AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS
Vamos entrar, com as acções de campanha para a eleição do novo Presidente da República, num período de alguma “turbulência emocional,” característico de uma situação em que tem que se escolher uma personalidade, de entre várias, para o mais alto e prestigiado, que não o mais importante, cargo Público do país.
Acresce, que nós gostamos de nos emocionar, mesmo quando dizemos que não, quando protestamos e condenamos as emoções, especialmente as dos outros, gostamos de nos emocionar... Vibrar com as emoções é como conduzir um carro a grande velocidade, faz-nos sentir vivos, despertos, é a adrenalina do risco, é esquecer a rotina da vida sensaborona é, finalmente, um apelo a todas as nossas capacidades instintivas que têm a ver com o que há de mais genuíno em nós próprios.
Depois, as pessoas sobre as quais os portugueses se vão debruçar para, de entre elas, escolher o Presidente, são nossas velhas conhecidas sendo que, relativamente a dois deles, é o reeditar de antigas desavenças políticas pois todos nós sabemos que Mário Soares e Cavaco Silva nunca morreram de amores um pelo outro de tão diferentes que são nas suas características como homens.
Francisco Louçã e Jerónimo de Sousa vão aproveitar este processo eleitoral para marcar os seus territórios, reunir as suas hostes e, se possível, aumentá-las. É uma rivalidade de vizinhos, luta de bairros…
Finalmente, temos Manuel Alegre, que começou mal, primeiro porque não foi aceite pelo partido que não terá acreditado nas possibilidades da sua candidatura depois, num célebre e penoso jantar, disse e desdisse que se ia candidatar, para finalmente se decidir por razões que tinham a ver com as possibilidades de vitória à primeira volta do candidato Cavaco Silva. Neste momento, surpreendido pelos resultados das sondagens, alterou o discurso e afirma que pretende ir à segunda volta e aí vencer Cavaco Silva.
No fundo, no fundo… o que ele gostaria era de ganhar ao seu companheiro de “route” e dar uma lição ao PS pela escolha que fez e pelo abandono a que o votaram, não esquecendo a saborosa vingança sobre o seu amigo de sempre que, de certa forma, o terá humilhado porque, tal como o partido, não reconheceu credibilidade à sua candidatura, voltando as costas a alguém que terá sido o seu mais importante aliado político em momentos delicados em que foi preciso evitar que o PS deslizasse para uma esquerda dura em vez de uma esquerda democrática.
Há a tendência para se pensar que o país está repartido entre “esquerda” e “direita” e considerar que C. Silva é de direita e os três restantes de esquerda e que numa segunda volta, se a houver, perde C. Silva porque o voto de esquerda no nosso país é ligeiramente superior em função do que foram os resultados de anteriores votações.
Talvez até agora tenha sido assim. Hoje, tenho fortes dúvidas que o seja. Os conceitos de esquerda e direita já não têm o mesmo impacto nas novas gerações muito menos politizadas e mais viradas para os problemas que os afligem como os do emprego e, por acréscimo, o acesso ao consumo.
Por outro lado, só na aparência, Cavaco Silva poderá ser considerado um político de direita. A sua ascendência modesta, a influência da cultura inglesa, importante na fase final da sua formação académica, e a sua prática enquanto primeiro-ministro, não o definem propriamente como um homem de direita. A prova disso está na desconfiança com que o CDS o apoia, suspirando por um outro candidato, esse sim, inequivocamente de direita, como seria Paulo Portas.
Vamos, pois, nos próximos tempos, assistir e participar no admirável mundo das emoções e isto, mesmo quando o resultado não deixa grandes dúvidas, porque o que importa é uma boa briga que anime e distraia o pessoal. Depois, também já nos apercebemos, que ao longo de 30 anos de democracia, dados os poderes, ou melhor dizendo, os não poderes do P.R. só duas vezes, a última das quais quando o actual P.R. resolveu entregar a governação do país a um senhor que tinha sido eleito “à rasquinha” para Presidente da Câmara, é que o exercício do prestigiado cargo mexeu a sério com a vida dos portugueses. Tirando essas vezes tudo não passa de uns discursos e umas medalhas que em datas especiais se lêem e se penduram com pompa e circunstância.
Por isso, venha de lá o espectáculo, o meu lugar à frente do ecrã da televisão já está cativo. Dois a dois ou todos contra todos, desde que não falem ao mesmo tempo, cá os espero. São todos cidadãos íntegros, alguns deles já entraram tantas vezes nas nossas casas que se dirá que são da família e, factor importante, nenhum deles é suspeito ou arguido de qualquer crime…
Já agora, depois do que se viu (nas autárquicas) …, era só o que faltava…
Boa sorte para todos e que vença o melhor…
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