quinta-feira, fevereiro 26, 2009



Mentes Pornográficas




A fotografia que acompanha este texto, um nu feminino, é a reprodução de um Quadro de Gustav Courbet que está exposto no Museu D’Orsay, em Paris, com o título a “Origem do Mundo” e foi colocado como capa num livro posto à venda na cidade de Braga.

Gustav Courbet (1819-1877) foi um pintor anarquista francês pertencente à escola realista. Pintou principalmente paisagens campestres e marítimas preocupando-se em colocar nas suas pinturas a realidade fruto de uma observação directa.

Como resultado de “queixas de pornografia” apresentadas por vários cidadãos, a PSP mandou apreender os livros e o que apetece dizer é que estas “queixas de pornografia”, por uma razão destas, só pode ter origem em mentes, elas sim, pornográficas.

Mas é evidente, que a estranheza não tem a ver com estas mentes, cada vez em menor número mas sempre existirão, o que admira, espanta e quase não se acredita, é que a PSP tenha agido em função dessas queixas.

Se o autor da ordem de apreensão dos livros tinha alguma dúvida sobre o que é pornografia bastava consultar um dicionário de português, que deveria existir em todas as Esquadras da Polícia ou no gabinete de qualquer juiz, procurar a palavra “pornografia” e ficaria a saber que esta é: “Arte ou literatura que tem por assunto actos obscenos, devassidão”.

Obviamente, a fotografia da pintura de uma mulher nua, não é, nem pode ser, um acto obsceno e não tem nada a ver com devassidão. Teria sido, portanto, muito fácil à PSP não dar seguimento à queixa apresentada por alguns cidadãos possuidores de mentes pornográficas, simplesmente com base no Dicionário de Português da Porto Editora.

Mas é evidente que esta questão é muito mais profunda e no essencial está longe de ter alguma coisa a ver com o desconhecimento do significado da língua portuguesa.

O que dói nesta notícia é verificar que as Autoridades neste país: PSP, Juízes, etc., continuam a reverenciar e a obedecer, sem hesitações, à mentalidade beata de uma Igreja atrasada que dita as suas leis na nossa herança cultural/religiosa.

Mas por quê este horror ao “nu”, ao “feminino” e ao sexo, por parte da Igreja?

- Porque a Igreja abomina o prazer, a felicidade natural transmitida pelo sexo, mesmo sabendo que ela constitui um mecanismo da natureza para assegurar a propagação da vida.

Prazer é pecado e o homem está condenado ao sofrimento porque é muito menos que o seu Deus feito homem que morreu por nós sofrendo numa cruz.

A Igreja precisa de homens que aprendam a ser felizes mas no seu seio, em oração, na sua dependência, na disciplina da sua Hierarquia, e não na liberdade do seu pensamento e de acordo com a sua natureza biológica.

Este é o âmago da questão: sem pecado, medo, sofrimento, oração, arrependimento, penitência e recompensas ou castigos no outro mundo…não há religiões e o que seria deste mundo sem “pastores” e “rebanhos”...!?

Quem estiver a acompanhar a história da Tieta do Agreste, de Jorge Amado, não se compadecerá do filho mais velho da irmã, Perpétua, o Ricardo, que com 17 anos anda no seminário a estudar para padre por vontade da mãe que já nasceu com vocação para beata?

Um jovem, cheio de saúde, na força da idade que reza Padres-nossos enquanto espalha creme nas costas da tia como única forma de não pecar por maus pensamentos!

Perdoem-me o aproveitamento, mas isto não tem algo de “diabólico”?

Aquilo que a Igreja Católica faz aos jovens que entram para os Seminários em tenras idades é castrá-los mentalmente o que é pior que a castração física por não interromper os seus fluxos de hormonais.

Mulher nua na capa de um livro exposto na montra de uma livraria na cidade dos Arcebispos não é um atentado ao pudor, à moral da Igreja, é sim, um desafio ao seu poder e por isso, o outro poder, aquele que lhe é servil, corre pressuroso a retirar os livros das montras e a mandar cortar as imagens de mulheres nuas no computador Magalhães pelas festas do Carnaval de Alcobaça, também a pedido de “mentes pornográficas” daquela cidade e sempre em obediência ao poder da Igreja mesmo que, aparentemente, ele pareça já não existir.





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