num desenho...
A história conta-se rápido, como se costuma dizer, em duas palavras:
- No princípio do Sec. XVI, o Papa Julius II
encomendou a Bramante, arqui tecto
renascentista, o projecto da Basílica de S. Pedro, a que nós chamamos o desenho.
Para pagar
esta obra, perfeitamente monumental, que eu tive oportunidade de visitar e
admirar estupefacto pela sua grandiosidade e beleza, por largo período de tempo
porque não havia nenhuma cerimónia a decorrer, os Papas que se seguiram,
especialmente Leão X, resolveram cobrar dinheiro à cristandade recorrendo a
todos os expedientes dos quais, as indulgências, terão sido os que mais frutos
renderam.
Johann
Tetzel, padre dominicano, a mando de Leão X, foi o campeão da angariação de
fundos por terras do Norte.
Dizia ele
aos fiéis como justificação do peditório:
- “Mal uma
moeda cai no cofre logo uma alma é libertada do purgatório”
Mas o
abuso e o descaramento foram demasiado longe e rebentaram tumultos. Como
resultado, veio a Reforma, Lutero e Calvino, e rebentaram-se estátuas, frescos,
quadros e imagens, um pouco por todo o Norte da Europa, Genebra, Zurique,
Copenhaga, Ruen, Flandres, Escócia e Alemanha.
A Europa
nunca mais foi a mesma: de um lado, havia a mania da ordem, disciplina, da
condenação pela adoração de ícones religiosos; do outro, era a bandalheira, o
vinho, a sesta e a idolatria.
Uma nova
ordem europeia totalmente dedicada à obediência, ao cumprimento da norma e à
adoração de abstracções, que tanto podem ser Mercados Financeiros, ou uma nova
ordem imposta por radicais islâmicos, violentos iconoclastas que querem avançar
pela Europa vindos de outro crescente fértil, hoje crescente de miséria e
intolerância.
Também
esses bárbaros são perigosos iconoclastas, também eles adoram um só deus e
fazem-no sem imagens, sem estátuas, sem representação.
Adoram
apenas a abstracção que parece estar ligada à violência e intolerância.
Afinal,
aquela nossa herança oriunda de gregos e romanos, do culto dos símbolos e
imagens não é mais que um verdadeiro politeísmo que nos aproxima da variedade
da natureza e que nós, os do sul, saudavelmente, nunca abandonámos.
O perigo
nunca foi acreditar e adorar deuses que fazem estátuas, o perigo é acreditar e
adorar abstracções.
... E tudo
isto se veio a perceber, ao longo dos tempos, na sequência de um desenho
encomendado a um arqui tecto pelo
Papa Julius II, no princípio do Sec. XVI...
A
história, bem analisada, ensina-nos muita coisa.
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