - amedrontou-se
Vasco.
- Você já está apressado, hein? Para dar
tempo a Mário de redigir o trabalho escrito e a você de copiá-lo com sua letra
e decorar as respostas para a oral, uma por uma, tintim por tintim.
Tem que saber tudo na ponta da língua.
Esse é o preço que você vai pagar pelo título de capitão de longo curso, seu
comandante de merda.
- E se eu me atrapalhar na hora do
exame, se ficar nervoso?
- Não se atrapalhe, não fique nervoso. E
agora copie o requerimento e depois dê o fora, tenho trabalho a fazer.
- Vamos começar a preparar as
comemorações - avisou o coronel.
Vasco curvou-se sobre o papel, passou a
copiar. Estava tonto, tudo aqui lo
parecia-lhe irreal, um sonho absurdo. Sentia os olhos húmidos, mal podia
enxergar as letras. Nada no mundo igual à amizade, os amigos são o sal da
terra. Gostaria de dizer-lhes, não sabia como.
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