(Domingos Amaral)
Episódio Nº 223
E Fernão Peres? – perguntei eu.
O príncipe respondeu:
- Deixemo-lo mais umas
semanas a ferros e de seguida será enviado para a sua terra de onde nunca devia
ter saído.
Houve um aplauso geral e
todos sorriram. Peres Cativo, manifestou-se qui eto
e calado, mas era visível a sua satisfação com a humilhante provação por que
passava seu meio irmão, o Trava.
- E quem serão os novos
governadores de Coimbra e de Viseu, perguntou então meu tio Ermígio.
O príncipe, agradado com a
inversão do ambiente, disse:
- Podeis ajudar-me na escolha pois déreis, a
partir de hoje o meu mordomo – mor.
Meu pai abraçou o irmão
aprovando aquela merecida honra.
Astuto, Afonso Henriques logo
acrescentou que também estava nomeado um jovem, com grandes qualidades de guerreiro.
Depois do que ontem se vira,
o príncipe anunciou que não via melhor escolha do que eu. Fiquei espantado, foi
uma verdadeira urpresa!
Eu sabia que combatera bem e
que era o melhor com a espada, mas nuca me passara pela cabeça ser alferes.
Meu pai, inchado de orgulho,
abraçou-me fortemente. Contudo, passados estes momentos de júbilo, logo se
recordou da divergência anterior e não se calou.
Príncipe, apesar do meu
coração estar repleto de gratidão, a minha palavra tem de ser honrada. Vinde
comigo a Toledo!
Afonso Henriques, desiludido
por não o ter conseguido convencer, limitou-se a abanar a cabeça, e então meu
pai declarou:
- Nesse caso, partirei amanhã mesmo, com minha
mulher e meus filhos, para colocarmos nas mãos de Afonso VII as nossas vidas
como penhor da vossa promessa não cumprida.
Correu um rumor alarmado na
sala, que cresceu quandio meu tio Ermígio acrescentou:
- Irei convosco também e tentaremos acalmar o
rei.
De uma assentada, o
príncipe, via partir os recém nomeados mordomo – mor e alferes, bem como o seu
percept or e bom conselheiro.
Sorumbático deu por
terminado o encontro e Raimunda foi a única que o seguiu aos seus aposentos. Como
no passado, julgamos que ela seria um bálsamo para sarar as feridas no orgulho
do nosso príncipe mas todos nos equi vocámos.
Quando a viu surgir, o meu
melhor amigo rejeitou a sua companhia.
Durante mais de três horas
manteve-se no quarto sozinho e por lá ceou. Depois dirigiu-se aos aposentos
onde dormiam as suas irmãs mais novas, à porta do qual apareceu Elvira.
Minhas irmãs já dormem? –
perguntou Afonso Henriques.
A descendente de normandos
confirmou-o.
- Que desejais? - perguntou.
O príncipe responde:
- Falar convosco.
Com um sorriso agradado,
Elvira deixou-o entrar. Depois perguntou:
- E Chamoa?
O príncipe contou que a
rapariga partira para a Maia e Elvira comentou:
- É natural. Deseja ficar junto do marido até
ele morrer. Tereis de esperar. Ela ama-vos.
Afonso Henriques olhou-a
demoradamente, apreciando aquela mulher alta e forte.
Elvira vestia apenas uma
túnica e viam-se os contornos viçosos do seu corpo: umas pernas longas, umas
coxas firmes, uma peideira saliente, uns braços musculados, uns peitos
volumosos.
Não sendo bonita, era
vistosa, os seus cabelos dourados e longos davam-lhe uma aura encantadora.
E vós, tendes amigo? –
perguntou-lhe o príncipe.
Elvira riu-se, divertida.
- Vejo que sois ciumento.
Descansai, não tenho amigos.
Ele insistiu nos
esclarecimentos:
- Gonçalo de Sousa não vos agrada?
Elvira, benzeu-se,
exagerando o repúdio:
- Cruzes, nem pensar!
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