segunda-feira, setembro 15, 2014

Este é o riso Deuchenne
O RISO
(Parte 2)















O riso Não Duchenne é mais estratégico, menos espontâneo e nem sequer precisa de ser acompanhado pelo humor. A conversa normal é muitas vezes acompanhada pelo riso, que o falante usa para sublinhar uma observação e o ouvinte para indicar apreço.

Este tipo de riso está bem integrado na conversa, ao contrário do mais genuíno riso Duchenne, que pode levar a conversa até uma paragem por perda de fôlego ou dificuldade de respiração.

Além de “lubrificar” a conversa normal, o riso não Duchenne é usado para distender situações tensas (riso nervoso), para fazer os outros sentirem-se pouco à vontade (riso malévolo) e para outros fins estratégicos.

Os estudos neurobiológicos mostram que o riso Deuchenne activa antigos circuitos cerebrais que têm a ver com as brincadeiras e com as emoções positivas em todos os primatas e, na realidade, na maioria dos mamíferos.

O riso Não Duchenne activa zonas do cérebro associadas com as nossas capacidades cognitivas avançadas.

Estes factos sugerem que o riso Duchenne se desenvolveu numa fase muito precoce da evolução dos hominídios, antes de termos capacidades cognitivas avançadas.

Já presente no reportório comportamental pré-humano, o riso Duchenne pôde ser integrado com funções cognitivas mais elevadas como a linguagem e o pensamento simbólico à medida que estes evoluíam, dando origem às muitas funções do riso Não Duchenne.

Em termos simples podemos dizer que antes de falarem ou até de pensarem em termos humanos, os nossos antepassados provavelmente já se riam.

O riso é um mecanismo altamente eficaz para levar os membros do grupo a sentirem o mesmo ao mesmo tempo. Pensemos num sinal eléctrico a percorrer uma célula nervosa que quando chega ao fim liberta substâncias químicas num espaço minúsculo entre células nervosas o que, por sua vez, faz as células adjacentes dispararem, propagando o sinal.

Agora pensemos em alguém a rir. Se ele tem lugar num contexto apropriado leva espontaneamente os outros a rirem-se até todo o grupo estar a rir.

A propagação do sinal é quase tão rápida e automática como a propagação de um sinal eléctrico de uma parte do cérebro para outra.

Se o riso tem lugar num contexto inapropriado (como por exemplo num funeral), provavelmente irá provocar um olhar reprovador por parte do resto do grupo e quem ri depressa vai dar conta do lapso.

É difícil pensarmos em nós como neurónios de um cérebro de grupo, mas isso é precisamente o que temos de fazer para compreender plenamente o que significa fazer parte de um organismo de grupo disperso.

Quando é apropriado, o riso provoca a boa disposição de toda a gente, como sabemos por experiência própria.

Mecanicamente, o cérebro liberta um coktail de químicos semelhantes aos que se tomam artificialmente quando se quer passar um bom bocado, como o ópio ou a morfina.

É perigoso consumir estas substâncias porque elas se limitaram a fazer-nos sentir bem sem nos levar a “agir” bem.

Uma infinidade de anos de evolução levou estes químicos a libertarem-se naturalmente só quando nos fazem agir de uma maneira que aumenta a nossa capacidade de sobrevivência e reprodução.

No que respeita aos químicos do cérebro a mãe natureza sabe o que faz.


(continua)

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