terça-feira, março 03, 2009


Mataram o Nino !


A cultura da violência saída das guerras coloniais prossegue o seu caminho. Sobreviveram às emboscadas, aos bombardeamentos, aos ardis da luta subversiva e acabam às mãos ou às bombas dos seus camaradas de guerra.

Ficou-lhes na boca o gosto da morte e se uma guerra acabou era preciso continuar outras… podiam ter morrido como heróis, armas na mão em luta pela liberdade dos seus destinos colectivos, mas acabaram sem honra, assassinados pelos seus “irmãos” de uma vida.

O percurso da história escreve-se sobre o passado e conta-se, não pelo decorrer dos anos, mas sim pelo das gerações e a geração que fez a guerra, mesmo ganhando-a, ficou lá, presa à adrenalina, ao cheiro do sangue.

É mais fácil ganhar a guerra do que a paz, um país e muito menos ainda o desenvolvimento e o progresso das populações.

As qualidades para guerrear nas selvas de África e conduzir homens debaixo de fogo, por muitas que sejam, não são, quase sempre, as mesmas necessárias para governar e Nino que foi, indubitavelmente, um grande e corajoso chefe de guerrilha, foi completamente incapaz de unir o seu povo e construir o país pelo qual tanto lutou.

Amílcar Cabral não poderia sentir-se mais frustrado e desiludido se pudesse ver sua Guiné possuída por traficantes de droga, talvez a situação mais indigna e humilhante que lhe poderia estar reservada e Nino assistiu, conviveu e talvez tenha tirado proveito desta situação a que o país chegou.

Atendendo ao seu passado heróico, exceptuando o aspecto humano, Nino mereceu o fim que lhe reservaram e se o seu país vier a ter futuro, o lugar que a história lhe destinará só deverá ser escrito até ao momento em que a guerra com a tropa colonial terminou e a paz foi celebrada.

A partir daí portou-se como um mau chefe tribal não sendo capaz de preencher o papel que estes desempenham nessas sociedades.

Alianças feitas e desfeitas, traições, esquemas e negociatas, vinganças, ordens para matar, foi o que sobreviveu aos seus feitos guerreiros.

Como disse Mário Soares:

- “Ele era um homem violento, em si próprio, e morreu na violência…”




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