quinta-feira, junho 09, 2016

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)


Episódio Nº 28




















A sinistra mulher de negro sumira-se e, portanto, o Velho, limitara-se a fazer o seu trabalho secreto para o Trava, informando-o do que se passava na região.

Obviamente soubera com antecedência da operação galega às ruínas próximas do Nabão e, quando vira os corpos massacrados pela barbárie de Abu Zhakaria, sabia já como proceder.

As suas ordens eram claras: se a companhia de soldados galegos não atingisse os seus propósitos, o Velho deveria abandonar a Ordem e subir à Galiza.

Assim fizera, dissimulando aquela queda e despedindo-se dos colegas templários. Contudo, por diversas vezes, no decorrer daqueles anos, a sua longa missão parecera-lhe inútil, e só agora, já perto do fim, surgia uma oportunidade única.

Enquanto se aproximava da casa de Zaida, o Velho questionou-se mentalmente. No regaço da princesa vira o punhal de Paio Soares, uma bela arma, com uma pérola no topo, com a qual Afonso Henriques matara o assassin no casão do almocreve Mem.

Como se apoderara a princesa da célebre e desaparecida arma? Enquanto vigiava os movimentos dentro da casa dela, o Velho recordou-se do dia da morte de Zulmira.

Também ele entrara dentro daquele casão agrícola, onde vira a mulher já degolada, o assassin a vomitar golfadas de sangur, o almocreve no chão e as duas princesas chorando a morte da mãe.

Fora o Rato que tirara a lâmina da garganta do facínora, pousando-a num balde com água, para lavar o sangue, mas depois a arma eclipsara-se misteriosamente no meio daquela confusão.

Nas horas seguintes à tragédia, Ramiro questionara todos os presentes no local, mas nada descobrira. O autor do roubo não se confessara. Teria sido Zaida, a mais nova das princesas de Córdova, que num movimento rápido pegara na arma?

O Velho não sabia, mas, três anos depois, a verdade é que o punhal se encontrava na posse da princesa e mantinha-se deveras valioso. Que melhor presente podia ele levar ao Trava?

Certificando-se que a casa das princesas estava vazia, o Velho entrou pelas traseiras e começou a vasculhar. O punhal tinha de estar por ali.

Encontrou-o escondido numa arca, coberto por dezenas de alifafes, vestidos e túnicas. As suas mãos tremeram quando lhe pegou. Lá estava a pérola no topo, a lâmina afiada e a inscrição em latim, gravada no cabo.


Sem se preocupar em ocultar o assalto, o Velho deixou a casa desarrumada e saiu pelo mesmo sítio por onde entrara, com o produto do roubo escondido nas vestes.

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