Casa de puta em rua de frente não dá |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 104
- Por que não botou um faz-as-vezes?
-
E quem haverá de ser?
- Pedro Cigano tá aí sem fazer nada...
- Se a venda fosse de mecê, mecê deixava
na mão dele?
Sentiam falta do armazém. A vida se
modificara, tornara-se mais fácil desde que Fadul se estabelecera em Tocaia Grande :
escusado carregar mantimentos para o pernoite havendo ali o necessário.
Ademais, como o fazia nos tempos de
mascate, Fadul costumava fiar - com garantia e pequeno ágio - quando o camarada
voltava liso dos povoados ou das cidades, tendo deixado nas ruas de canto os
derradeiros cobres.
Os comentários findavam sempre na relembrança
de ditos e feitos do turco embusteiro e ladravaz, mas finalmente um bom
sujeito.
Terminavam indo ao encontro das mulheres
da vida:
-
Vai ver, as meninas arresolveram trancar os balaios...
O número de raparigas variava, umas
chegavam, outras partiam, puta não esquenta lugar. Fixas, uma meia dúzia, não
mais, em aglomeradas palhoças defronte do rio, no extremo oposto do barracão no
qual o coronel Robustiano Araújo depositava o cacau seco, pronto para ser entregue
aos exportadores.
Coroca, ao escolher o sítio para a casinhola
cuja construção o capitão Natário da Fonseca empreitara recentemente com
Bastião da Rosa e Lupiscínio, recusou erguê-la no Caminho dos Burros:
-
Quero aqui mesmo... Casa de puta em
rua de frente não dá certo. Rua de frente é para as casas
de família.
Lupiscínio admirou-se:
-
Que família, dona Coroca?
Com o respeito devido aos mais velhos,
tratava-a por dona e
mandava o filho e auxiliar de
raspa-tábua, Zinho, um meninote, tomar-lhe a bênção.
-
Não demora, vancê vai ver.
-
Será deveras?
-
É melhor ficar logo aqui , perto dos
sapos, do que mais tarde ser mandada embora. Hoje tudo é igual, não faz
diferença, mas no doravante quem é que sabe?
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