sexta-feira, janeiro 02, 2009


Os senhores da iurd





Os senhores da iurd (igreja universal do reino de deus) são como os abutres que cheiram a quilómetros os animais mortos e de acordo com a sua estratégia começam por sobrevoar os céus antes de pousar nas árvores próximas e aguardarem aí o momento propício para atacar as carcaças.

Os abutres, no entanto, desempenham um papel muito útil na natureza livrando-a de restos de animais que os restantes predadores desprezaram ou mesmo antecipando-se a eles, são os chamados necrófagos.

Ao contrário, os senhores da iurd, não se interessam por cadáveres, apenas por pessoas no estertor dos problemas, da dor, das dificuldades, frágeis e fragilizadas, carentes de uma mão amiga, de uma palavra de carinho, de estímulo.

Atentos a estas situações, os seus dirigentes apresentaram agora na Banca um pedido de financiamento de não sei quantos milhões para construírem uma sede na cidade do Porto que, segundo as suas previsões, estará paga nos próximos 15 anos.

Estas previsões optimistas baseiam-se em perspectivas relacionadas com a crise que esperam, venha a abater-se sobre as pessoas.

“Dê até doer”… é a palavra de ordem dos mensageiros do além, espécie de cobradores de deus, para os quais haverá sempre, lá ao canto da gaveta, um dinheirinho para entregar, um anel para penhorar, ou uma necessidade que pode ficar por satisfazer.

Em troca, vendem ilusões, um discurso que foi estudado, ensaiado, experimentado e comprovado…nunca falha.

As suas fortunas crescem por todo o lado impunemente, com a cobertura da lei, no silêncio das autoridades, no receio da Igreja de Roma que se vê de mãos atadas perante estes assaltos às ovelhas do seu rebanho.

Infelizmente, bem vistas as coisas, o negócio é o mesmo. Um começou há 2.000 anos, o outro, há meia dúzia deles.

E as receitas “deslumbrantes”do santuário de Fátima e de todos os outros santuários, e as dádivas, as bulas, as heranças, tudo o resto?

Ah!, mas aqui temos a meritória acção social da Igreja católica junto da sociedade no apoio aos mais carecidos…pois temos, a igreja de Roma refinou-se, atenta a uma sociedade cada mais crítica e atenta, mas o fenómeno da exploração da crença é o mesmo e por isso ela está de “mãos atadas” perante os senhores da iurd que, tal como os padres, dizem também falar em nome de deus, o mesmo deus pelo qual as pessoas se matam hoje, na Faixa de Gaza, no Iraque, no Paquistão, no Afeganistão, na Índia, tal como sempre se mataram ao longo dos tempos por causa de um deus qualquer.

O problema mergulha na noite dos tempos, no dealbar da humanidade, quando a sobrevivência da nossa espécie constituía um duro “osso de resolver”.

Frágeis à nascença, um longo período de dependência dos progenitores e perigos, muitos perigos a rodeá-los por todo o lado e nós sabemos bem como os miúdos são traquinas, curiosos, irrequietos…

E os pais, olhando para eles de dedo em riste diziam:

- “o menino não vai para o rio porque está lá um crocodilo e come-o; o menino não vai para trás daquela rocha porque está lá um precipício por onde pode cair”.

Havia, então, dois tipos de meninos: os que acreditavam no que os pais lhes diziam e não iam para o rio ou para junto do precipício e ficavam, por isso, com maiores probabilidades de sobreviverem e terem filhos, que também como eles, acreditariam no que lhes dissessem, e os outros, que não acreditaram e por isso não tiveram tantas probabilidades de sobreviver e terem filhos, como eles, não crentes.

E isto foi assim, geração após geração, dezenas de milhar de anos, atrás de dezenas de milhar de anos, por um processo de selecção natural, igual a tantos outros, que se criou no nosso cérebro um espaço para acreditarmos, como também se criou um espaço para nos apaixonarmos, tudo em nome da sobrevivência.

Mas esse espaço do nosso cérebro que nos “manda” acreditar, sim, “manda”, porque não é pelos bonitos olhos dos padres ou dos senhores da iurd que as pessoas acorrem a prostrarem-se aos seus pés e a darem-lhes dinheiro, por muita habilidade que eles tenham em sacá-lo e têm-na, sem dúvida.

O mecanismo da fé é cego, manda acreditar mas não diz em quê e por isso, quando os nossos antepassados selvagens disseram aos meninos que se eles cortassem o pescoço à cabra a próxima caçada seria um êxito, eles “não viram” nenhuma razão para não acreditarem como já tinham acreditado, e acertadamente, no perigo do crocodilo e do precipício.

A exploração do mecanismo da crença é o traço de união de todas as religiões, o chamado ecumenismo que salienta a necessidade de todas as religiões viverem em paz e repartirem entre si o “bolo” comum de acordo com os méritos de cada uma delas.

Como eles dizem: “com nomes diferentes, o Deus é o mesmo” e é precisamente o mesmo!

O mecanismo da crença é muito forte, está ligado a factores ancestrais de sobrevivência e embora a razão, a inteligência e as evidências constituam, igualmente, traços distintivos da nossa espécie, é mais fácil obedecer à crença instintiva do que à força da razão.

Hostilizar os senhores da iurd não é hostilizar as pessoas que são vítimas deles, porque os primeiros estão de má fé, foram industriados, preparados para um negócio de exploração da crença, os segundos são duplamente vítimas, da iurd e da crença com que nasceram e que tendo servido os objectivos da sobrevivência da espécie serviu, igualmente, um sub-produto chamado religião.

Dialogar com paciência, respeito e compreensão por todos os que se sentem ligados a crenças é o ponto de partida… na maioria dos casos elas acompanhá-los-ão até ao fim da vida.

Uma pequena percentagem libertar-se-á delas e os filhos dessas pessoas terão muito mais probabilidades de serem livres para viverem as suas vidas sem condicionantes religiosos.

Livres, para viverem a vida tal como ela é, respeitando a natureza e os outros, praticando com eles, todos eles, cristãos, maometanos, hindus, a amizade, a solidariedade, sem atacar ninguém pela sua forma de pensar e sentir.

Os bons sentimentos não são propriedade de ninguém, desta ou daquela religião, de crentes ou não crentes, simplesmente, e não é pouco, estes últimos estão livres e descomprometidos para os exercerem em melhores condições.

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