( Jorge Amado)
Episódio Nº 95
- Olhe a rolinha dele, já tinha me esquecido
como era. Tamanhão
de rola, regalia! Brincando com a dita cuja, Zezinha
do Butiá, nostálgica, cantarolou romântica moda sergipana:
Rola, rolinha
Brinco de amor
Faz o teu ninho
Na minha fulo...
No quarto, após o banho, dando de comer
à rola com fartura,
Fadul achou a rapariga tristonha e
taciturna, como se algum desgosto a aperreasse. Certamente notícias ruins da
família, chegadas de Sergipe.
Zezinha sustentava vasta parentela na
cidade de Lagarto, pertinho do Butiá, onde nascera: o pai doente de sezão e de
cachaça, uma data de mulheres decrépitas e aluadas, mãe, avó e tias, todas
dependentes dela, as pobrezinhas.
Fadul quase a estranhou, tanto
sentimento Zezinha colocou na impetuosa entrega: desfalecendo em seus braços,
lânguida, amorosa. Até parecia que enamorada se entregava pela primeira vez ou
como se fosse a derradeira.
Não que habitualmente mantivesse postura
distante e fria; muito ao contrário, era um estouro de mulher. Os dois se
entendiam às mil maravilhas e se gostavam.
Nenhuma outra satisfazia Fadul tão
completamente quanto ela pelo zelo e pelo empenho e mais ainda por revelar na ânsia
e na veemência da folgança uma ponta de carinho e de afeição.
Por isso mesmo não a comparava com as
demais raparigas que conhecia e frequentava. Apesar de não exibir peitos grandes
e não ostentar bunda de tanajura, manifestas preferências do Grão-Turco, de
nenhuma ele sentia a mesma falta, a nenhuma cobiçava com tamanha febre, era
Zezinha quem lhe povoava os sonhos no degredo.
Mergulhava nela e se esquecia dos males
da vida, repousado e feliz: um abismo o xibiu de Zezinha do Butiá, mas também
um remanso de paz, seguro abrigo.
O
xodó entre os dois durava havia muito tempo, começara sendo ele ainda mascate e
ela novata em Itabuna.
Construindo castelos no ar em Tocaia Grande , ao
imaginar-se milionário, chorudo e patacudo ricalhaço, antes de mais nada ia retirar
Zezinha da pensão de Xandu, punha casa para ela, dava-lhe de um tudo sem medir
os gastos, conforto, mimo, luxo, mucama para servi-la, costureira que a
vestisse de rainha.
Queria-a rapariga apenas sua e de mais
ninguém, manceba em cuja companhia viesse descansar da fadiga dos negócios
variados, todos prósperos, da canseira da família - na família pouco se demorava a pensar: mulher
discreta e obediente, filhos robustos.
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