(Domingos Amaral)
Episódio Nº 102
Vários archotes iluminavam a
pequena alcáçova, onde se encontravam, talvez, vinte soldados, cercando Chamoa
e seu pai.
A zangada mãe, Elvira Peres
de Trava, foi incapaz de conter um berro:
- Porque haveis traído a nossa família?
Irritada, Elvira Peres de
Trava, apontou o dedo a Chamoa:
- Colocais o futuro de Toronho nas mãos de uma
desvairada que não sabe fechar as pernas? Irada, acusou também o marido.
- E vós, não tendes juízo? Haveis esquecido o
que vos fez Afonso Henriques? Sois mais burro que os nossos jumentos todos
juntos!
Enquanto a mãe vociferava
contra ela, Chamoa mantivera-se calada, mas ao ouvir insultar o pai daquela
maneira abrasiva, a minha cunhada indignou-se e ripostou.
- Eis como fala a mais pura mulher da Galiza,
a minha mãe, que me aconselhou a chifrar o meu marido, Paio Soares!
A progenitora lançou-lhe um
olhar furioso, mas Chamoa não se atemorizou e acrescentou, apontando para o
velho:
- Se vós trepais um velho, porque não pode o
meu pai trepar a padeira?
Furibunda, Elvira deu um
passo em frente e pregou um valente estalo na cara de Chamoa, surpreendendo-a
tal foi a rapidez.
Quando a filha se preparava
para ripostar, o Trava mandou calar todos e impôs as ordens:
- Velho, metei-a nas masmorras!
Apesar dos protestos de seu
pai, Chamoa foi arrastada para a prisão de Tui, o buraco onde há meses estava
preso Gonçalo de Sousa.
Furibundo, Fernão Peres qui s também encarcerar Gomes Nunes, mas a irmã, Elvira, pediu-lhe
que não o fizesse, era o seu marido e homem de idade.
Então, o Trava ordenou que o
senhor de Toronho fosse guardado por soldados nos seus aposentos.
Algumas horas depois, já o
velho partia para o sul, Fernão Peres dirigiu-se à masmorra onde encontrou
Chamoa a um canto chorosa, enquanto Gonçalo de Sousa se mantinha calado e
encostado à parede, com os pés e as mãos acorrentados.
Depois de pousar um jarro de
vinho, sibilino, o Trava avisou o prisioneiro:
- Mal Afonso Henriques meta um pé em Tui,
sereis degolado – e volteando no ar o punhal de Paio Soares, acrescentou. – E quanto
a vós, bela sobrinha, ficai sabendo que espetarei este punhal no vosso coração
traidor!
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