Dez dias, apenas dez dias. Parecem não ser nada no conjunto dos 365 que a ano tem mas se eles forem passados no Algarve, de férias, ao fim de dois anos sem sair de casa, então, esses dez dias têm o efeito mágico de fazer o tempo andar para trás no corpo e no espírito.
Voltei
aos mergulhos na piscina com a minha neta que tem agora 9 anos. Eu faço do
golfinho e ela sobe para as minhas costas e atravessamo-la em imersão como
sempre fizemos quando ela era mais novinha.
A
idade deixou de contar, esqueci-me dela, os 76 anos desapareceram, apenas um
mudo agradecimento à vida.
Lá
fora, no mundo longe das férias, está tudo cada vez mais turbulento de tal modo
que o planeta se atrasou 1,75 segundos no seu movimento de rotação com a
dificuldade de entender o comportamento da sua espécie dominante que não pára
de o surpreender.
Tsipras
responde às negociações das propostas com a troyka com um Referendo à população
grega e logo de seguida pretende continuar a negociar.
Merkel,
que nestas coisas é muito rigorosa, diz que não haverá retoma de negociações
antes do Referendo mas Hollande, que é francês e não prima tanto pelo rigor, afirmou que tem de haver acordo antes de Referendo...
No
fundo, bem vistas as coisas, estas conversações não passam de conversas da
treta porque está tudo errado desde o princípio com a Grécia... e não só, excepção
feita à Alemanha a quem as coisas têm até corrido maravilhosamente.
Errado
desde a construção como Ianis Varoufakis tem dito e repetido, este tipo de
situação não pode ser resolvido com cortes e mais cortes nas pensões que estão
a pagamento e que, neste momento, lá como cá, funcionam como uma espécie de
almofada social, de avós para filhos e netos dado o nível de desemprego.
Os
gregos funcionam muito mal como sociedade organizada, desde a cobrança dos
impostos, economia paralela, corrupção, serviços públicos sobredimensionados,
excesso de subsídios: de Natal, Páscoa e de Férias, e Varoufakis sabe isso
perfeitamente mas também sabe que a austeridade cega retirando poder de compra
provoca miséria, e afecta a economia que já perdeu um quarto da sua produção.
Investimento
e reformas sérias são indispensáveis mas os credores parecem estar apenas
preocupados em obter a cobrança das dívidas e as instituições europeias comportam-se
como os seus grandes representantes.
Ter
uma moeda comum entre economias com níveis de competitividade tão diferentes não
pode dar bom resultado e qualquer pessoa percebe isso menos Merkel e Shaueble
porque lhes convem.
Eu
aprendi em 1961 com o meu Prof. de Economia, Alfredo de Sousa, precocemente desaparecido, que a moeda
é o espelho da economia.
Pergunta-se: - De que economia? – Da grega? – Da portuguesa? – Da alemã?
Pergunta-se: - De que economia? – Da grega? – Da portuguesa? – Da alemã?
Adiante...
Hoje foi o dia de aniversário do meu clube, o Sporting Clube de Portugal e há uma boa razão para o Presidente Bruno de Carvalho se fazer, mais uma vez, consagrar em pleno relvado como ele tanto gosta, apresentando o treinador odiado do rival Benfica da época anterior com o “limpinho, limpinho”, lembram-se (?) Jorge Jesus.
Que afinal já nasceu do Sporting, jogou no Sporting e chorou de comoção ao ser apresentado recordando esses tempos onde já fervilhava o grande treinador que haveria de ser que não grande jogador que nunca foi.
O
Marco Silva, treinador, continua ainda em litígio com Bruno de Carvalho mas
Jorge Jesus para quem o “fair play” é uma treta (palavras dele) pouco se
incomodou com a situação do seu colega e treinador do Sporting.
Com
estes senhores o futebol é cada vez mais isto: a procura da vitória sem olhar a
meios, sem princípios nem respeito, apenas a paixão das claques nas mãos de
marginais e alienados que não pensam e reagem ao sabor do irracional como
reconheceu o “mê Doutor” Eduardo Barroso, especialista mundial em transplantações
de fígado mas que admite, com a sinceridade própria das pessoas estruturalmente
honestas, que aqui lo da paixão clubística
é uma irracionalidade...
Sábado,
4 de Julho
Uma vez que Merkel e Shaueble não vão mudar a sua política como também não vão deixar de mandar na Europa, resta à Grécia responder Não no próximo Referendo e regressar ao dracma.
No
entanto, não é isso que irá acontecer. O Sim à continuação das negociações e à
permanência da Grécia na zona euro vai vencer e tudo irá continuar com Sirysa dentro ou fora do governo, com mais dinheiro para os bancos gregos e a
sociedade grega repartida entre os que disseram Sim e Não.
Com
Tsipras os gregos têm vivido um período de grande acalmia popular naquela
expectativa ilusória de que ele e Varoufakis iriam conseguir vergar a Troyka, Bruxelas
e Berlim.
As
tiradas corajosas de um e de outro, à mesa das negociações, eram música
celestial aos ouvidos dos gregos e faziam as delícias dos comentadores da política.
A
partir de 2ª Fª tudo será diferente e o desfecho é imprevisível mas muito provavelmente
iremos continuar a “empurrar para a frente com a barriga” que é a única forma
de nada de substancial mudar, pelo menos por agora.
Numa
conformação hipócrita, como é seu hábito, o Presidente Cavaco diz que se um
sair ficarão os restantes 18 sem que daí venha grande mal ao mundo nesta
paz romana, perdão, germânica que nos
protege dos loucos de esquerda que nem precisam de ser revolucionários.
A
direita dos interesses e do dinheiro está instalada na Europa e é bom que os
europeus percebam que só pelo seu voto democrático nas eleições dos respectivos
países poderão fazer evoluir a situação de uma forma ordeira e pacífica a
começar, para nós, aqui em Portugal,
lá para Outubro.
5 de Julho, à noite
Reconheço que a resposta ao referendo na Grécia saiu completamente fora das minhas previsões.
Não só o Sim, como eu esperava, não ganhou como ainda por cima sofreu uma pesada derrota e eu tenho que ajustar o meu pensamento a este resultado que o mesmo é dizer tentar compreender o que pode ele trazer de bom ou de mau para os gregos.
O
primeiro pensamento que me vem à cabeça é que a maioria dos gregos perdeu a confiança
na Europa e na solidariedade das instituições europeias.
Mais
que o medo o que eles perderam foi a esperança e, por isso, estão-se
nas tintas.
De
tudo o que ficou dito percebemos que os gregos debatem-se com alguns equívocos nas
suas cabeças e o primeiro deles é de que a vitória do Não, lhes vai
diminuir a austeridade ou conferir mais vantagens nas negociações com as autoridades de
Bruxelas, do FMI ou os alemães.
Pessoalmente,
a vitória do Não, assim expressiva, vai levantar ainda mais dificuldades a tal
ponto que, a breve prazo, tudo se encaminhará para uma negociação da saída da Grécia
da zona euro e o regresso ao dracma.
Entregue
a si própria, à sua moeda, e governada por Tsipras a Grécia será livre para
fazer as reformas que entende dever fazer e sem as quais, com dracma ou com o
euro, não irá a parte nenhuma.
Por
outro lado, com uma moeda fraca adqui re
competitividade e às dificuldades em comprar contrapôr-se-ão as facilidades em
vender e a economia terá oportunidade de voltar a crescer a muito melhor ritmo bem como o emprego e no médio ou longo prazo a Grécia poderá ter uma situação bastante melhor e
mostrar aos restantes países europeus que afinal havia alternativa.
Tsipras será a chave para a situação que aí vem.
Inteligência e firmeza especialmente com os seus próprios concidadãos serão fundamentais.
6 de Julho, de manhã
Eu tive um sonho. Adormeci sobre o efeito das imagens vindas da Grécia em que o povo festejava na rua cantando e dançando ao som da música do Zorba.
Nesse sonho, os europeus, pessoas anónimas, acorriam à Grécia em passeio, de férias, numa deslocação em massa contribuindo com os seus euros para ajudar os bancos gregos a pagar as pensões e a permitir o levantamento do pouco dinheiro que lá têm, numa lição de solidariedade para com todos os burocratas, financeiros e grandes credores deste mundo.
Eu disse que tive um sonho...
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