sexta-feira, abril 22, 2016

Neste caso, Cartão de Cidadã
CARTÃO DE 


CIDADÃO


















Ontem fui renovar o meu Cartão de Cidadão.

Aqui, em Santarém, as coisas até nem correram mal. Demorei apenas cerca de meia-hora, porque, renovar é o mesmo que tirar de novo, embora seja tudo igual com excepção da nossa pessoa que é mais velha uns anos. O facto de já ter sido Cidadão não representa nenhuma vantagem, começa tudo do zero novamente.

Esta mania, muito nossa, de massacrar o cidadão com burocracia, filas de espera, com sorte, salas de espera, senhas com números e letras e aí estamos nós com o papelinho na mão a olhar para um ecrã... à espera!

Mas renovar o Cartão de Cidadão, por quê? – Há alguma dúvida que eu, aos 77 anos, não continue a ser Cidadão deste país? - Ainda se eles me renovassem a mim!!!...

Eu não gosto de discutir estas coisas da burocracia porque há nela, quase sempre, razões escondidas que o cidadão vulgar não alcança.

Durante toda a minha vida fui um burocrata na qualidade de funcionário público, e, à laia de pedido de desculpas, dizia por vezes às pessoas, que o mal não estava na burocracia... que sem ela a sociedade seria um caos, o problema era a «burocracite» que a transformava num tormento, tal como o apêndice que enquanto tal desempenha o seu papel e quando doente transforma-se numa apendicite e pode levar à morte com outras complicações.

Mas o que se discute agora, não é a inútil (?) renovação do Cartão de Cidadão mas sim a sua designação:

 - Deverá chamar-se Cartão de Cidadão ou Cartão de Cidadania?

Eu diria que isso é apenas uma questão de semântica, de palavras... nada importante. Mas isso sou eu, ingénuo e bem intencionado que é como quem diz: não vejo mal nas coisas. Se tivesse nascido com o nome de Cartão de Cidadania, muito bem, nasceu com o nome de Cartão de Cidadão, muito bem na mesma.

Fernanda Câncio, jornalista que muito aprecio das crónicas que escreve no DN, tem uma opinião mais refinada do que a minha e diz: “dobre a língua”, diga Cartão de Cidadania.

Quem, como eu, nasceu em 39, sabe bem como as coisas eram então, diferentes, com graves desiguldades entre mulheres e homens, hoje desaparecidas das leis, que não totalmente dos usos e costumes da nossa sociedade dado o enraizado machismo.

Estou à vontade. Ao longo de quase toda a minha vida trabalhei com mulheres e sempre lhes “puxei” pelo o orgulho da condição feminina.

O uso do género masculino na expressão «Cartão de Cidadão» não será ingénuo, desligado desse machismo ancestral do qual é uma involuntária reminiscência.

Mas a língua deve acompanhar o evoluir da sociedade e o Cartão de Cidadão deve dar lugar ao Cartão de Cidadania.

Vá, dobre a língua, como diz a Fernanda Câncio!


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