(Domingos Amaral)
Episódio Nº 137
De súbito, distinguiu ao
longe nova nuvem de poeira. Vinha mais alguém pela estrada, a galope, mas os
muçulmanos não o viram, pois uma pequena curva da estrada tapava-lhes a visão.
Mem percebeu que na barcaça
já haviam avistado Ramiro. Pela mesma razão que os mouros não o haviam visto,
também o filho de Paio Soares não os topara e mal fizesse a curva a galope ia
chocar com eles.
Então, Mem decidiu arriscar.
Colocou uma flecha no arco e duas entre os dentes. Depois, deu um salto para o
chão, surpreendendo os sarracenos.
Aos pulos disparou a
primeira flecha e depois rebolou para a direita, ajoelhou-se e disparou a
segunda.
Os seus movimentos rápidos
confundiram os adversários e um deles foi atingido. Mas os outros dois
dispararam e falharam, e foi isso que salvou Mem, pois no momento em que os
mouros não tinham flechas nos arcos, Ramiro apareceu nas costas deles.
Num instante, este
compreendeu que tinha dois inimigos entre ele e a barcaça, e atirou uma flecha
uma flecha que acertou nas costas do primeiro adversário.
O segundo ficou atarantado
e, quando se virou para trás levou com o arco de Ramiro na cara e caiu
desamparado. Ao tentar levantar-se foi trespassado por uma flecha de Mem.
Correram os dois para o rio,
chamando a barcaça. Passado o perigo o barqueiro voltou a aproximar-se da
margem, e Mem e Ramiro embarcaram, aproveitando para levar também os cavalos
dos sarracenos.
Durante a travessia do
Mondego, Ramiro relatou a Gondomar o que se passara em Soure: os coelhos
desaparecidos, as suas desconfianças e depois o ataque dos mouros.
Infelizmente o Urso morrera,
o Santinho encontrava-se mal e o Peida Gordo estava ferido.
Olhando para Mem
acrescentou:
- São os homens de que haveis falado. Vi o
chefe deles, o tal Zhakaria.
Intrigado, o jovem almocreve
perguntou:
- Estava vestido de branco?
Ramiro diosse que não.
Tinha o manto azul-escuro
dos almorávidas.
Surpreendido, Gondomar qui s saber porque perguntava Mem se o mouro vinha de
branco.
Então, o almocreve contou a
todos o que se passara muitos anos antes, na margem oposta do Mondego, quando
seu pai fora degolado à sua frente por um enorme guerreiro muçulmano vestido de
branco.
Sabia que esse homem
perigoso estava de volta e que só podia ser morto por um califa ou por um rei.
Desconfiado, Gondomar
perguntou-lhe:
- Quem vos revelou tal coisa?
Mem alegou que o ouvira em
Santarém, mas Ramiro suspeitou que era mentira, embora não o tenha confrontado,
pois devia-lhe a vida.
Gondomar recordou então que,
na Terra Santa, ouvira ecos da seita de Alamut, onde um velho imã treinava
jovens na arte da guerra e os usava para se infiltrarem na corte dos sultões
inimigos.
Depois de matarem os seus
alvos, esses homens matavam-se também e nunca eram presos. A lenda dizia que se
vestiam sempre com uma túnica branca, usando apenas um cinto vermelho, e as
pessoas haviam começado a chamar-lhes haschischins ou assassins.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home