terça-feira, novembro 11, 2014

Os dois se entendiam às mil maravilhas e se gostavam
TOCAIA GRANDE
( Jorge Amado)



Episódio Nº 95

















- Olhe a rolinha dele, já tinha me esquecido como era. Tamanhão de rola, regalia! Brincando com a dita cuja, Zezinha do Butiá, nostálgica, cantarolou romântica moda sergipana:

Rola, rolinha
Brinco de amor
Faz o teu ninho
Na minha fulo...

No quarto, após o banho, dando de comer à rola com fartura,
Fadul achou a rapariga tristonha e taciturna, como se algum desgosto a aperreasse. Certamente notícias ruins da família, chegadas de Sergipe.

Zezinha sustentava vasta parentela na cidade de Lagarto, pertinho do Butiá, onde nascera: o pai doente de sezão e de cachaça, uma data de mulheres decrépitas e aluadas, mãe, avó e tias, todas dependentes dela, as pobrezinhas.

Fadul quase a estranhou, tanto sentimento Zezinha colocou na impetuosa entrega: desfalecendo em seus braços, lânguida, amorosa. Até parecia que enamorada se entregava pela primeira vez ou como se fosse a derradeira.

Não que habitualmente mantivesse postura distante e fria; muito ao contrário, era um estouro de mulher. Os dois se entendiam às mil maravilhas e se gostavam.

Nenhuma outra satisfazia Fadul tão completamente quanto ela pelo zelo e pelo empenho e mais ainda por revelar na ânsia e na veemência da folgança uma ponta de carinho e de afeição.

Por isso mesmo não a comparava com as demais raparigas que conhecia e frequentava. Apesar de não exibir peitos grandes e não ostentar bunda de tanajura, manifestas preferências do Grão-Turco, de nenhuma ele sentia a mesma falta, a nenhuma cobiçava com tamanha febre, era Zezinha quem lhe povoava os sonhos no degredo.

Mergulhava nela e se esquecia dos males da vida, repousado e feliz: um abismo o xibiu de Zezinha do Butiá, mas também um remanso de paz, seguro abrigo.

 O xodó entre os dois durava havia muito tempo, começara sendo ele ainda mascate e ela novata em Itabuna.

Construindo castelos no ar em Tocaia Grande, ao imaginar-se milionário, chorudo e patacudo ricalhaço, antes de mais nada ia retirar Zezinha da pensão de Xandu, punha casa para ela, dava-lhe de um tudo sem medir os gastos, conforto, mimo, luxo, mucama para servi-la, costureira que a vestisse de rainha.

Queria-a rapariga apenas sua e de mais ninguém, manceba em cuja companhia viesse descansar da fadiga dos negócios variados, todos prósperos, da canseira da família - na família pouco se demorava a pensar: mulher discreta e obediente, filhos robustos.

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