sábado, maio 07, 2016

Era assim a Península, em 1130.
A Vitória do 

Imperador


(Domingos Amaral)










Episódio Nº 1



                    










A Profecia da Normanda (1130 - 1131)








Guimarães, Novembro de 1130




O dia acabara de nascer e na lareira do quarto do Castelo de Guimarães crepitavam ainda as brasas quando Chamoa Gomes acordou, ligeiramente incomodada.

Uma sensação de alarme interior agitou-a mas rapidamente a afastou. O corpo quente de Afonso Henriques encontrava-se à sua esquerda, tudo estava bem.

Emocionada, Chamoa, aninhou-se no seu amado que ainda dormia. Haviam sido sete noites fogosas desde que chegara do Mosteiro de Vairão, donde fugira a cavalo, mas finalmente estavam juntos.

Amo-o tanto...

Fechou os olhos e tentou dormir de novo. Não se ouvia vivalma na torre de menagem, a não ser lá em baixo nas cozinhas do castelo, onde a padeira já cirandava junto do forno.

O cheiro do pão fresco chegava-lhe às narinas, mas não lhe deu fome, pelo contrário, estava enjoada. Revirou-se na cama tentando não acordar o príncipe de Portugal, enquanto o olhava demoradamente.

Tal como muitos outros portucalenses, ele adoptara os costumes de Bizâncio, apresentava uma barba e um cabelo longos, que quase o faziam bonito, e ela suspirou.

O meu gigante...

Tinham sofrido tanto... As permanentes desavenças só há uma semana se haviam extinguido. Chamoa deixara finalmente o mosteiro onde se fechara durante mais de um ano, Afonso Henriques perdoar-lhe as falhas e o reencontro dera-se em Guimarães, naquela cama onde celebraram, por fim, a consumação de um amor sempre tórrido, mas tanto tempo massacrado pelas determinações do orgulho e da política.

Só o perdão genuíno e a crença num futuro conjunto os podia unir. Ainda angustiada com o estranho pressentimento de que o podia perder de novo, abraçou-o mais, abraçou-o tanto que ele acordou, estremunhado.

O príncipe sorriu e ergueu o braço, passando-o sobre a sua cabeça, pousando-o por fim nas suas costas. Chamoa entrelaçou as suas pernas nas dele, entusiasmada. Queria-o sempre mais.

Amavam-se duas, três vezes por dia, para recuperar o tempo perdido.

Vinde para dentro de mim.

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