(Domingos Amaral)
Episódio Nº 28
A sinistra mulher de negro sumira-se e,
portanto, o Velho, limitara-se a fazer o seu trabalho secreto para o Trava,
informando-o do que se passava na região.
Obviamente soubera com antecedência da
operação galega às ruínas próximas do Nabão e, quando vira os corpos
massacrados pela barbárie de Abu Zhakaria, sabia já como proceder.
As suas ordens eram claras: se a companhia
de soldados galegos não atingisse os seus propósitos, o Velho deveria abandonar
a Ordem e subir à Galiza.
Assim fizera, dissimulando aquela queda e
despedindo-se dos colegas templários. Contudo, por diversas vezes, no decorrer
daqueles anos, a sua longa missão parecera-lhe inútil, e só agora, já perto do
fim, surgia uma oportunidade única.
Enquanto se aproximava da casa de Zaida, o
Velho questionou-se mentalmente. No regaço da princesa vira o punhal de Paio
Soares, uma bela arma, com uma pérola no topo, com a qual Afonso Henriques
matara o assassin no casão do
almocreve Mem.
Como se apoderara a princesa da célebre e
desaparecida arma? Enquanto vigiava os movimentos dentro da casa dela, o Velho
recordou-se do dia da morte de Zulmira.
Também ele entrara dentro daquele casão
agrícola, onde vira a mulher já degolada, o
assassin a vomitar golfadas de sangur, o almocreve no chão e as duas
princesas chorando a morte da mãe.
Fora o Rato que tirara a lâmina da
garganta do facínora, pousando-a num balde com água, para lavar o sangue, mas
depois a arma eclipsara-se misteriosamente no meio daquela confusão.
Nas horas seguintes à tragédia, Ramiro
questionara todos os presentes no local, mas nada descobrira. O autor do roubo
não se confessara. Teria sido Zaida, a mais nova das princesas de Córdova, que
num movimento rápido pegara na arma?
O Velho não sabia, mas, três anos depois,
a verdade é que o punhal se encontrava na posse da princesa e mantinha-se
deveras valioso. Que melhor presente podia ele levar ao Trava?
Certificando-se que a casa das princesas
estava vazia, o Velho entrou pelas traseiras e começou a vasculhar. O punhal
tinha de estar por ali.
Encontrou-o escondido numa arca, coberto
por dezenas de alifafes, vestidos e túnicas. As suas mãos tremeram quando lhe
pegou. Lá estava a pérola no topo, a lâmina afiada e a inscrição em latim,
gravada no cabo.
Sem se preocupar em ocultar o assalto, o
Velho deixou a casa desarrumada e saiu pelo mesmo sítio por onde entrara, com o
produto do roubo escondido nas vestes.
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