Tieta do Agreste
EPISÓDIO Nº 47
Pobre Perpétua! O que já engoliu de sapos de ontem para hoje! Faz visível esforço para mostrar-se atenciosa, tolerar a invasão de sua casa, a violação de tantos preconceitos. Antonieta não pode imaginá-la casada; pena não tê-la visto com o marido. Como se comportava? Precisa perguntar a Carmosina. Beijavam-se em público? Certamente, não. Percebera Aminthas segredando a Osnar que Perpétua não beija, oscula. Ao Major oscularia ou, perdida a tramontana, aplicava-lhe uns chupões? Na cama como seria? Não passavam, sem dúvida, nos embates nocturnos, do clássico papai e mamãe. Ou passariam? Nesse particular, o impossível acontece. Tieta pode dar testemunho. Devia ser algo monumental, Perpétua embolada com o marido naquela cama, sobre o colchão de lã de barriguda.
Tieta ri baixinho, imaginando Perpétua de pernas abertas por baixo do Major, visão insólita. Esquecendo-se de que, se não fosse a rápida passagem de Lucas por Agreste, tão pouco ela provaria ali outro gosto de homem além do trivial. Acontecera também naquela cama de casal, de dona Eufrosina e do doutor Fulgêncio, louca coincidência. Durara pouco, algumas noites tão-somente, todas elas por inteiro de delírio. Pela janela aberta penetrava o céu de mil estrelas. No seu xibiu nascia a estrela da manhã.
Quando pela primeira vez pulou a janela, invadiu o quarto, subiu na cama e suspendeu a saia, era uma cabra em cio, faminta de homens, ignorante de tudo o mais. Lucas entendeu e riu. Vou te ensinar a amar, prometeu e ensinou do a ao zê, passando pelo ipicilone.
Não sabe como é o ipicilone? É o melhor de tudo, vou-lhe mostrar.
No decorrer da vida tão vivida, Tieta não voltara a encontrar a prática sensacional do ipicilone; a muitos ensinara, trunfo irresistível.
Nas ruas da Baía, procurara Lucas, inutilmente. Indagou de muitos: conhece doutor Lucas? Lucas de quê? Não tivera curiosidade de perguntar, sabia-o apenas médico e bom de cama. Ninguém pôde lhe informar.
Educara-se em curso intensivo naquele leito de dona Eufrosina, onde depois Perpétua e o Major dormiram e fizeram filhos. Burro como um toco de pau, escrevera Carmosina na carta sobre os presentes, a propósito do falecido cunhado. Se o Major fosse vivo, você podia trazer para ele uma cangalha, ia-lhe bem. Curto de inteligência mas bem dotado de físico, um tipão: moreno de pescoço! Tanta moça dando sopa em Agreste, qualquer delas feliz se arranjasse casamento, fosse com ele ou com quem fosse, desde que vestisse calças e o obtuso escolhe, prefere, leva ao altar a beata Perpétua, aquele estrepe, donzela encruada, cara de prisão de ventre. Mais estranho ainda, foram felizes e o luto que ela enverga, fechado e exposto, nada tem de hipócrita, reflecte sentimento verdadeiro, dor profunda.
Deus tivera pena dos meninos, contara Carmosina na carta relatório de tanta utilidade; saíram ao pai na presença e no carácter, alegres, cordiais, simpáticos, da mãe herdaram apenas a inteligência. Perpétua pode ter todos os defeitos mas não é tapada, sabe raciocinar e agir, poço de ambição.
Tieta pensa nos meninos, goste dos dois. Quando decidira a viagem, pensara que se iria apegar ao pequeno de Elisa, adorava crianças. Mas esse morrera, Carmosina explicara na carta o motivo do silêncio da irmã – a culpa é sobretudo minha, melhor dito da pobreza; sem a ajuda mensal, Elisa se encontraria privada de quase tudo, mentiu sob conselho meu. Tieta perdoara mas não esquecera. Sobraram os dois de Perpétua: no leito perseguindo o sono, a tia com os sobrinhos.
O pequeno, um malandro, malicioso, sabidíssimo. Não tira os olhos dela e de Leonora, medindo as coxas desnudas, bispando nos decotes as curvas dos seios. Ainda não atingiu a idade mas para isso haverá limites rígidos, realmente?
Em troca, Ricardo é exemplo de recato e pudicícia, vive desviando a vista, com medo de pecar, violentado coroinha. Coroinha, não, seminarista, destinado ao serviço de Deus. Tamanho de corpanzil e de camisolão! Tieta recorda e morde os lábios.
Um frangote, não chegou ao ponto exacto. Se fosse mulher estaria de pito aceso, homem tarda mais, sobretudo se lhe enfiam uma batina, capam-lhe os bagos com o temor de Deus, ameaçam-no com as chamas do inferno. O pequeno vai desarnar cedo, é um corisco; o destino de Ricardo é permanecer donzelo, que maldade!
Fosse mais taludo, a tia lhe ensinaria o que é bom. Está porém, ainda muito verde. Tieta jamais gostou de homem jovem, preferindo-os sempre mais velhos do que ela. Bode bom de cabra é aquele que tem idade e experiência.
EPISÓDIO Nº 47
Pobre Perpétua! O que já engoliu de sapos de ontem para hoje! Faz visível esforço para mostrar-se atenciosa, tolerar a invasão de sua casa, a violação de tantos preconceitos. Antonieta não pode imaginá-la casada; pena não tê-la visto com o marido. Como se comportava? Precisa perguntar a Carmosina. Beijavam-se em público? Certamente, não. Percebera Aminthas segredando a Osnar que Perpétua não beija, oscula. Ao Major oscularia ou, perdida a tramontana, aplicava-lhe uns chupões? Na cama como seria? Não passavam, sem dúvida, nos embates nocturnos, do clássico papai e mamãe. Ou passariam? Nesse particular, o impossível acontece. Tieta pode dar testemunho. Devia ser algo monumental, Perpétua embolada com o marido naquela cama, sobre o colchão de lã de barriguda.
Tieta ri baixinho, imaginando Perpétua de pernas abertas por baixo do Major, visão insólita. Esquecendo-se de que, se não fosse a rápida passagem de Lucas por Agreste, tão pouco ela provaria ali outro gosto de homem além do trivial. Acontecera também naquela cama de casal, de dona Eufrosina e do doutor Fulgêncio, louca coincidência. Durara pouco, algumas noites tão-somente, todas elas por inteiro de delírio. Pela janela aberta penetrava o céu de mil estrelas. No seu xibiu nascia a estrela da manhã.
Quando pela primeira vez pulou a janela, invadiu o quarto, subiu na cama e suspendeu a saia, era uma cabra em cio, faminta de homens, ignorante de tudo o mais. Lucas entendeu e riu. Vou te ensinar a amar, prometeu e ensinou do a ao zê, passando pelo ipicilone.
Não sabe como é o ipicilone? É o melhor de tudo, vou-lhe mostrar.
No decorrer da vida tão vivida, Tieta não voltara a encontrar a prática sensacional do ipicilone; a muitos ensinara, trunfo irresistível.
Nas ruas da Baía, procurara Lucas, inutilmente. Indagou de muitos: conhece doutor Lucas? Lucas de quê? Não tivera curiosidade de perguntar, sabia-o apenas médico e bom de cama. Ninguém pôde lhe informar.
Educara-se em curso intensivo naquele leito de dona Eufrosina, onde depois Perpétua e o Major dormiram e fizeram filhos. Burro como um toco de pau, escrevera Carmosina na carta sobre os presentes, a propósito do falecido cunhado. Se o Major fosse vivo, você podia trazer para ele uma cangalha, ia-lhe bem. Curto de inteligência mas bem dotado de físico, um tipão: moreno de pescoço! Tanta moça dando sopa em Agreste, qualquer delas feliz se arranjasse casamento, fosse com ele ou com quem fosse, desde que vestisse calças e o obtuso escolhe, prefere, leva ao altar a beata Perpétua, aquele estrepe, donzela encruada, cara de prisão de ventre. Mais estranho ainda, foram felizes e o luto que ela enverga, fechado e exposto, nada tem de hipócrita, reflecte sentimento verdadeiro, dor profunda.
Deus tivera pena dos meninos, contara Carmosina na carta relatório de tanta utilidade; saíram ao pai na presença e no carácter, alegres, cordiais, simpáticos, da mãe herdaram apenas a inteligência. Perpétua pode ter todos os defeitos mas não é tapada, sabe raciocinar e agir, poço de ambição.
Tieta pensa nos meninos, goste dos dois. Quando decidira a viagem, pensara que se iria apegar ao pequeno de Elisa, adorava crianças. Mas esse morrera, Carmosina explicara na carta o motivo do silêncio da irmã – a culpa é sobretudo minha, melhor dito da pobreza; sem a ajuda mensal, Elisa se encontraria privada de quase tudo, mentiu sob conselho meu. Tieta perdoara mas não esquecera. Sobraram os dois de Perpétua: no leito perseguindo o sono, a tia com os sobrinhos.
O pequeno, um malandro, malicioso, sabidíssimo. Não tira os olhos dela e de Leonora, medindo as coxas desnudas, bispando nos decotes as curvas dos seios. Ainda não atingiu a idade mas para isso haverá limites rígidos, realmente?
Em troca, Ricardo é exemplo de recato e pudicícia, vive desviando a vista, com medo de pecar, violentado coroinha. Coroinha, não, seminarista, destinado ao serviço de Deus. Tamanho de corpanzil e de camisolão! Tieta recorda e morde os lábios.
Um frangote, não chegou ao ponto exacto. Se fosse mulher estaria de pito aceso, homem tarda mais, sobretudo se lhe enfiam uma batina, capam-lhe os bagos com o temor de Deus, ameaçam-no com as chamas do inferno. O pequeno vai desarnar cedo, é um corisco; o destino de Ricardo é permanecer donzelo, que maldade!
Fosse mais taludo, a tia lhe ensinaria o que é bom. Está porém, ainda muito verde. Tieta jamais gostou de homem jovem, preferindo-os sempre mais velhos do que ela. Bode bom de cabra é aquele que tem idade e experiência.
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