quinta-feira, dezembro 07, 2006

Um País Dois Sistemas

Por refª ao artigo do Jumento aqui (link) .
Um país dois sistemas


UM PAÍS DOIS SISTEMAS



O autor de O JUMENTO, a propósito de uma carta que recebeu de protesto contra a actual situação dos jovens estabeleceu, com a acutilância e perspicácia que lhe são reconhecidas, um paralelismo entre o que se passa hoje na China e na sociedade portuguesa: Em vez de um país, dois sistemas, temos dois países com dois sistemas cada.

Conhecidos que são os dois sistemas na China, refere O JUMENTO que o duplo sistema em Portugal tem a ver com cidadãos de faixas etárias diferentes que são tratados de forma diferente: “os cidadãos de mais idade beneficiam de todas as vantagens de um estado social decalcado dos sonhos dos anos setenta e os jovens, por outro lado, vivem num modelo liberal fundamentalista que nem os liberais ousariam propor”.

Nada a opor, completamente verdade se, relativamente aos jovens dos anos sessenta, porque são hoje, esses, os beneficiados, estivermos a pensar nos que, então, tiveram oportunidade de tirar o 5ºano do liceu, um curso médio ou superior e entrar com toda a facilidade nas mais variadas carreiras do funcionalismo público, mais umas que outras, ou em grandes empresas, tipo EDP, Carris, CP, etc., que também asseguravam carreiras, empregos estáveis, ordenados certos e hoje reformas compensadoras, condições que os jovens de hoje não conseguem encontrar.

Mas por que razão, sendo isto verdade, me soa a um libelo acusatório à minha geração que era jovem na década de sessenta? O que falta dizer e explicar?

Não há aqui, com certeza, um embate de gerações em que uma engana a outra até porque não estou a ver pais e avós a quererem prejudicar filhos e netos quando, ainda por cima, estes lhes caíram “no prato da sopa” pois não lhes saem lá de casa…, e muitas vezes são as tais reformas “criminosas”, as tais que os jovens irão pagar e de que não vão poder usufruir, que estão agora, em muitos casos, a “financiar”o desemprego dos mais jovens para além da cama, mesa e roupa lavada… A inevitável solidariedade entre gerações que se seguem e antecedem.

Não fora a velocidade vertiginosa a que se processaram as recentes transformações económicas, políticas e sociais na Europa, no mundo e, muito especialmente, aqui, neste nosso burgo, no qual, depois de 40 anos de Salazar em que, tirando uma guerra, nada mais aconteceu, veio uma Revolução em que nada deixou de acontecer, excepção feita aos tradicionais “banhos de sangue” característicos das revoluções, não fora essa velocidade, e muito naturalmente teria havido oportunidade de gerir de forma muito diferente as inevitáveis alterações resultantes da simples passagem do tempo que antigamente andava e agora parece correr como os cavalos quando tomam o freio nos dentes.

Mas, vistas as coisas no concreto, não se verificará algum egoísmo ou falta de coragem dos governantes na base de uma política que tende a favorecer as gerações do passado em detrimento dos jovens?

Admito que sim mas, fundamentalmente, os jovens são vítimas da crise dos dias que se vivem e que está para além dos governos, e se eles hoje têm que emigrar, que dizer então dos outros jovens dos anos sessenta que passaram a “salto” a fronteira, sem saberem ler nem escrever, a caminho de França como recompensa de terem sobrevivido a uma guerra nas florestas de África que nada tinha a ver com as actuais comissões na Bósnia?

Bem vistas as coisas, cada geração tem os seus espinhos, depende dos momentos históricos em que se é jovem… Pena é que não se possa lá voltar, pois que mais promissor poderá existir do que a própria juventude?


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