Domingo
(Na minha cidade de Santarém em 27/9/15)
O povo
é uma personagem abstracta que tendemos a julgar com algum romantismo,
analisando os resultados eleitorais como se tratasse de um cidadão ou de um
grupo de cidadãos que se reúne para decidir o futuro do país.
Os resultados
eleitorais não correspondem aos nossos votos depois de somados, o nosso voto
não conta, é diluído nessa personagem mítica que é o povo.
O povo
não se engana, se as eleições resultarem numa maioria absoluta é porque o povo
quer que seja um chefe a decidir pois confia no chefe e este, como Cavaco
Silva, tem direito a usar esse estatuto para a posteridade. Se sucede o
contrário o povo quer diálogo, não se pronuncia sobe o quê, quer apenas
consenso.
Quando
um governo se revela incompetente ou se governa à revelia do seu programa
eleitoral e as coisas correm mal nas eleições seguintes, alguém se apressa a
concluir que o povo não se deixou enganar, mas se sucedeu o inverso ninguém
conclui que o povo gostou de ser enganado.
Na
noite das eleições teremos dezenas de comentadores a fazer um enorme esforço
intelectual para interpretar a vontade do povo, a questionar-se porque razão o
povo decidiu de uma determinada forma, porque ignorou este partido e fez
crescer aquele.
Vamos saber se gostou da mijadela do Gato Fedorento na cara do
Marinho, se gostou da barriga da Joana ou se teria preferido ver as mamas, se a
cor da pele do Costa influenciou os resultados ou se as fotografias da esposa do
Passos o ajudaram.
O povo
é uma personagem global de inteligência mediana, que mantém uma relação muito
íntima com os jornalistas e sondageiros e que confiam em Cavaco Silva e na sua
esposa para o representarem. O povo é possuidor de uma grande sabedoria e as
suas decisões eleitorais não são questionáveis.
Por isso, e ainda sem sabermos o
que vai resultar nas próximas eleições já podemos pensar sobre o que é que o
povo está pensando.
Se a
direita ganhar é porque o povo gostou de piores serviços de saúde, de ser
enganado com um falso programa eleitoral, ficou com pena do Constitucional lhe
ter devolvido os cortes das pensões, gostou de ver os filhos partirem para a
emigração. Neste caso o povo sanciona tudo o que Passos venha a decidir ao
contrário do que prometeu e apoiará o desrespeito da Constituição, Passos terá
uma legitimidade popular para cortar, mentir e mandar emigrar.
O
Jumento
PS - Se a direita ganhar poderá, igualmente, dizer-se que o povo está envelhecido, desmemoriado e fortemente ameaçado relativamente ao pouco que tem ou que lhe dão. O medo e o desinteresse é uma reacção natural de quem está no "fim da linha".
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