sábado, julho 05, 2014

Difícil, difícil,
é saber ganhar...












Este Mundial tem sido o do “chorinho”. Lágrimas dos que ganham, lágrimas dos que perdem, lágrimas dos que assistem nos estádios e por esse mundo fora, não contando com os fanicos que também os deve ter havido.

A razão é a mesma: é que este ano, excepção feita a Portugal que não se ficou pelas lágrimas, foi mais fundo com a cabazada da Alemanha por 4-0, os restantes jogos têm sido decididos nas rectas finais, prolongamentos e penaltis, a provocarem emoções, respirações suspensas, angústias, até que, finalmente, tudo acaba na derradeira tristeza da derrota ou na infinita alegria da vitória no último minuto, quando não no último segundo.

Vejam o que aconteceu ontem: - aquilo que parecia uma vitória pacífica do Brasil por 2 a 0 transformou-se, nos últimos 10 minutos, depois do golo da Colômbia, no maior sufoco para os brasileiros agravada com a perda do seu craque Neimar vítima de uma bárbara agressão pelas costas de um seu adversário.

A bonita reacção do jogador brasileiro David Luís, autor de um golo para a história, consolando afectuosamente James Rodrigues que chorava no fim do jogo, leva-me a contar-vos uma história que justifica o título deste texto: difícil, difícil, é saber ganhar...

Vou utilizar as próprias palavras do jornalista que muito prezo, Ferreira Fernandes, que ma contou no jornal Diário de Noticias de ontem:

 - “Os Chilenos viram a bola de Pirilla bater com estrondo na trave e por um triz, a segundos do final do prolongamento, não eliminar o Brasil.

Sobrenaturalmente a bola não entrou, foi-se a penáltis e aos brasileiros, em vez de serem terra-a-terra por terem ganho no substantivo e no concreto (marcaram matematicamente mais do que os chilenos) deu-lhes o chilique.

Saíram do estádio vencedores e miseráveis, a chorar.

Desde aí estamos nesta fase mariquinhas das lágrimas. Chorinho, só música, caragos!

Um dos jogadores, William, diz no Globo uma frase de auto ajuda:

- “Nenhuma dor é maior do que um sonho”.

Rapaz, o único desporto que precisa de autoajuda é a Fórmula 1: sem a ajuda da Ferrari ou da Lotus, sem auto, nada a fazer. Agora, desportistas de boa saúde e melhor conta bancária exporem, desta forma, as suas fragilidades emocionais? ... Felipão, liberte o sargento que há em você e ponha na ordem estes fanicos.

Isto não vai lá com frases tipo “Amor é...”. No futebol, um antigo filósofo português já disse o que há para dizer: “Atirem-se a eles como Tarzões”.

Um adepto ferrenho do clube da minha terra gritava para um seu jogador após o árbitro ter apitado para o início da partida: “Vai-te a ele, morde-lhe nas canelas!” ao que o jogador respondia: - “Não posso, não tenho dentes”... – “Não faz mal, dá-lhe com as genjavas - gritava o adepto entusiasmado.

E, já agora, deixem-me lembrar um exemplo adequado quando se fala num Mundial no Brasil:

 - Estávamos em 1950, estádio do Maracanã, final Brasil / Uruguai jogo de vencedor certo, os da casa. Quando o brasileiro Friaça fez o 1 a 0 confirmava-se o destino e os uruguaios conformavam-se, apagou-se-lhes um bocadinho a luz dos olhos. Menos no capitão, Obdúlio Varela.

Ele foi buscar a bola ao fundo das suas redes e dirigiu-se ao árbitro como um homem zangado. Esticou a corda quase até à expulsão. De repente, parou, já tinha visto que os seus se tinham recomposto.

O jogo recomeçou e sabe-se hoje que o Uruguai ganhou por 2 a 1.

Isto é uma homenagem à frieza? Vocês não entenderam nada. Obdulio não foi comemorar nessa noite com os seus. Andou pelos botequins do Rio emprestando o ombro aos brasileiros que choravam e não o reconheciam.

Voltou para Montevideu com o chapéu de aba rebatida e gabardina de gola levantada – como um homem que ganhou a guerra na terra dos outros e não se vangloriar.

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