segunda-feira, agosto 01, 2016

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 51




















Para aquele decidido menino, o essencial era informar Afonso Henriques das manigâncias do Trava e de Afonso VII. Não podiam deixar que os leoneses, castelhanos e galegos destruíssem o novo castelo dos portucalenses!

- Enviamos um pombo ao tio Lourenço Viegas - sugerira Pêro Pais.

Chamoa suspirara, desalentada. Da primeira vez que tentara semelhante estratégia fora descoberta pelo tio e agora a vigilância era apertada, tinha à perna um mostrengo leal ao Trava.

- Pêro, tendes de dormir – dissera por fim.

Na sua imaginação já fervivilhava a decisão de correr ao estábulo, montar um cavalo e partir à desfilada, rumo ao adorado príncipe.

Aconteça o que acontecer, amo-vos muito – dissera ao petiz.

Este, desconfiado, perguntou-lhe se ela ia fugir, mas Chamoa negou peremptória, ficando junto a ele até adormecê-lo. Agora, já a chegar às cavalariças, mortificava-se por ter mentido.

Desculpai-me, meu filho...

Um arrepio de medo percorreu-lhe a espinha ao escutar o chiar da porta do estábulo. Alguém podia acordar, se fizesse barulho. Lentamente avançou na direcção do seu cavalo. Foi quando o selava que voltou a estremecer, escutando a porta a ranger mais uma vez.

Tenho medo...

Susteve a respiração e deixou-se ficar quieta, concluindo que talvez fosse o vento a abanar a porta. Como nada mais ouviu pegou no cavalo pela rédea e obrigou-o a dar meia volta, mas nesse momento um vulto surgiu à sua frente e ela gritou, aterrada.

No escuro do estábulo, não conseguia ver mais do que os contornos de uma vaga silhueta masculina.

- Prendei o cavalo – ordenou uma voz áspera.

- Quem sois? – inquiriu Chamoa.

O homem deu um passo em frente e ela viu um rosto envelhecido, uns olhos concentrados, era o vigilante do Trava.

- Afastai-vos da minha frente - berrou – Ou mato-vos!

A intenção, um pouco tonta dadas as circunstâncias, levou o Velho a soltar uma risada, desprezando a falsa determinação dela.

- Com quê? – com as vossas mãos de passarinho?


Chamoa tremeu de nervosismo. Não estava armada, não via por ali nem sequer um pau ou uma enxada, nada com que atingir o desagradável servo do tio.

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