Como se vê pela fotografia estou muito bem... |
A Minha Ida
à Médica
Tudo começa com uma máqui na que a um simples toque vomita uma senha com
um número e uma letra: A 135
A sala tem a disposição de uma plateia.
Cadeiras de um lado e de outro, corredor ao meio, e em frente um balcão a toda
a largura com nove guichés atrás dos quais funcionários esperam pelos doentes
para lhes marcarem as consultas nas várias especialidades que ali funcionam, e
cobrar a taxa moderadora, se for esse o caso.
Por cima, na parede, um ecrã de televisão
de razoáveis dimensões, que concentra as atenções porque é nele que as letras e
números das senhas vomitadas pela maqui neta,
se vão movimentando, precedidos de avisos sonoros para chamarem os doentes, com
a indicação do número do gabinete onde se devem dirigir.
Estou preso daquele ecrã, a qualquer
momento pode surgir o A 135 pelo que não dá para ler o meu jornal, refúgio
nas salas de espera.
Ao fim de hora e meia após o horário em
que a consulta deveria ter tido lugar, confirmei que há mais mulheres que
homens e mais velhos que novos a procurarem médico... tudo esperado, sem
surpresas.
Respeitando o lugar, as pessoas, as poucas
que falavam, faziam-no em surdina, e ao telemóvel as conversas são curtas e
telegráficas, tudo muito contido, silencioso e disciplinado, sem perguntas
nem desabafos a revelarem experiência na frequência daqueles lugares.
Os funcionários que atendiam os doentes ao
guiché, à medida que o tempo foi escorrendo foram desaparecendo dos seus
lugares. O movimento já era muito menor e a fome para o almoço apertava.
Num acesso de indisciplina levantei-me e
fui à procura do gabinete da minha Drª.
Em boa hora porque quando cheguei
estava ela a acompanhar à porta os últimos doentes atendidos, um casal de
velhotes.
-
Desculpe a demora mas o sistema foi a baixo - Como está, Sr. Matos?
- Bem, Drª, não tenho queixas nem dores
que é como eu gosto quando a visito.
- Fiz há dois dias 77 anos... os meus parabéns, interrompeu ela - Muito obrigado, agradeci.
- Fiz há dois dias 77 anos... os meus parabéns, interrompeu ela - Muito obrigado, agradeci.
Trago-lhe aqui
as minhas últimas análises feitas recentemente, e passei-lhe o envelope para a
mão.
Momentos de silêncio e alguns gestos de
cabeça de aprovação, à medida que o seu olhar baixava na leitura dos resultados.
- Muito bem! - Vamos para a marquesa, levante a camisa e deite-se.
As suas mãos começaram a apalpar o meu abdómen,
na zona do fígado, dos rins...
- O Sr. Matos desculpe mas eu tenho as
mãos frias...
- Não tem nenhuma importância! - disse eu,
com vontade de acrescentar: - são já tão poucos os médicos que nos apalpam, mas contive-me.
- Agora, sente-se para o auscultar ... - Muito bem!
- Vamos para a balança! – Perdeu 3 kg desde a última vez.
- O Sr. Matos, está muito bom para os seus
77 anos!
- Muito obrigado, Drª. - É consolador
ouvir essas palavras vindas da sua boca.
- Vemo-nos daqui
a um ano, a 13 de Março.
- Cá estarei, Drª. Até lá passe muito bem.
posted by Joaquim Paula de Matos at 4:00 da tarde
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