domingo, setembro 28, 2008


A Sobrevivência do Estável



Sejamos sinceros, não estou mentalmente preparado para aceitar que algo de tão verdadeiramente complexo como o Universo, a Terra, os Seres Vivos e Nós próprios tenhamos surgido de repente, de um momento para o outro, de forma súbita.

Não é por uma questão de má vontade, tão pouco um problema de fé ou falta dela, é uma questão de honestidade intelectual e é esta honestidade que não me permite que eu seja Criacionista.

Olho para uma casa e sei que ela não apareceu ali porque “alguém”, por força de uma palavra mágica, ali a tivesse feito aparecer. Para mim, isso não faz sentido mas já tem cabimento no meu esquema de entendimento das coisas que essa mesma casa tenha resultado de um processo de acumulação de simples tijolos, hoje um, amanhã outro, e assim progressivamente, de algo que ao princípio era muito simples e se foi transformando numa “coisa” complexa que agora se chama casa, depois arranha céus e por aí fora.

O muito simples transforma-se gradualmente em complexidade e o processo através do qual isso acontece chama-se selecção natural e isso está ao alcance da minha compreensão, faz sentido: átomos perfeitamente desordenados poderem agrupar-se em estruturas cada vez mais complexas até acabarem por formar pessoas.

Darwin forneceu-nos a solução, a única, entre todas as sugeridas, aplicável à questão profunda da nossa existência.

A explicação para todo esse processo é-nos dada pelo Zoólogo e Etólogo evolucionista, Rinchará Dawkins, eleito em 2005 pela Revista Prospect como o maior intelectual britânico, começando ainda pelo momento anterior ao início da própria evolução.

Diz ele que a «Sobrevivência do mais apto» de Darwin é, na realidade, um caso especial de uma lei geral a «Sobrevivência do Estável».

O Universo está povoado de coisas estáveis que não passam de aglomerações de átomos suficientemente vulgares ou permanentes para merecerem um nome.

As coisas que vemos à nossa volta e que pensamos necessitarem de uma explicação, como rochas, galáxias, ondas domar, são todas arranjos mais ou menos estáveis de átomos, as próprias bolhas de sabão tendem a ser esféricas porque esta é uma configuração estável para películas finas cheias de gás.

Numa nave espacial, fora da acção da gravidade, a água é estável sob a forma de corpúsculos mas uma vez sujeita à gravidade a estabilidade da água em repouso é plana e horizontal.

No sol, os átomos mais simples de todos, os de hidrogénio, fundem-se para formar átomos de hélio porque nas condições que ali existem, a configuração do hélio é mais estável.

Outros átomos, mais complexos, formam-se em estrelas espalhadas por todo o Universo em resultado do big bang que é a teoria prevalecente para a origem do Universo.

Algumas vezes, quando os átomos se encontram, ligam-se uns aos outros através de reacções químicas e formam moléculas que podem ser mais ou menos estáveis atingindo, por vezes, grandes dimensões como o diamante que pode ser considerado uma única molécula, grande mas muito simples porque a sua estrutura atómica interna é repetida indefinidamente.

A hemoglobina do nosso sangue é uma molécula proteica típica. É formada por cadeias de moléculas mais pequenas, os aminoácidos, contendo cada um deles algumas dúzias de átomos arrumados numa estrutura precisa.

A hemoglobina é uma molécula recente, usada para ilustrar o princípio de que os átomos adquirem conformações estáveis porque nela existem duas cadeias constituídas pela mesma sequência de aminoácidos que tenderão, como duas molas, a adquirirem exactamente a mesma configuração tridimensional, ficando enroladas sobre si mesmas.

As moléculas de hemoglobina saltam para a sua «posição preferida» no nosso corpo a um ritmo de cerca de 4.000 biliões por segundo, enquanto outras tantas são destruídas à mesma velocidade.

Este exemplo da hemoglobina pretende demonstrar o princípio de que os átomos adquirem conformações estáveis e portanto, antes do aparecimento da vida na Terra, uma forma rudimentar de formação de moléculas poderá ter ocorrido por processos físicos e químicos vulgares sem haver necessidade de pensar em desígnios ou propósitos.

Se um grupo de átomos, na presença de energia se organizar numa configuração estável, tenderá a manter-se nesse estado e a forma mais precoce de selecção natural foi simplesmente a selecção das formas estáveis e a rejeição das instáveis.

Não há qualquer mistério nisto.

Por definição tinha de acontecer assim.

É claro que daqui não se pode concluir que seja possível explicar a existência de entidades tão complexas como o homem aplicando, apenas e exactamente, os mesmos princípios. Não serve de nada pegar no número exacto de átomos, misturá-los todos e aplicar alguma energia externa até tomarem a conformação certa, surgindo o Adão.

Dessa maneira, poder-se-á formar uma molécula constituída por algumas dúzias de átomos mas o Adão tinha 1.000 biliões de biliões de átomos e para o conseguir fazer seria necessário um batedor bioquímico durante um período de tempo tão longo que a idade inteira do universo se assemelharia a um simples piscar de olho…e mesmo assim não iríamos conseguir.

É aqui que a teoria de Darwin, na sua formulação mais geral, vem em nosso socorro pegando no processo evolutivo no ponto onde a história da formação lenta das moléculas termina.

Continuaremos num próximo texto com Richard Dawkins na sua abordagem à origem da vida.

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