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Faleceu Mário Soares
É impossível para
mim, 15 anos mais novo, tal como ele lisboeta, com um irmão, já falecido, que foi
aluno do Colégio Moderno, fundado pelo pedagogo João Lopes Soares, seu pai, e
mais tarde dirigido pela mulher, Maria Barroso, ficar indiferente à sua morte,
mesmo que há vários dias estivesse já em estado de coma o que demonstra a sua
fibra de combatente, até com a própria morte.
O meu voto foi
sempre seu pela simples razão de que ele era “fixe” e demonstrou-o muito cedo,
quando ainda Salazar mandava no país e não era fácil ser seu opositor, e eu
sei-o muito bem porque vivi esses tempos ainda como estudante na Rua da Escola
Politécnica em Lisboa.
Foi sempre o meu
político preferido mesmo quando disse: - “Basta”...para voltar, logo de seguida,
a candidatar-se. Estava-lhe na “massa do sangue”...
A sua coragem e
irreverência foram sempre bem evidentes, especialmente quando perdia e “corria”
a dar os parabéns ao adversário dando provas de que o seu amor à liberdade e
democracia eram genuínos.
Lembro-me bem quando
foi a Dar-es-Salan negociar a independência de Moçambique com Samora Machel.
Eu estava na cidade
da Beira, em Moçambique e a guerra estava completamente perdida pelo que já
nada havia a negociar.
Já só se saía da
cidade em segurança por avião. As estradas de Manica e Sofala, para a Rodésia,
estava nas mãos do exército de Samora que já tinha chegado a Tete, à barragem de Cabora Bassa, mas no entanto, nunca hostilizou quem
por lá passava, e a do Sul, para Lourenço Marques, também já não era segura.
Falo com conhecimento de causa porque fui interceptado por eles quando caçava e apenas me mandaram regressar a casa sem, sequer, ficarem com as armas.
A guerra tinha sido
perdida e os soldados portugueses confraternizavam com os da Frelimo sinal de
que a política colonial, com a Revolução do 25 de Abril, tinha terminado.
Mário Soares, na
qualidade de ministro dos Negócios Estrangeiros no seu encontro com Samora procurou
adiar por mais uns meses a concessão da independência para dar mais tempo para
os colonos portugueses regressarem à pátria mas não conseguiu.
Samora disse-lhe: - “Se
não concordarem com esta data a guerra continua e nós regressamos ao mato para
combater”.
Mário Soares não
tinha nenhuma força de negociação e é muito injusto, para além de errado, que
algumas pessoas atingidas pelo fenómeno inevitável da descolonização
portuguesa, o tenham acusado de responsável pelo que aconteceu.
Ele e Almeida Santos,
que tinha a sua vida em
Lourenço Marques , foram perfeitamente impotentes para alterar
fosse o que fosse no curso dos acontecimentos que levariam mais tarde Samora a
afirmar, que não foi Portugal que deu a independência a Moçambique mas sim,
ele, que ganhou a guerra, o que é perfeitamente verdade naquele território, já
que em Angola, em termos militares, a situação não era bem a mesma dado que
havia várias forças em presença com as quais o país jogava.
Mário Soares amava a
liberdade e a democracia. Para ele, ser político,
era ganhar e perder, e esta seria a sua principal e genuína característica que
me levariam sempre a dar-lhe o meu voto.
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