sábado, janeiro 31, 2009


Braço de Ferro



Parece estarmos a assistir a um braço de ferro:

- De um lado, a comunicação social em peso e em força, o chamado quarto poder, com notícias de 1ª página, alguns jornais em nítido exagero, a TV com aberturas de Telejornal, todos repetindo, insistindo em notícias, que não propriamente em novidades, respeitantes ao caso Freeport, Sócrates e a sua família;

- Do outro, o 1º Ministro, em declarações afirmando a sua inocência e queixando-se de que está a ser vítima de perseguição caluniosa;

- No meio, o país que já não sabe se deve preocupar-se mais com a crise e os despedimentos ou com o desfecho deste braço de ferro.

Os fazedores de opinião, com excepção de alguns jornalistas que em crise de histerismo estão de facas apontadas a José Sócrates para que ele se demita, caso de Mário Crespo, provavelmente com contas antigas por acertar com o PS, embora tivesse ganho em Tribunal o seu litígio com a RTP 1, manifestam-se preocupados porque estamos a assistir a uma degeneração da democracia não só em Portugal mas um pouco por outros países europeus.

A liberdade de expressão é um dos pilares dos estados democráticos mas se ela se abate sobre chefes de governo, numa espécie de exercício de tiro ao boneco das feiras e romarias do antigamente, em que o objectivo não é tanto acertar mas desacreditar para concluírem, vitoriosos, que agora já não têm condições para governar independentemente de inocentes ou culpados, podemos cair, e o nosso país é frágil nesse aspecto, numa situação próxima da ingovernabilidade ou de progressiva descredibilização dos políticos.

Lembremo-nos que a quando da nossa 1ª República, desde 1911 a 1926, tivemos 31 chefes de governo e os jornais espanhóis, divertindo-se com a nossa situação política, escreviam: “Ontem, por ser Domingo, não houve revolução em Portugal”.

Farto, o povo, acabou por receber de braços de braços o ditador Salazar, hipótese agora inviabilizada por integrarmos a União Europeia mas, quando vejo certos sorrisos de alguns políticos, nossos parlamentares, por graça, pergunto a mim próprio: “e se a história se repetisse…?”

Futuramente, um novo chefe de governo, provavelmente escolherá, não as decisões difíceis das reformas que desencadeiam a revolta e manifestações de polícias, magistrados, médicos, enfermeiros, professores, alunos, etc., isto, na hipótese de não o escolherem como alvo de um qualquer exercício de tiro ao boneco, mas optará, talvez, pela gestão corrente dos negócios do estado… e isto enquanto formos tendo estado.

Portugal poderá tornar-se ingovernável e perder condições de nação independente se continuarmos por um caminho em que nem sequer maiorias absolutas garantem estabilidade política.

José Sócrates não será um primeiro ministro perfeito, também ninguém esperaria isso, mas com falhas e tiques de autoritarismo que tanto desagradam à oposição, como se esse fosse o busílis da questão, o que é facto é que tem sido determinado e reformador e se olharmos à volta quem é que se descortina para o seu lugar?

No meio de todos os gravíssimos problemas que atravessamos com que ânimo partiremos nós agora, se vier a ser o caso, para uma nova crise política?

Será que o tal general romano tinha mesmo razão quando falava de um povo que não sabia governar-se nem deixava que o governassem?

Que espécie de maldição recaiu sobre nós?

Sinceramente, começam a ser demasiados pontos de interrogação!

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