(Domingos Amaral)
Episódio Nº 73
Celmes, Abril de 1133
A fraqueza dos espiões portucalenses, praticamente inexistentes nessa época, ficou demonstrada de forma trágica no ataque a Celmes, totalmente imprevisto para nós.
Vigiada pelo Velho em
permanência, Chamoa foi incapaz de nos informar e assim, cinco mil galegos,
leoneses e castelhanos avançaram para Celmes em segredo comandados pelo próprio
rei de Leão, Afonso VII, primo direito de Afonso Henriques.
O mais importante monarca
cristão de Hispânia, cujos domínios iam do Atlântico aos Pirenéus, tinha no
antigo sogro, Afonso I de Aragão, o seu mais feroz inimigo.
Ambos desejavam ser
imperadores de Hispânia e só os invernos suspendiam os combates entre os
respectivos exércitos, que duravam há sete longos anos.
Por isso, Afonso VII, teve
finalmente tempo para se dedicar ao energético primo portucalense, que erguera
Celmes em plena Galiza.
Situada perto de Límia e a
norte do rio Minho, a nova fortificação que Gonçalo de Sousa liderava pretendia
demonstrar as aspirações galegas de Afonso Henriques.
O filho do conde Henrique e
de Dona Teresa, mantinha vivas as antigas pretensões dos pais, considerando que
eram seus vários condados a norte do rio Minho como Toronho, Celanova, Límia,
Astorga e Zamora.
Esta velha ambição dos
condes portucalenses nunca fora reconhecida pelos familiares leoneses. Nem pelo
falecido imperador, o avô Afonso VI, nem por Dona Urraca, que lhe sucedeu, nem
finalmente pelo filho desta, Afonso VII.
Para estes, o Condado
portucalense terminava no Minho e os territórios a norte do rio eram parte
essencial de uma Galiza indivisível, onde Afonso VII exigia reinar.
Construir Celmes nessa zona
era uma provocação e a hora da retaliação tinha por fim chegado. O cerco foi
rápido. Os cinco mil homens que Afonso VII trazia não encontraram réplica até
às muralhas de Celmes.
Os terrenos à volta da
fortificação encheram-se de tropas, tendas, máqui nas
de guerra e cavalos, e aos portucalenses foram apresentadas duas hipóteses: ou
a rendição imediata, abandonando o castelo, ou um combate desigual até à morte,
destino proposto aos qui nhentos
portucalenses ali estacionados, divididos em cavaleiros-vilões, escudeiros e
besteiro,
Na tenda do rei leonês
quando regressou a resposta, estranhou-se a ousadia dos sitiados que se julgou
absurda.
_ Gonçalo de Sousa assinou a
sua sentença de morte! - rugiu o Trava.
Há pelo menos três anos,
desde o falecimento de sua amada, Dona Teresa, que o nobre galego esperava com
ansiedade o momento da desforra de São Mamede.
Prometera uma guerra sem tréguas
a Afonso Henriques mas convencer Afonso VII fora um árduo trabalho.
Chegara o momento da
primeira estocada e os Celmes seriam as vítimas iniciais da sua fúria. Fernão
Peres ainda recordava, com uma cólera que não se extinguia os comentários
jocosos com que o brindara Gonçalo de Sousa, depois da batalha de São Mamede.
Agora o descarado ia
engoli-los uma um.
Só que Afonso VII hesitava.
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