Este é o riso Deuchenne |
O RISO
(Parte 2)
O riso Não Duchenne é mais
estratégico, menos espontâneo e nem sequer precisa de ser acompanhado pelo
humor. A conversa normal é muitas vezes acompanhada pelo riso, que o falante
usa para sublinhar uma observação e o ouvinte para indicar apreço.
Este tipo de riso está bem
integrado na conversa, ao contrário do mais genuíno riso Duchenne, que pode
levar a conversa até uma paragem por perda de fôlego ou dificuldade de
respiração.
Além de “lubrificar” a
conversa normal, o riso não Duchenne é usado para distender situações tensas
(riso nervoso), para fazer os outros sentirem-se pouco à vontade (riso malévolo)
e para outros fins estratégicos.
Os estudos neurobiológicos
mostram que o riso Deuchenne activa antigos circuitos cerebrais que têm a ver
com as brincadeiras e com as emoções positivas em todos os primatas e, na
realidade, na maioria dos mamíferos.
O riso Não Duchenne activa
zonas do cérebro associadas com as nossas capacidades cognitivas avançadas.
Estes factos sugerem que o
riso Duchenne se desenvolveu numa fase muito precoce da evolução dos
hominídios, antes de termos capacidades cognitivas avançadas.
Já presente no reportório
comportamental pré-humano, o riso Duchenne pôde ser integrado com funções
cognitivas mais elevadas como a linguagem e o pensamento simbólico à medida que
estes evoluíam, dando origem às muitas funções do riso Não Duchenne.
Em termos simples podemos
dizer que antes de falarem ou até de pensarem em termos humanos, os nossos
antepassados provavelmente já se riam.
O riso é um mecanismo
altamente eficaz para levar os membros do grupo a sentirem o mesmo ao mesmo
tempo. Pensemos num sinal eléctrico a percorrer uma célula nervosa que quando
chega ao fim liberta substâncias químicas num espaço minúsculo entre células
nervosas o que, por sua vez, faz as células adjacentes dispararem, propagando o
sinal.
Agora pensemos em alguém a
rir. Se ele tem lugar num contexto apropriado leva espontaneamente os outros a
rirem-se até todo o grupo estar a rir.
A propagação do sinal é
quase tão rápida e automática como a propagação de um sinal eléctrico de uma
parte do cérebro para outra.
Se o riso tem lugar num
contexto inapropriado (como por exemplo num funeral), provavelmente irá
provocar um olhar reprovador por parte do resto do grupo e quem ri depressa vai
dar conta do lapso.
É difícil pensarmos em nós
como neurónios de um cérebro de grupo, mas isso é precisamente o que temos de
fazer para compreender plenamente o que significa fazer parte de um organismo
de grupo disperso.
Quando é apropriado, o riso
provoca a boa disposição de toda a gente, como sabemos por experiência própria.
Mecanicamente, o cérebro
liberta um coktail de químicos semelhantes aos que se tomam artificialmente
quando se quer passar um bom bocado, como o ópio ou a morfina.
É perigoso consumir estas
substâncias porque elas se limitaram a fazer-nos sentir bem sem nos levar a
“agir” bem.
Uma infinidade de anos de
evolução levou estes químicos a libertarem-se naturalmente só quando nos fazem
agir de uma maneira que aumenta a nossa capacidade de sobrevivência e
reprodução.
No que respeita aos químicos
do cérebro a mãe natureza sabe o que faz.
(continua)
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