segunda-feira, setembro 08, 2008







Um Dia…no Nosso Passado Remoto





Em cerca de 3 milhões de anos, 120.000 gerações, o volume do cérebro humano praticamente duplicou, de 700 para 1.300 cm3 o que criou especiais dificuldades ao nascimento dos bebés que foram resolvidas por um atraso no crescimento do crânio dentro do ventre materno compensado por um mais rápido crescimento após o parto.

Ao mesmo tempo, a capacidade da neuro-memória dos nossos antepassados aumentava de um bilião de conexões, no caso do homo habilis, para 100 biliões com o homo sapiens o que constitui, sem dúvida, uma evolução surpreendente.

E isto foi possível em função de instruções dadas pelos genes transportados pelo ADN que não difere quase nada da capacidade do genoma do nosso primo chimpanzé (o homem e o chimpanzé têm em comum mais de 98% do seu programa).

Portanto, bastou uma diferença mínima na ordem de sucessão de alguns genes, uma modificação que interveio dentro de um sistema genético de regulação, para que um hominídeo, próximo dos australopitecos, tivesse dado origem ao homo habilis capaz de transcender a sua neuro-memória.

Provavelmente, terão sido mutações que alteraram o funcionamento de alguns “genes arquitectos” no decurso do processo embrionário durante o qual aconteceram mudanças no esquema da construção do encéfalo.

Terão bastado uma ou duas sucessões de divisões celulares, duplicando ou quadruplicando o número de células nervosas, para originar o aumento do volume do cérebro e sobretudo uma modificação do esquema de organização e do rendimento deste órgão.

Diversas modificações anatómicas favoráveis como, por exemplo, endireitar a posição do corpo, modificar a posição do crânio, fazer descer a laringe, tiveram efeitos espectaculares no desenvolvimento do cérebro.

Indirectamente, na origem do aumento das capacidades funcionais do encéfalo, grande consumidor de energia, tiveram as mudanças ocorridas no meio ambiente acompanhadas de uma alteração dos comportamentos com uma melhor alimentação das fêmeas durante a gravidez e um período mais alargado de cuidados maternais.

O domínio completo da linguagem articulada, formidável ferramenta de comunicação e de aprendizagem, permitiu ao Homem moderno multiplicar o número de sinapses (são os pontos onde as extremidades dos neurónios vizinhos se encontram e o estímulo passa de um neurónio para o seguinte por meio de mediadores químicos chamados neuro-transmissores)
entre os seus neurónios e, portanto, o número de bits na sua neuro-memória.




SINAPSE



A- Neurónio Transmissor
B-Neurónio Receptor
1- Mitocôndria
2- Péptido
3-Junção Comunicante






Esta linguagem utiliza vogais, consoantes, associações vogais-consoantes ou inversamente, consoantes-vogais, ligadas duas a duas, três a três, etc. representando um potencial teórico de 100 milhões de palavras diferente, isto é, mais de 100 mil milhões de frases possíveis. Na realidade, nenhum homem será capaz de utilizar mais do que um milésimo dessa fantástica reserva potencial.

Por outro lado, o aperfeiçoamento da neuro-memória pela aprendizagem tornou-se progressivamente mais fácil pelo aumento regular do número de indivíduos e do prolongamento da esperança de vida.

Há um milhão de anos o número de homens (Homo Erectus) que habitavam a Terra era, no máximo, de poucas centenas de milhar.

Há 300.000 anos seria de um milhão com uma esperança de vida, em média, pouco superior a 25 anos.

Os Homo Sapiens eram, talvez, 3 milhões há 25.000 anos, uma dezena de milhões há 10.000 e 100 milhões há 4.000 anos.

Em 1800 a população mundial atingiu os mil milhões e cem anos depois, em 1900, estava próxima dos 2 mil milhões.

Cem anos mais tarde, em 2.000, a população ultrapassou os 6.000 milhões de pessoas com uma esperança de vida que, segundo as regiões, varia entre os 40 e os 75 anos.

Deste modo, o Homem aprendeu a tirar o melhor partido da sua neuro-memória cuja capacidade elevou a um nível próximo dos 100 biliões de conexões.

Todavia, esta riqueza, esta experiência acumulada é efémera na medida em que é fundamentalmente individual. A cada homem novo compete tecer-lhe a trama, fio após fio…mas tal como o pano de Penélope, o tecido de conhecimentos representado pela neuro-memória está destinado a desaparecer na noite da morte e deve ser posto de novo no tear em cada nova geração…não fora a Memória Colectiva Externa que constitui um outro nível de memorização que permite comunicar as informações para onde a voz humana não alcança.

A esta memória colectiva tem alcance um grande número de indivíduos os quais, por sua vez, podem acrescentar-lhe os dados que lhe são próprios.

Mas, da evolução da Memória Escrita falaremos no próximo texto.

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