sábado, abril 02, 2016

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)


Episódio Nº 230




















Dez metros à frente, Gonçalo perguntou ao príncipe o que iria acontecer às três mouras, acrescentando:

 - Para o Mosteiro não podem ir e são mal empregadas em Tui!

Então, Afonso Henriques deu-lhe autorização para as ir buscar, enquanto comentava com o amigo:

 - Odeio mosteiros de monjas, nunca os irei ajudar!



Foi já em Guimarães que o meu melhor amigo desgostoso, decidiu partir para Coimbra o mais depressa possível. Meu tio Ermígio e meu pai ficariam no Minho. Elvira manter-se-ia com sua mãe e suas irmãs em Lanhoso, e ele decidiu que apenas Gonçalo, Peres Cativo e eu o iríamos acompanhar.

Quero ir à festa dos Templários – declarou.

A Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo ia fazer um novo juramento, numa cerimónia a decorrer na Sé de Coimbra, e nós queríamos estar presentes.

Quando Gonçalo lhe perguntou se podíamos levar as mouras para Sul e o príncipe autorizo0u, as três ficaram exultantes por regressarem à cidade que o Mondego banhava, apesar de terem pena de ses separarem de chamoa, de quem eram muito amigas.

Sobretudo Zaida que gostava genuinamente da rapariga galega, e para quem fora incompreensível aquela decisão súbita de se enfiar no mosteiro.

E ainda mais inaceitável para mim, para Zaida e para todas nós fora a omissão de Chamoa, quase uma mentira.

Ela dissera que o marido emudecera depois dos golpes do príncipe, o que era verdade, mas omitira que Paio Soares, na véspera da batalha de São Mamede, lhe falara sobre a relíquia.

Porém, ofendida e magoada com o príncipe, não só Chamoa se fechou, como não lhe referiu essa derradeira conversa com o marido, e mais uma vez o segredo da relíquia permaneceu inalcançável.



Coimbra, Julho de 1129



Nove dias mais tarde, num Domingo deveras quente, decorreu durante a manhã uma festa religiosa em frente à Sé de Coimbra.

Muitos foram os populares que vieram assistir à investidura de vinte e cinco novos monges guerreiros daquela nobre Ordem Religiosa, que se instalara anos ante em Soure, e cujo nome agora mudava para Ordem do Templo de Salomão.

Um dos que acorrera à cidade foi o almocreve Mem que mais de um ano depois se iria reencontrar com as suas amigas muito amadas, Zulmira e Zaida.

Enquanto elas tinham permanecido em Tui com Chamoa, ele vivera saudoso, viajando sem encontrar substitutas à altura, e só se encheu de júbilo quando as soube de volta.

Infelizmente, verificou que tal como Dona Teresa no passado também Afonso Henriques as mantinha debaixo de olho, guardadas por Gonçalo de Sousa.

Mem apenas conversara com as mouras uma vez, na véspera da festa, tendo confirmado que Zulmira e Zaida estavam felizes por vê-o e que Fátima ainda alimentava a forte fantasia de ser resgatada por Abu Zakaria.

Tal quimera parecia cada vez mais possível. Embora Mem não tivesse reencontrado o Cordovês, por receio que Abu o considerasse responsável pelo fiasco das cavernas, soubera que ele inflamara a cidade de Santarém ao ponto de provocar a queda do antigo governador.

A população local adorava aqueles destemido guerreiro que queria salvar a sua amada, prisioneira dos cristãos, e organizara uma revolta para libertar Abu da prisão.

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