(Domingos Amaral)
Episódio Nº 33
Meu pai e meu tio ordenaram um apressado regresso a Guimarães, onde encontramos um temeroso Paio Soares. Sempre vaidoso, aperaltado na sua dalmática verde, o alferes exclamou, esbaforido, que a rainha e o arcebispo estavam a caminho da cidade para a saquear!
Desde a ameaça com que Dona
Urraca o brindara em Astorga, no dia da morte do conde Henrique, que Paio
Soares a temia.
Dizia-se que sofria de
tenebrosos pesadelos, pois achava que ela o queria eliminar, depois de lhe
extrair a informação sobre o paradeiro da relíqui a.
Esse receio confundia-o e a
sua informação revelou-se errada: Dona Urraca mantinha-se em Lanhoso.
Aliás, um mensageiro enviado
secretamente por Fernão Peres de Trava impunha aos portucalenses que se
dirigissem a essa povoação, onde Dona Teresa se iria defender dos invasores.
A ordem era inequívoca, mas,
temeroso, o antigo alferes considerou-a imprudente.
- Somos muito menos que os
leoneses, castelhanos e galegos, seremos dizimados facilmente – considerou Paio
Soares.
O senhor da Maia batalhava
contra os mouros em Coimbra, Santarém e Sintra, e tinha inegável experiencia de
combate. Além disso, conhecia bem o terreno à volta de Lanhoso, rodeados de
vales propícios a emboscadas.
Assim, escondeu o seu
profundo medo em conselhos prudentes.
Egas e Ermígio Moniz
concordaram com ele, e decidiram aguardar por novidades, mas logo Afonso
Henriques, apesar dos seus onze anos, se empertigou e protestou contra aquela
timidez portucalense.
- Minhas mãe será cercada, não
a podemos deixar sozinha!
Os seus percetores
compreenderam a preocupação, mas Paio Soares revelou-se intransigente; jamais
colocaria as suas tropas em risco nos arrabaldes de Lanhoso!
Porém, e por mais veementes
que fossem os seus argumentos, não convenceram o jovem príncipe. Enervado, o
rico homem da Maia amuou e declarou que, se não seguiam os seus conselhos, não
valia a pena perder tempo.
Na verdade, o que ele tinha
era um medo fantasmagórico de Dona Urraca, e por isso resolveu afastar-se, mais
uma vez, da sua Maia.
Exaltado, saiu pela porta da
torre de menagem e gritou:
- Ramiro, preparai o meu cavalo!
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