Na Igreja
Católica
Católica
Quando a
Igreja de Roma viveu conturbados momentos com a renúncia do Papa atormentado com
problemas de pedofilia e homossexualidade de muitos dos seus membros, convém
recordar Luís Mott, doutor em Antropologia e professor na Universidade Federal
da Bahia, autor de 15 livros e 200 artigos sobre a história da homossexualidade
que faz este resumo histórico:
- «Quando se descobriu a América
Latina, Portugal e a Espanha viviam o seu período de maior intolerância contra quem
praticava o abominável e nefasto pecado da sodomia.
Nessa época, instalaram-se na
Península Ibérica Tribunais de Inqui sição
que converteram a sodomia num crime tão grave como o regicídio e a traição à
pátria. Era um dos poucos delitos que as primeiras autoridades do Brasil tinham
capacidade para castigar com a pena de morte sem necessidade de consultar
previamente o Rei de Portugal.
Um dos Tratados de Teologia da época
das Conqui stas “rezava” assim:
- “De todos os pecados, a sodomia é o
mais torpe, sujo, desonesto e não se encontra outro mais detestado por Deus e
pelo mundo. Por este pecado lançou o dilúvio sobre a terra e por este pecado
destruiu as cidades de Sodoma e Gomorra.
Por causa da sodomia foi destruída a
Ordem dos Templários. Portanto, mandemos que todo o homem que cometa esse
pecado seja queimado e convertido em pó pelo fogo para que do seu corpo e
sepultura nunca se tenha memória.”
Ao desembarcarem no Novo Mundo, os
europeus encontraram uma grande diversidade de povos e civilizações cujas
práticas sexuais diferiam em grande medida da matriz cultural judaica-cristã,
sendo algumas diametralmente opostas como: a nudez, virgindade, poligamia,
divórcio e, sobretudo, a homossexualidade, travestismo e transexualidade.
Já em 1514 se divulgava “Na História
Geral e Natural das Índias” que o gosto pelo vício nefasto se encontrava
presente em todo o Caribe e em alguns territórios na Terra Firme. Há notícia de
que os conqui stadores se
escandalizaram profundamente por isto e lhe atribuíram a falta de conhecimento
do “verdadeiro Deus”.
O ano de 1513 pode ser considerado o
de abertura à intolerância homofóbica no Novo Mundo.
O conqui stador
Vasco Balboa ao encontrar um grupo de índios homossexuais no Istmo do Panamá
prendeu 40 deles e atirou-os a cães ferozes para que os devorassem, conforme
conta Pietro Martire, num retrato dramático gravado na época.
Em 1548, registou-se a primeira
perseguição institucional contra europeus homossexuais: na Guatemala foram
presos sete, quatro deles clérigos.
Salvaram-se de morrer
na fogueira por causa de um tumulto que por coincidência ocorreu na altura.
No Brasil, entre 1541 e 1620, 44
homens foram acusados e processados por sodomia.
No fim do século XVIII haviam sido
denunciados 283 homens e mulheres por este delito, 29 eram lésbicas, 5 delas
receberam penas pecuniárias e espirituais, 3 foram desterradas e 2 condenadas a
chicotadas em público. A
mais famosa, Filipa de Sousa deu o seu nome ao prémio mais importante dos
Direitos Humanos Homossexuais.
O México liderou a perseguição aos
homossexuais durante o período colonial: em 1658 foram denunciados 123
sodomitas na cidade do México e arredores, 19 deles foram presos e 14 queimados
na fogueira.
Os Tribunais da Inqui sição desapareceram em 1820 no peru e no México e
em 1821 no Chile e Brasil mas as mentalidades não mudam por decreto e o
machismo homofóbico continuou sendo uma característica da cultura
latino-americana.
No século XX, o suicídio, a
marginalidade, o suicídio, a total clandestinidade, a baixa auto-estima, a
marginalidade, os assassinatos passaram a ser o pão nosso década dia para
milhões de gays, lésbicas e transexuais na América-Latina recusados pelas
famílias, humilhados nas ruas, impedidos de aceder ao trabalho.
Investigações realizadas no Brasil,
que deve albergar mais de 17 milhões de homossexuais, revelam que de todas as
minorias sexuais, os gays e as lésbicas são as mais odiadas. No México, até
hoje, chamavam-se aos gays “quarenta e um” como recordação dos 41 homossexuais
presos numa só noite em 1901 e submetidos a castigos humilhantes, obrigados a
varrer as ruas da capital e as latrinas públicas.
Cuba destacou-se na década dos anos
sessenta pela violência com que perseguiu, prendeu e obrigou ao exílio centenas
de homossexuais, identificando a homossexualidade com a “decadência
capitalista”.
Até meados dos anos 90 a homossexualidade
continuava a ser considerada um delito no Chile, Equador, Cuba, Nicarágua e
Porto Rico.
Apesar de todos os avanços e
desenvolvimento dos Direitos Humanos em sociedades cada vez mais plurais e
complexas, as mais recentes posições do Vaticano face à homossexualidade
continuam sendo as mesmas: a orientação homossexual é considerada uma desordem
grave e, em consequência, a moral oficial exige aos homossexuais uma permanente
castidade.
NOTA
A
intolerância da Igreja e a crueldade com que sempre puniu os pecadores,
podendo, de certa maneira, ser fruto da época, o grau com que o fez foi sempre
a imagem de marca da Igreja de Roma.
A
quando da cruzada contra os Albigenses, levada a cabo pelos cruzados a seu
mando, ela não teve limites e o Papa dizia:
- “Matem todos. Deus, no outro mundo,
reconhecerá os seus, isto é, distinguirá os católicos dos hereges”.
A
Igreja Católica percebeu sempre que a sua sobrevivência estava ligada ao medo,
ao sofrimento e sacrifício das pessoas e a pureza da doutrina, no caso dos
albigenses, e da felicidade que o amor proporciona, não servem os seus
interesses.
O
sexo, no caso dos humanos, é muito mais que procriação: é a realização pelo
amor de acordo com as preferências de cada um, mas a Igreja não pode permitir
isto porque, para eles, a felicidade é em Cristo, em Deus, de joelhos, dobrados
a seus pés.
É
assim que aconteceu o domínio e se manifestou o poder da Igreja: punindo,
perseguindo, ameaçando com toda a crueldade, deste mundo e do outro, que a
história registou durante a Inqui sição
e nas acções de evangelização em África, nas Américas, por esse mundo fora,
destruindo culturas milenares e conqui stando
almas para Deus se preciso à custa das vidas das pessoas.
Este
passado, cai-lhes agora em cima e eles, que sempre foram os juízes, estão agora
a julgamento, não por Deus mas pelos homens de consciência livre que vão
sabendo que, afinal, o “pecado” morava lá dentro.
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