Por ora, Vasco Moscoso de Aragão tinha Dorothy |
OS VELHOS
MARINHEIROS
Episódio nº 53
Fora difícil convencê-lo a abandonar a ideia do “rapto das Sabinas”, Madame Lulu subindo a Ladeira da Montanha para a Praça do Teatro, carregada de correntes, escrava à disposição de Carol.
Estava eufórico o capitão dos portos,
acabara para sempre, assim pensava, com a causa daquela expressão de tristeza a
ensombrar o rosto leal de Vasco Moscoso de Aragão. Já agora podia o comerciante
usufruir, sem qualquer resquício de melancolia, dos bens com que lhe cumularam
a Providência e o avô: a fortuna, a condição de solteiro, a sorte no jogo. o
charme para as mulheres, a inata simpatia.
- Daria minha patente por sua sorte no
poker... - afirmou o comandante.
- E eu lhe daria a minha por sua sorte
com as mulheres... - suspirou o coronel.
- Eu trocaria, de olhos fechados, meu
diploma de advogado por uma qui nta
parte de suas quotas na firma... - riu o Dr. Jerónimo, acrescentando: - E de
lambujem lhe daria minha futura cadeira de deputado.
- Mesmo a cadeira de deputado, bem? -
admirou-se Carol, conhecedora das ambições do jornalista.
- De que valem títulos e patentes,
Carolita, ao lado do dinheiro? Tendo dinheiro, pode-se ter tudo quanto se qui ser: patentes, diplomas, deputação e senatoria, a
mulher mais formosa. Com o dinheiro compra-se tudo, filha minha.
Por ora, Vasco Moscoso de Aragão tinha
Dorothy na réstia de luar, no perfume do mar, na canção das ondas, embalada
pelos ventos, morrendo em suspiros, revivendo em ais de amor, a face de febre,
devoradora boca, indecifrável rosa de obscuro azul.
Quando as forças faltaram, no derradeiro
embate, e ela dormiu, Vasco estendeu-se cansado e agradecido, e sonhou, os
olhos abertos, a boca a sorrir, ouvindo ao longe o apito de um navio: na noite
de tempestade salvava o navio em perigo, trazia-o para o porto batido de chuva,
onde, transida e ansiosa, Dorothy esperava pelo amante, o Comandante Vasco
Moscoso de Aragão.
De como, em farra monumental, Vasco chora
no ombro de Georges e do resultado dessas confidencias
Passaram-se os meses, Roberto viajou
para o Rio e de lá regressou trazendo na bagagem uma índia peruana conformada e
qui eta; Lídio Marinho teve quatro ou
cinco novos casos nas pensões e castelos, inclusive com Mimi a quem revelou o
mistério do rapto e dos bandidos mascarados; o Desembargador Rufino morreu num
prostíbulo, escandalizando a cidade.
Apesar das promessas feitas a Carol, não
mais voltara à Pensão Monte Cario, horrorizado ante a perspectiva de outro
assalto. Passara a frequentar castelos mais resguardados, morrera no de Laura,
onde descobrira uma certa Aríete de qui nze
anos incompletos.
Á pobre menina, ao ver o velho em cima
dela no estertor da morte, pôs a boca no mundo, a chorar e a berrar, atraindo a
vizinhança toda, inclusive um guarda-civil ocupado a jogar no becho, nas
proximidades.
Tornou-se assim o acontecimento
conhecido do público, reuniu-se verdadeira multidão de curiosos em frente ao
castelo, na Ladeira São Miguel, na hora do transporte do corpo. Piadas
irreverentes provocavam gargalhadas, o filho deputado do falecido era apontado
a dedo.
Aríete e Laura tinham sido levadas à
polícia onde sofreram vexames de toda espécie. O guarda-Civil foi o único a
tirar certo partido do escandaloso fato: voltara a jogar no bicho, arriscando
500 réis no milhar 7.015, junção das idades do defunto e de Aríete.
Palpite inteligente e feliz: o jogo do
bicho exige perspicácia, atenta vigilância em torno das forças do destino,
capacidade para extrair as lições (e os palpites) dos acontecimentos.
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