SANTARÉM - LARGO DO SEMINÁRIO |
(Na minha cidade de Santarém em 10/5/15)
Para uma máqui na de sobrevivência, outra máqui na de sobrevivência, que não seja o seu próprio
filho ou parente próximo, é apenas parte do seu meio ambiente, tal como uma
rocha, um rio ou um bocado de alimento.
É qualquer coisa que se mete no
caminho e atrapalha, ou que pode ser explorada com a diferença de que outra máqui na de sobrevivência, ao contrário de uma rocha,
tem tendência ao contra ataque e este é o único aspecto importante dessa diferença.
É que outra máqui na
de sobrevivência guarda, igualmente, os seus Genes imortais para o futuro e
também não se deterá diante de nada para os preservar.
A selecção natural favorece os genes
que controlam as suas máqui nas de
sobrevivência de forma a fazerem o melhor uso do seu meio ambiente e isto
inclui fazer o melhor uso de outras máqui nas
de sobrevivência, tanto da sua espécie como de espécies diferentes.
Em alguns casos as máqui nas de sobrevivência parecem influenciarem-se
muito pouco umas às outras.
Por exemplo, as toupeiras e os melros
não se comem, não acasalam, nem partilham do mesmo espaço para viverem mas será
que, por estas razões, eles serão completamente independentes?
Não nos esqueçamos que os melros, tal
como as toupeiras, comem minhocas e, portanto, relativamente a estas eles
competem um com o outro e, no entanto, nunca se encontram e é muito difícil que
um melro chegue alguma vez a ver uma toupeira, mas se eliminássemos estas isso
teria consequências na vida dos melros.
As máqui nas
de sobrevivência de espécies diferentes influenciam-se mutuamente de várias
maneiras: predador ou presas, parasitas ou hospedeiros, competidores por algum
recurso escasso ou usando-se reciprocamente com vantagens mútuas, como no caso
das abelhas e as flores.
As máqui nas
de sobrevivência da mesma espécie tendem a influenciar-se mais directamente
entre si e isto por muitos motivos, um dos quais é que metade da população é
constituída por potenciais parceiros sexuais, ou por pais potencialmente muito
trabalhadores pela prole e exploráveis e, por outro lado, sendo membros da
mesma espécie são muito semelhantes entre si e como máqui nas
de preservar genes, no mesmo tipo de ambiente e com o mesmo tipo de vida, são
competidores especialmente directos perante todo e qualquer recurso necessário
à vida.
Por exemplo, para um melro, uma
toupeira poderá ser um competidor mas não tão importante como é outro melro e
isto porque, melro e toupeira só competem entre si por minhocas mas dois melros
competem por minhocas e por tudo o mais e inclusivamente, se forem do mesmo
sexo, ainda competem pelo parceiro sexual, numa lógica que para beneficiar os
seus genes o melhor será prejudicar o outro macho com que está a competir
podendo ir ao ponto de assassinar as máqui nas
suas rivais.
No entanto, na natureza, embora
ocorram casos de assassínio e canibalismo essa não é a regra como ingenuamente
se poderia supor da Teoria do Gene Egoísta.
Konrad Lorenz, Considerado o “pai” da
moderna etologia, Prémio Nobel de Fisiologia em 1973, no seu livro On
Aggresson, chama a atenção para a natureza contida e cavalheiresca da luta
entre animais como se fossem torneios sujeitos a regras como na esgrima ou no
box.
Dizia ele que os animais lutam com
luvas e lâminas rombas em que a ameaça e o bluff substituem as vias de facto,
quase sempre fatais. -Vemos isto a todo o momento nos documentários da natureza com animais.
Os vencedores reconhecem os gestos de
rendição e afastam-se sem desferirem o golpe de misericórdia.
Todos nós já vimos comportamentos
deste género, senão pessoalmente pelo menos em documentários e portanto a
Teoria do Gene Egoísta deve enfrentar a tarefa difícil de a explicar.
É que uma agressividade sem reservas
tem custos para além dos óbvios, em tempo e energia.
Suponhamos, por exemplo, que B e C
são ambos meus rivais e que eu encontro acidentalmente B. Poder-se-ia pensar
que seria sensato da minha parte, que sou um indivíduo egoísta, tentar matá-lo.
Mas vejamos com mais atenção:
- C, é tanto meu rival como o é de B
e, portanto, se eu matar B estou, potencialmente, a beneficiar C porque estou a
eliminar um dos seus rivais.
- Se eu deixar B viver ele poderá
competir e lutar com C e dessa forma beneficiar-me indirectamente.
A moral deste exemplo simples é de
que não existe nenhuma vantagem óbvia em matar indiscriminadamente os rivais.
Num sistema grande e complexo de
rivalidades a eliminação de um rival não trás, necessariamente, qualquer
vantagem porque outros rivais poderão beneficiar mais com a sua morte do que o
próprio animal que o eliminou.
Veja-se, por exemplo, o que já
aconteceu com a eliminação de pragas na agricultura em que após a exterminação
de uma praga se percebeu que isso beneficiou o aparecimento de outra mais
perigosa que a anterior e acabamos por ficar pior.
A decisão de lutar, ou não, deveria
ser precedida de um cálculo complexo, e inconsciente, do tipo custo-benefício.
Maynard Smith, um eminente biólogo
evolucionista da sua geração, falecido em 2004, introduziu o conceito de
“estratégia evolutivamente estável”, EEE, que é definida como uma estratégia
que, quando adopt ada pela maioria
dos indivíduos de uma população, não pode ser superada por uma estratégia
alternativa.
Por outras palavras, a melhor
estratégia para um indivíduo depende daqui lo
que a maioria da população a que pertence fizer.
O exemplo de uma estratégia como política
de comportamento pré-programada poderá ser esta:
«Ataque o oponente; se ele fugir,
persiga-o; se ele retaliar, fuja».
Como o resto da população consiste em
indivíduos que tentam maximizar o seu próprio sucesso, a única estratégia que
persistirá será aquela que, uma vez desenvolvida, não possa ser superada pela
de nenhum indivíduo divergente.
Quando acontecem alterações
substanciais do meio poderá haver um período de instabilidade evolutiva,
inclusive com alterações na população mas, quando uma nova EEE, “estratégia
evolutivamente estável”, for atingida ela fixar-se-á e a selecção penalizará os
que se afastarem dela.
(Richard Dawkins)
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