terça-feira, abril 28, 2015

Bastardes a todos...
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)

Episódio Nº 232











21



Castor Abduim atravessou para a outra margem: em breve não mais cruzaria sobre as pedras, molhando os pés na correnteza.

Contratados pelo coronel Robustiano de Araújo, mateiros derrubavam árvores, serravam troncos que Guido, Lupiscínio e os rapa-tábuas transformariam em toros e pranchas para o projetado pontilhão.

 O Coronel duvidara que os dois mestres de carpintaria pudessem realizar obra de tal monta, alvitrara a possibilidade de mandar vir oficiais habilitados de Itabuna. Lupiscínio, um dos construtores do depósito de cacau e do curral, ficou magoado com a proposta: afinal o Coronel conhecia-lhe de sobejo a competência.

- Ponha os cobres, Coronel, deixe o resto com a gente. O fazendeiro pusera os cobres, o capitão Natário da Fonseca
 também entrara com algum, em breve a travessia do rio seria feita com toda a segurança, na maciota.

Um ano atrás, quando os sergipanos ali desembocaram, quem poderia imaginar esses progressos de pontilhão e casa de farinha?

No que se refere à casa de farinha, a construção chegava ao fim. Bastião da Rosa comandava dois serventes, concluindo paredes; Lupiscínio e o filho, Arturzinho, torneavam a prensa quase pronta.

Havia uma azáfama de mulheres em derredor da obra: Vanjé e suas noras, sia Clara, mulher de Zé dos Santos e filha - a casa de farinha se elevava na divisa das tarefas de terra cultivadas pelas duas famílias.

 O roçado e as criações de Altamirando ficavam um pouco mais além. Mas Ção e sua mãe, Das Dores, também vinham ajudar. Ção queria que Zinho lhe ensinasse a manejar a plaina, Zinho esperava lhe ensinar o manejo de instrumento mais maneiro.

As mulheres carregavam pedras, preparavam comida, trocavam ditos e sorrisos com os homens. Castor não enxergou Diva no meio do rebuliço, onde estaria ela? Na lavoura, havia de ser. O negro sentou-se no chão, saudou a confraria:

- Bastardes a todos.

A velha Vanjé aproximou-se:

- Deus lhe dê boa tarde, seu Tição. Ressu trouxe pra gente um quarto de paca, diz-que ocê caçou. Deus que lhe dê em dobro

- Apontou a construção: - Tá vendo? Não vai demorar nós fazer farinha e não ter mais precisão de trazer de fora. Na primeira fornada, vou mandar uns beijus pra ocê.

Também Bastião da Rosa, mãos e peito sujos de cal, veio conversar.

- A primeira casa de pedra e cal que fiz aqui foi a sua, se lembra? Aqui, já levantei casa de tijolo, de madeira, de barro até de palha. Fiz barcaça, estufa, curral, o diabo a quatro.

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