quarta-feira, maio 11, 2016

Assim Nasceu Portugal

A Vitória do Imperador

A Profecia da Normanda






Episódio Nº 4  











- Traidora! Rugiu Afonso Henriques – Chifrou-me mais uma vez.

Intempestivo e precipitado, como sempre foi, o príncipe de Portugal fora já minado pela doença da desconfiança e o seu intenso orgulho começava a cegá-lo.

Embora a rapariga não o tivesse traído, pois em Setembro eles ainda não estavam juntos, aquela desagradável descoberta era sentida como uma profunda infidelidade e, sem perder tempo, o furioso príncipe entrou no quarto aos gritos.

Chamoa encontrava-se sentada na cama, em cima das desordenadas mantas, das cobertas e das almocelas, ainda amarrotadas pela noite quente do casal.

Mesmo no meio de tanta agitação, espantei-me com a inigualável beleza da minha cunhada. Com os seus ondulantes cabelos cor de mel, o nariz pequeno e bem desenhado, os cristalinos olhos verdes cercados por longas pestanas, as incontáveis sardas que lhe cobriam o rosto e o nascer do peito, o busto frondoso que se adivinhava por debaixo da camisa de dormir, Chamoa estava esplendorosamente bela, apesar do choro que já a consumia, agarrada a Maria.

Sou uma tola, sou uma tol!

Mas nem a sua visível aflição comoveu Afonso Henriques, que numa berraria ressentida, desatou a acusá-la.

- Como fui acreditar em vós? Mais uma vez, haveis-me traído!

A rapariga galega, as lágrimas a descerem-lhe pela cara, nem pensou em negar as evidências e apenas implorou:

 - Desculpai-me Afonso, meu amor.

Ele interrompeu-a de pronto, vociferando:

 - Não digais isso, víbora desvairada! Carregais uma criança de outro homem no ventre! Haveis vindo a Guimarães para me enganar!

Desesperada, Chamoa gemeu:

- Meu amado, perdoai-me! Foi Mem Tougues quem me desviou! Foi um erro, uma só vez!

Chamoa contou que o primo a visitara no Mosteiro de Vairão. Haviam ido passear pelos campos e ela bebera muito vinho galego. A meio da tarde perdera o tino, aproveitando o primo para a possuir.

Com a voz entrecortada por soluços, a minha cunhada jurou que nunca desejara um filho de Tougues, aquela era uma terrível desgraça.

Meu príncipe, sois vós quem eu quero! Perdoai, por favor, a minha grave falha!

Com outro homem, talvez a beleza dela, o convulsivo choro ou os seus dilacerados apelos tivessem surtido efeito, mas Afonso Henriques era demasiado abrasivo para se conter.

- Jamais vos perdoarei. Ide-vos embora, não vos quero ver em Guimarães! Ide para Tui, para junto de quem vos emprenhou!

Em passada larga, avançou para a porta do quarto, mas Chamoa que era uma rapariga orgulhosa e lutadora, embora umas vezes uma infantil tola, indignou-se levantando-se da cama aos gritos:

 - Quem sois vós para me tratares assim, como se fosse um monstro? Não vos lembrais o que haveis feito a meu marido?

Em São Mamede, na batalha...                                            

Ao escutar a acusação que ela lançava, que sabíamos verdadeira, o príncipe parou, de costas voltadas para Chamoa. Maria e eu mantínhamo-nos em silêncio, sem saber o que dizer.

Sentindo que talvez o tivesse amansado a minha cunhada insistiu:


 - Perdoai-me Afonso como eu vos perdoei teres morto meu marido, Paio Soares. Por isso vim ter convosco. Se quiserdes desfaço-me desta criança que cresce no meu ventre! Faço-o por vós, meu amado. 

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