TEORIA dos MEMES: OS NOVOS
REPICADORES
Ao princípio, os mares de há 3.000 ou 4.000 milhões de anos não passavam de um «caldo primitivo» onde boiavam substâncias orgânicas idênticas àquelas que hoje já se conseguem obter em laboratório simulando as condições químicas da Terra existentes antes do aparecimento da vida.
Essas substâncias, a que chamamos de «blocos construtores», talvez se concentrassem na espuma que secava nas margens desses mares e que, posteriormente, sob a influência da luz ultravioleta se combinaram em moléculas maiores que continuariam boiando por ausência de qualquer outra forma de vida que as molestasse.
Milhões de anos mais tarde, por acidente, formou-se uma molécula particularmente notável que não era, necessariamente, nem maior ou mais complexa do que as outras mas que tinha a propriedade extraordinária de criar cópias de si mesma e que foi denominada de Replicador.
Não é difícil imaginar que outros “blocos construtores» ao aderirem ao “Replicador” dispunham-se, automaticamente, numa sequência idêntica à do próprio Replicador formando uma cadeia estável, processo este que poderia continuar num empilhamento progressivo, camada sobre camada.
Este processo de replicação original foi o percursor da replicação das modernas moléculas do nosso ADN mas, à data, constituíram, uma nova forma de «estabilidade» que sucedeu à primitiva associação de blocos construtores apenas em função de afinidades para com os seus iguais.
Progressivamente, todos os “blocos construtores” estavam associados a moléculas reprodutoras sendo, portanto, todos eles Reprodutores e é neste processo, ainda algo primitivo e não muito perfeito, que ocorrem “erros de cópia” e, consequentemente, aparecem variedades de Replicadores.
Essas variedades de Replicadores não sabiam que estavam a lutar entre si mas lutavam no sentido em que qualquer cópia imprecisa que resultasse num novo nível de maior estabilidade era preservada e multiplicava-se automaticamente.
O processo de melhoria era cumulativo e por isso as formas de aumentar a estabilidade própria e diminuir a dos rivais foram-se tornando mais elaboradas e eficientes.
Alguns dos Replicadores devem mesmo ter “descoberto”como quebrar quimicamente moléculas de variedades rivais e como usar os blocos construtores assim libertos para produzir as suas próprias cópias.
Outros Replicadores talvez tenham “descoberto” como se protegerem a si próprios quer quimicamente, quer erguendo uma barreira física de proteína à sua volta e foi talvez, desta forma, que surgiram as primeiras células vivas.
Os Replicadores começaram não só a existir, mas também a construírem invólucros, veículos para a preservação da sua existência e aqueles que sobreviverem foram os que construíram “máquinas de sobreviverem” dentro das quais pudessem viver.
No entanto, sobreviver tornou-se cada vez mais difícil, à medida que apareciam novos rivais com máquinas de sobrevivência melhores e mais eficientes.
Teria de haver algum fim para o aperfeiçoamento gradual das técnicas e dos artifícios usados pelos replicadores para assegurarem a sua própria continuidade no mundo?
Haveria tempo de sobra para aperfeiçoamentos.
Que máquinas bizarras de auto preservação trariam consigo os milhões de anos seguintes?
Qual seria o destino dos primeiros replicadores 4.000 milhões de anos mais tarde?
Não se extinguiram, pois são mestres das artes de sobrevivência mas também não se espere encontrá-los a flutuarem livremente no mar.
Há muito tempo que abandonaram a sua liberdade de cavaleiros andantes, agora agrupam-se em colónias imensas no interior de gigantescos robots desajeitados afastados do mundo exterior, comunicando com ele através de vias indirectas e tortuosas manipulando-o por controlo remoto.
Percorreram um longo caminho, agora estão dentro de nós, respondem pelo nome de genes e continuam a produzir cópias de si mesmas, a tal característica extraordinária que “herdaram” dos Replicadores, e embora muito mais eficientes e perfeitas continuaram, de forma aleatória, a cometerem erros de cópia embora em menor número.
Se não houvesse erros de cópia todos os descendentes seriam iguais aos progenitores e a biodiversidade seria uma miragem e o mundo de seres vivos existente nada teria a ver com aquele que existe.
De qualquer forma, a grande maioria dos erros de cópia dão origem a “soluções” que na verdade não o são e dificilmente o poderiam ser como erros que são, mas os processos de selecção natural, conceito chave da Teoria Evolutiva Darwiniana, assegura que as variações genéticas nos indivíduos de uma dada espécie, quando favoráveis, permitem uma melhor resistência desses indivíduos às alterações adversas do meio, que lhes facilita a reprodução e, consequentemente, a sobrevivência.
Mas, de todas as espécies que existem, de todas as “máquinas de sobrevivência”, uma delas, por razões específicas, constitui uma excepção e a maior parte daquilo que o homem tem de excepcional resume-se numa palavra: «cultura».
A transmissão cultural é análoga à transmissão genética, no sentido de que, embora sendo conservadora, pode dar origem a uma forma de evolução que, relativamente à genética, se processa a uma velocidade que é várias ordens de grandeza superior.
Por exemplo, a linguagem: provavelmente, em 20 gerações, duas pessoas, pertencentes à mesma língua, não se conseguiriam fazer entender.
A transmissão cultural não é um fenómeno exclusivo do homem mas é na espécie humana que, verdadeiramente, se mostra o que a evolução cultural pode fazer.
E não é apenas a linguagem a que já nos referimos, a moda no vestuário e na dieta, as cerimónias e os costumes, a arte e a arquitectura, a engenharia e a tecnologia, tudo isto evolui no tempo histórico de uma forma que se assemelha à evolução genética, altamente acelerada, mas que, na realidade, não tem nada a ver com ela.
(continua)
REPICADORES
Ao princípio, os mares de há 3.000 ou 4.000 milhões de anos não passavam de um «caldo primitivo» onde boiavam substâncias orgânicas idênticas àquelas que hoje já se conseguem obter em laboratório simulando as condições químicas da Terra existentes antes do aparecimento da vida.
Essas substâncias, a que chamamos de «blocos construtores», talvez se concentrassem na espuma que secava nas margens desses mares e que, posteriormente, sob a influência da luz ultravioleta se combinaram em moléculas maiores que continuariam boiando por ausência de qualquer outra forma de vida que as molestasse.
Milhões de anos mais tarde, por acidente, formou-se uma molécula particularmente notável que não era, necessariamente, nem maior ou mais complexa do que as outras mas que tinha a propriedade extraordinária de criar cópias de si mesma e que foi denominada de Replicador.
Não é difícil imaginar que outros “blocos construtores» ao aderirem ao “Replicador” dispunham-se, automaticamente, numa sequência idêntica à do próprio Replicador formando uma cadeia estável, processo este que poderia continuar num empilhamento progressivo, camada sobre camada.
Este processo de replicação original foi o percursor da replicação das modernas moléculas do nosso ADN mas, à data, constituíram, uma nova forma de «estabilidade» que sucedeu à primitiva associação de blocos construtores apenas em função de afinidades para com os seus iguais.
Progressivamente, todos os “blocos construtores” estavam associados a moléculas reprodutoras sendo, portanto, todos eles Reprodutores e é neste processo, ainda algo primitivo e não muito perfeito, que ocorrem “erros de cópia” e, consequentemente, aparecem variedades de Replicadores.
Essas variedades de Replicadores não sabiam que estavam a lutar entre si mas lutavam no sentido em que qualquer cópia imprecisa que resultasse num novo nível de maior estabilidade era preservada e multiplicava-se automaticamente.
O processo de melhoria era cumulativo e por isso as formas de aumentar a estabilidade própria e diminuir a dos rivais foram-se tornando mais elaboradas e eficientes.
Alguns dos Replicadores devem mesmo ter “descoberto”como quebrar quimicamente moléculas de variedades rivais e como usar os blocos construtores assim libertos para produzir as suas próprias cópias.
Outros Replicadores talvez tenham “descoberto” como se protegerem a si próprios quer quimicamente, quer erguendo uma barreira física de proteína à sua volta e foi talvez, desta forma, que surgiram as primeiras células vivas.
Os Replicadores começaram não só a existir, mas também a construírem invólucros, veículos para a preservação da sua existência e aqueles que sobreviverem foram os que construíram “máquinas de sobreviverem” dentro das quais pudessem viver.
No entanto, sobreviver tornou-se cada vez mais difícil, à medida que apareciam novos rivais com máquinas de sobrevivência melhores e mais eficientes.
Teria de haver algum fim para o aperfeiçoamento gradual das técnicas e dos artifícios usados pelos replicadores para assegurarem a sua própria continuidade no mundo?
Haveria tempo de sobra para aperfeiçoamentos.
Que máquinas bizarras de auto preservação trariam consigo os milhões de anos seguintes?
Qual seria o destino dos primeiros replicadores 4.000 milhões de anos mais tarde?
Não se extinguiram, pois são mestres das artes de sobrevivência mas também não se espere encontrá-los a flutuarem livremente no mar.
Há muito tempo que abandonaram a sua liberdade de cavaleiros andantes, agora agrupam-se em colónias imensas no interior de gigantescos robots desajeitados afastados do mundo exterior, comunicando com ele através de vias indirectas e tortuosas manipulando-o por controlo remoto.
Percorreram um longo caminho, agora estão dentro de nós, respondem pelo nome de genes e continuam a produzir cópias de si mesmas, a tal característica extraordinária que “herdaram” dos Replicadores, e embora muito mais eficientes e perfeitas continuaram, de forma aleatória, a cometerem erros de cópia embora em menor número.
Se não houvesse erros de cópia todos os descendentes seriam iguais aos progenitores e a biodiversidade seria uma miragem e o mundo de seres vivos existente nada teria a ver com aquele que existe.
De qualquer forma, a grande maioria dos erros de cópia dão origem a “soluções” que na verdade não o são e dificilmente o poderiam ser como erros que são, mas os processos de selecção natural, conceito chave da Teoria Evolutiva Darwiniana, assegura que as variações genéticas nos indivíduos de uma dada espécie, quando favoráveis, permitem uma melhor resistência desses indivíduos às alterações adversas do meio, que lhes facilita a reprodução e, consequentemente, a sobrevivência.
Mas, de todas as espécies que existem, de todas as “máquinas de sobrevivência”, uma delas, por razões específicas, constitui uma excepção e a maior parte daquilo que o homem tem de excepcional resume-se numa palavra: «cultura».
A transmissão cultural é análoga à transmissão genética, no sentido de que, embora sendo conservadora, pode dar origem a uma forma de evolução que, relativamente à genética, se processa a uma velocidade que é várias ordens de grandeza superior.
Por exemplo, a linguagem: provavelmente, em 20 gerações, duas pessoas, pertencentes à mesma língua, não se conseguiriam fazer entender.
A transmissão cultural não é um fenómeno exclusivo do homem mas é na espécie humana que, verdadeiramente, se mostra o que a evolução cultural pode fazer.
E não é apenas a linguagem a que já nos referimos, a moda no vestuário e na dieta, as cerimónias e os costumes, a arte e a arquitectura, a engenharia e a tecnologia, tudo isto evolui no tempo histórico de uma forma que se assemelha à evolução genética, altamente acelerada, mas que, na realidade, não tem nada a ver com ela.
(continua)
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