Fui a culpada. Não fugi a tempo. |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 92
Não parou de incriminar-se enquanto o
homenzarrão levantava-se da cama, fechava a porta e se despia: nu, crescia de
tamanho, tornava-se ainda maior.
Da cama, estirada, olhava-o de soslaio,
um marido e tanto!
Trabalhador e cobiçoso, presumido e tolo,
igual a Kalil Rabat, bobo alegre nascido para cabresto e chifre. Com a vantagem
de ser grandão, bem-parecido e possuir aquele pé-de-mesa.
Jussara chegava com as mãos cheias: o
resplendor do rosto, a tentação do corpo, dinheiro a rodo, a mais sortida loja
de tecidos de Itabuna, a insolência e o dengue, o fogaréu.
Que mais podia desejar um tabacudo
bodegueiro confinado em remota caixa-pregos?
Não lhe parecendo ser aquela hora a mais
apropriada para dialogar sobre a honra perdida da viúva
e de como restaurá-la, o turco escutava em silêncio, impaciente, a magoada
ladainha, interminável. Jussara não se calou sequer quando ele a libertou das botas,
grata providência.
Patética, assumiu a responsabilidade do fatídico
descaminho:
-
Fui a culpada, não fugi a tempo. Não me importo, se acabou.
Antes que de repente ela decidisse dar
por findo o pagode penas começado, Fadul estendeu-se ao lado da cabocla, com a mão
disforme e delicada acariciou-lhe os seios, apertando-os de mansinho;
cutucou-lhe a bunda e a beliscou de leve, correndo os dedos pelo rego.
Jussara estremeceu e suspirou, aninhou-se no peito
veludoso, sentiu a borduna contra as coxas, prosseguiu entre desmaios:
-
Abusou de mim, eu deixei, agora pensa que sou uma perdida, como há de querer
casar comigo?
- Elevou a voz fazendo-a clara e precisa ao afirmar:
- Juro pela alma de
minha mãe que foi a primeira vez que pequei em toda a minha vida.
Nunca tive outro homem fora de meu marido.
Perdi a cabeça, pobre de mim!
As pernas nuas se cruzaram,
entreabriram-se as coxas de Jussara e a voz desfaleceu de novo:
-
Perdi minha honra... Estou em suas mãos...
- acariciou o rosto de Fadul, pôs mel na voz para confessar: ... mas nem
assim me arrependo, homem malvado! Cegou meus olhos, me seduziu mas nem
desonrada me arrependo - palavras boas de ouvir: inflamam o peito, inflamam o
coração, incendeiam os qui bas de um macho
bom de cama.
Apesar da prudência com que costumava agir
em assuntos assim relevantes e melindrosos, Fadul decidiu-se a prometer; para
cumprir, quem sabe, depois de esclarecer e comprovar certos pormenores:
-
Não se importe: Vou por esses dias a Itabuna e lá a gente conversa e resolve.
Não se preocupe com a loja.
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