segunda-feira, abril 27, 2009

Os heróis com pés de barro de João César das Neves

Na sua coluna de hoje no DN, João César das Neves faz a recensão acrítica da tradução para português da obra "Intelectuais" do panfletista de extrema-direita britânico Paul Johnson. O panfleto a que JCN alude trata-se de uma compilação de "biografias" de alguns intelectuais que moldaram decisivamente a cultura, as artes e a filosofia (Rousseau, Marx, Ibsen, Hemingway, Brecht, Tolstoi, Russel, Sartre, Gollancz), recorrendo à verrina e procurando desvalorizar o seu humanismo com recurso aos mais baixos argumentos ad hominem, elencando e fazendo a exegese dos seus defeitos e taras.

Ora Paul Johnson, "guru" da extrema-direita anglo-saxónica, herói dos "neo-cons" americanos, é alegadamente um santo com pés de barro. Foi publicamente desmascarado pela sua amante durante 11 anos (Johnson é casado e pai de família), Gloria Stewart, que entre outros detalhes íntimos, revelou as tendências masoquistas de Johnson, que aparentemente gosta de ser espancado (veja-se aqui, aqui e aqui).

Cá está uma manifestação típica do falso moralismo da grande maioria dos fanáticos religiosos/moralistas, que frequentemente têm eles próprios esqueletos no armário. Johnson através da verrina procurou denegrir personalidades que pela sua obra marcaram a humanidade salientando os detalhes negros da sua vida privada. Johnson também tem os seus pecadilhos, e a sua obra reduz-se a panfletos de baixa extracção. JCN devia escolher melhor os seus ídolos...
posted by Rui Cascao @ 4:28 AM

www.ponteeuropa.blogspot.com


Comentário:


João César das Neves é um católico compulsivo-militante-de-grande vocação religiosa. Tivesse ele seguido a via do Seminário e o sacerdócio não lhe escapava seguindo aquela linha de grande intransigência comportamental que afasta, mais do que atrai, os candidatos a devotos do Senhor.
No tempo das cruzadas tê-lo-íamos visto, a pé ou a cavalo, atravessar o Mediterrâneo para ir libertar o Santo Sepulcro da presença "tinhosa" dos infiéis.
Ele não compreende a razão por que todos não são crentes como ele e reage mal aos que se manifestam em discordância das suas convicções religiosas e, muito especialmente, não percebe porque a maioria esmagadora dos grandes intelectuais, cientistas, prémios Nobel são ateus ou não crentes, como também tem dificuldade em entender por que são as sociedades mais atrasadas, menos desenvolvidas, com maior grau de analfabetismo, as mais fervorosamente religiosas.
Será a religião o grande refúgio dos “pobresinhos” ? “…vinde a mim que será vosso o reino dos céus”.
Efectivamente, a selecção natural constrói o cérebro das crianças de maneira a neles incutir uma tendência para acreditarem naquilo que os pais e os chefes das tribos lhes dizem. Tal, favorece a sobrevivência mas por outro lado, essa mesmo selecção natural, privilegiou a inteligência e o uso da razão – qualidades decisivas para o sucesso da nossa espécie - que não se compatibilizam com dogmas e explicações que se subtraem completamente a tudo aquilo que hoje é o conhecimento científico da humanidade.
Por esta razão, à medida que as pessoas evoluem intelectual e cientificamente, os critérios da razão e do saber vão-se impondo gradualmente no sentido de destronar a predisposição para as crenças com que nascemos.
De um total de 43 estudos realizados desde 1927 sobre a relação entre a crença religiosa e o grau de inteligência/instrução apenas 4 encontraram uma conexão inversa.
João César das Neves, académico, economista, católico fervoroso, revolta-se porque nada pode fazer contra os números que provam esta realidade social e então vinga-se dizendo mal, no jornal onde escreve, de iminentes intelectuais da nossa cultura acima mencionados mas fá-lo pela boca de um panfletista de extrema-direita britânico, Paul Johnson, que ele deveria ter pudor sequer em citar pelas razões que são denunciadas no blog acima transcrito.
A imensa maioria dos homens intelectualmente eminentes descrê da religião cristã, mas escondem o facto em público por receio de perderem os proventosescreveu Bertrand Russel e ficou-se agora a saber que Paul Johnson não gostou e João César das Neves também não…

E não resisto, mais uma vez, a repetir o que disse Steven Weinberg, físico norte-americano, galardoado com o prémio Nobel:
…Com ou sem religião, haverá sempre gente boa a fazer o bem e gente má a fazer o mal. Mas é preciso a religião para pôr gente boa a fazer o mal”
Esperemos que não seja o caso de João César das Neves mas esta “tirada” com recurso ao Sr. Paul Johnson, panfletista de extrema direita britânico, não é de bom augúrio…

Site Meter