quinta-feira, maio 15, 2008


Eu a Religião e Richard Dawkins

Durante alguns dias transcrevi aqui, no meu blog, passagens do livro A Desilusão de Deus de Richard Dawkins acompanhadas de links retirados do You Tube com intervenções do próprio autor sobre o tema da religião.

Transcrevi, e tenciono continuar a transcrever porque este tema não pode nem deve ser tabu e Richard Dawkins, que eu já conhecia de um outro seu livro, O Gene Egoísta, é o intelectual que faz a abordagem a este tema com maior brilhantismo de espírito, a mais alta formação científica e, já agora, da forma mais explícita e objectiva.

Eu sei que há uma atitude reverencial a tudo o que à religião diz respeito e, naturalmente, muito mais quando se põe em causa a própria religião.

Olhando de fora para o “edifício” da Igreja o que começa logo a impressionar e até mesmo a amedrontar é a magnificência dos edifícios de culto, imponentes, belos, ricos de obras de arte e de ouro.

Logo a seguir, as vestes espampanantes dos seus mais altos dignitários que não podiam chamar mais a atenção nos seus brancos imaculados com faixas de cor apelativa e chapéus altos e pontiagudos a conferirem ar de majestade.

E, finalmente, o ar convencido de disfarçada autoridade com que nos presenteiam com as suas verdades inquestionáveis enquanto outros, de turbante, com os olhos cheios de ódio, as gritam às multidões em delírio.

Mas não é só uma atitude reverencial, é medo, não tenhamos vergonha de o dizer, medo dos outros, dos que nos estão próximos, da sociedade e de nós próprios, dos “diabinhos” que, éramos nós crianças, nos inculcaram.

Dawkins afirma que todos nascemos religiosos mas alguns, mais tarde, tomam a decisão consciente de deixar de o ser mas esses, acrescento eu, são apenas uma pequena parte porque a maioria limita-se a “deixar cair” dentro de si a religião que um dia lá meteram e envergonhadamente, silenciam e disfarçam limitando-se a dizerem: não vou à igreja… menos frequentemente afirmam que não são crentes… e raramente se apresentam como ateus.

O mundo ocidental vive hoje ameaçado e amedrontado por religiosos fanáticos que odeiam todo o semelhante que não pertença ao seu clube de exterminadores.

Noutros tempos, os nossos avós fizeram parecido combatendo e matando outras pessoas porque, também elas, não partilhavam do nosso culto e eu pergunto, de certo ingenuamente, porque não confrontar directamente as religiões e defender um tipo de vida da qual elas não façam parte?

Pessoalmente, estou grato a Richard Dawkins e ao seu livro A Desilusão de Deus porque me deu uma solução convincente para uma pergunta que bailava sem resposta no meu espírito desde que tomei conhecimento da Teoria da Evolução de Charles Darwin e a aceitei como boa para explicar, em termos racionais, o aparecimento e o desenvolvimento dos seres vivos ao cimo da terra.

- Como “encaixar” a religião na Teoria da Evolução?

Sendo a religião um fenómeno comum, embora com as mais variadas diferenças, a todas as culturas e tendo sido, essa mesma religião, a fonte de tantas mortes e sofrimento ao longo de toda a história da humanidade, como teria servido ela os interesses da nossa espécie?

Não é verdade que à luz da Teoria da Evolução os comportamentos desfavoráveis aos interesses de uma espécie acabavam por ser eliminados através de uma selecção que, mais cedo ou mais tarde, não perdoava erros ou desvios contrários à sua sobrevivência?

Neste aspecto, as religiões funcionavam como vírus que provocavam o confronto violento e letal das comunidades entre si e, no entanto, o nosso cérebro evoluiu para albergar, em um qualquer ponto da sua incrível estrutura, o que parecia ser “um centro de religiosidade”.

A explicação aí está servida por Richard Dawkins e partilhada por muitos outros cientistas:

- A religião era, afinal, «um subproduto» de «qualquer outra coisa» que a natureza efectivamente quis mas que a partir de certo momento fugiu do seu controle.

E o «produto» era a necessidade que as crianças, filhas dos mais nossos antepassados remotos, tinham de acreditar nos conselhos dos pais, dos avós e dos chefes, ditos e repetidos com palavras solenes e quem sabe, de dedo em riste.

Essa necessidade de acreditar de que não deviam aproximar-se demasiado dos penhascos, afastar-se do grupo, banharem-se no rio infestado de crocodilos, etc., fez desenvolver no nosso cérebro um “centro de crença”, não para ser colocado ao serviço de religiões mas para permitir maiores probabilidades de sobrevivência às novas gerações de forma a que a nossa espécie tivesse mais hipóteses de sucesso.

Mas, quem tem que acreditar forçosamente nos bons conselhos como se pode furtar a acreditar nos maus?

Se ele tem que acreditar que não pode tomar banho no rio por causa dos crocodilos, naturalmente vai também acreditar que tem que matar um cabra para que as chuvas caiam… e daqui para a frente o homem tomava o futuro nas suas próprias mãos.

O resto… teve também a ver com um espírito que interrogava e um conhecimento científico que não existindo deixava todas as perguntas sem resposta à mercê da imaginação que gere as crenças.

A minha experiência de vida ajudou-me a compreender melhor esta necessidade de acreditar quando recordo os meus 11, 12 anos como aluno de um colégio de Jesuítas em Lisboa, em regime de semi-internato.

No princípio dos anos 50 vivia-se um enorme clima de respeito e autoridade que recaía especialmente sobre as crianças e os jovens que viviam em círculos muito fechados que pouco mais iam para alem da família com as constantes reprimendas e os permanentes apelos à obediência.

Não me lembro de ter sido alvo, durante esses dois anos, de qualquer atitude ou comportamento violento ou desrespeitoso por parte de qualquer padre ou “irmão”da Companhia de Jesus com quem convivi nesse colégio mas, é bom dizer, que se tratava de um Colégio para filhos de papás ricos, alguns muito ricos mesmo, e este facto poderia ter alterado para melhor muita coisa…

Mas não me esqueço das confissões que aos 11 e 12 anos tive de fazer aos ouvidos daqueles padres de batina preta da cabeça aos pés e de quem se não tinha medo tinha, pelo menos, muito respeito e vergonha.

Mas que raio de pecados tinha eu para confessar naquela idade quando quase tudo aquilo que fazia era, aos meus olhos, pecado?

Era precisamente aqui que residia a violência…tudo era pecado…tudo era culpa…tudo eram remorsos…penitencias e medo…muito medo do inferno…porque o céu, esse, estava longe, não era para nós…era para os santos, anjos e arcanjos.

Uma educação religiosa não precisa de ser má basta ser religiosa e se há outra coisa que eu recordo era a “necessidade que eu sentia de acreditar” e debatia-me interiormente porque tinha dificuldade em consegui-lo.

Hoje, ao ler a Desilusão de Deus do Richard Dawkins, fiquei a saber que estava a lutar contra uma “partezinha” do meu cérebro que me obrigava a acreditar, não naquilo que os padres me diziam, mas isso eu não sabia nem tinha possibilidades de saber.

O meu cérebro apenas estava programado para acreditar, não para fazer a distinção entre aquilo que era conversa de padres e qualquer outra mensagem que, essa sim, pudesse ser útil para a minha vida.

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