quinta-feira, abril 02, 2009


O Meu Comentário à Resolução do Conselho dos
Direitos Humanos da ONU


Perante as evidências históricas dos malefícios das religiões que ao longo dos tempos estiveram na origem da ruptura da sociedade humana em grandes grupos que se guerrearam entre si a propósito de terem crenças diferentes ou ligeiramente diferentes, concentrando o ódio e a intolerância que explodiram em guerras e sacrifícios humanos incontáveis;

Face à realidade dos noticiários dos nossos tempos em que homens, mulheres e crianças, em nome de Deus, explodem enrolados em bombas, em casos repetidos, quase diários, provocando a morte de centenas de pessoas seus concidadãos;

Perante o espectáculo triste e degradante de pessoas que se arrastam de joelhos em Fátima, ou que se chicoteiam com correntes de ferro nas ruas de Bagdad, ou se crucificam em certos países da América Latina;

Quando o chefe máximo da igreja católica, Bento XVI, vai de visita a África e condena o uso do preservativo numa daquelas “subtilezas” da doutrina que pode, indirectamente, condenar à morte milhares de pessoas;

Perante tudo isto, que acontece nome de Deus e das Religiões, o Conselho de Direitos Humanos da ONU aprova uma Resolução que condena “a difamação da religião”.

Ou seja, nos termos desta resolução, não só são aprovados
todos estes comportamentos como igualmente é condenada a sua denúncia.

Vindo de um Organismo Internacional como a Organização das Nações Unidas, que deveria ser referência para todos os países do mundo, esta resolução, entre outras coisas, significa um atraso civilizacional.

As pessoas não são crentes porque o queiram ser, obedecem a impulsos de crença que estão fora do seu controle os quais, já nos foi explicado, se abriram no nosso cérebro como espaços de fé.

No início da humanidade, a sobrevivência da nossa espécie foi muito difícil e periclitante e todas as tentativas dos nossos primos humanóides falharam. Finalmente, uma sobreviveu: a nossa e isso só foi possível pelo triunfo da razão, da inteligência, do raciocínio que fizeram dos homens os únicos seres racionais.

Mas o caminho foi longo e no início qualquer pequeno contributo significava a diferença entre a extinção e a continuação.

Fisicamente éramos seres frágeis, à mercê de todos os perigos e para os evitar eram necessários cuidados, previsões de risco com comportamentos adequados, que eram ensinados às crianças pelos pais e pessoas mais velhas. Aquelas que acreditavam e seguiam escrupulosamente os comportamentos recomendados tiveram mais hipóteses de procriarem e ao longo de centenas de gerações, por questões de sobrevivência da espécie, num processo vulgar de selecção, o nosso cérebro desenvolveu essa característica.

Mas se a crença naquilo que os nossos pais e pessoas mais velhas nos diziam contribuiu para a nossa sobrevivência, foram a razão, a inteligência e o conhecimento que ditaram, mais do que o triunfo, o extraordinário sucesso da nossa espécie.

O dispositivo da crença instalado no nosso cérebro “manda-nos” acreditar mas não nos diz em quê e por isso é um mecanismo perigoso, porque é “cego”.

Repito aqui, o que o perspicaz Lutero escreveu:

- “Não se pode ser cristão sem cortar a cabeça à razão”.

E não resisto a transcrever Steven Weinberg, físico norte-americano, galardoado com o prémio Nobel:

- “A religião é um insulto à dignidade humana. Com ou sem ela, haveria sempre gente boa a fazer o bem e gente má a fazer o mal. Mas é preciso a religião para por gente boa a fazer o mal”

Blaise Pascal disse algo semelhante:

-“Os homens nunca fazem o mal tão completa e alegremente como quando o fazem por convicção religiosa”

A religião não liberta, aprisiona, condiciona. Não se pode ser livre quando estamos obrigados a obedecer a imperativos que não compreendemos e repudiamos mesmo do ponto de vista da
nossa razão.

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