Tieta do Agreste
EPISÓDIO Nº 115
- Elizabeth Valadares, Bety para os amigos, Bebé para os íntimos. Carioca de gema, garota de Ipanema. Morou na rima?
Sorri com inúmeros dentes, alvíssimos, bem tratados, boca de anúncio de pasta dentífrica:
- Trago um recado para você, amor. – Amor é Ascânio Trindade para desaponto de Osnar. – Do Magnífico Doutor.
- De quem? – Ascânio, num pé e noutro. – Repita, por favor.
- Do doutor Mirko Stefano, darling, não sabe? Tratam ele de Magnífico Doutor e é mesmo. Você vai se dar conta sozinho, amor. É aquele pão doce que veio comigo da outra vez, se lembra? Mandou dizer a você que não pôde vir hoje, teve de ir a São Paulo para uma entrevista importante, mas dentro de poucos dias aparecerá para conversar com você e acertar tudo.
- Tudo?
- Tudo, sim, honey. Tudinho.
- Mas tudo o quê?
- Ah!, isso não sei, quem sabe é o Magnífico, é assunto dele e seu, não me meto. Discrição é o meu lema. Agora, adeusinho, sonhe comigo, petit amour. Adeus para você também, lindo. – Lindo é Osnar, ele se regala: se pego essa boa no escuro, vai sair faísca, Bebé vai saber o valor do pau de um sertanejo.
- Vamos, patota! – comanda a mítica secretária.
- Não tem mais nada para se ver aqui? – pergunta o nervoso Rufo, abanando a cabeleira de Mona Lisa.
- Nada.
- Que saco!
Decorador enfadado mas atento, o esteta Rufo passa em frente a Osnar sem o notar sequer. Mede, porem, o garoto Peto e o aprova mordendo o lábio, lânguido. Osnar acompanha-lhe o olhar e gesto: xibungo sem vergonha, bicha louca, não respeita nem mesmo uma criança. Criança? O corneta cresceu, espichou, certamente de tanto bater bronha, está chegando a hora de Osnar cumprir a promessa feita e levá-lo à pensão de Zuleika.
- Com quantos anos você está, sargento Peto?
- Vou fazer treze no dia 8 do mês que vem.
- Oito de Janeiro! Muito que bem.
Treze anos, a idade exata, Osnar vai combinar a festa com Zuleika e Aminthas, com Seixas e Fidélio. Na surdina, escondido de Astério, senão ele conta a dona Elisa e dona Perpétua acaba por tomar conhecimento, o mundo vira abaixo. Osnar sorri consigo mesmo, vai ser uma pândega, um rebucetê.
Ao cair da noite, chegando de Mangue Seco na canoa a motor, comandante Mário disse ter sido vista uma escuna ancorada na barra, dela haviam baixado duas lanchas, uma das quais a que subira o rio, escalando em Agreste; a outra desembarcara indivíduos e instrumentos na praia. Andaram fazendo perguntas aos pescadores, internaram-se, depois, no coqueiral. Ao Comandante todo esse movimento parece suspeito.
Ascânio Trindade, agora inteiramente certo de que se trata do estabelecimento de uma empresa turística na região, promete ao Comandante notícias concretas nos próximos dias. O mandachuva enviou a secretária executiva com recado, virá em breve para conversar, na certa para anunciar os projectos e obter apoio da Prefeitura. Apoio que não faltará, Comandante. Com o turismo reergendo Agreste, Ascânio, timoneiro a comandar o progresso do município, poderá ter esperanças de transformar o sonho em realidade.
Depois de tantos anos, pela primeira vez Ascânio Trindade sente-se mordido pela ambição, pelo desejo de ser alguém. Alguém com possibilidades de lutar por Leonora Cantarelli, bela e rica. Antes completamente inacessível, uma quimera. Agora conquista a ser realizada, meta a ser cumprida por um batalhador com os pés na terra, ideal de quem provou, em transe difícil, em duro desafio, coragem e competência capazes de superar os obstáculos e ir em frente, aspiração de um jovem temerário e lúcido a vencer as provações. A mais difícil, a que o virara do avesso, a essa Ascânio já vencera, falta-lhe tão-somente melhorar de vida, ser alguém, para poder aspirar à mão de Leonora, pedi-la em casamento. Ela rica, ele pobre. Não importa mais. Porque, se ele não tem fortuna a oferecer-lhe, em compensação ela já não possui o bem mais precioso que a noiva deve trazer para ofertar ao noivo na noite de matrimónio, o sangue da virgindade. Na face de Ascânio espelha-se a vitória mas não a paz, constata o comandante Dário.
Sorri com inúmeros dentes, alvíssimos, bem tratados, boca de anúncio de pasta dentífrica:
- Trago um recado para você, amor. – Amor é Ascânio Trindade para desaponto de Osnar. – Do Magnífico Doutor.
- De quem? – Ascânio, num pé e noutro. – Repita, por favor.
- Do doutor Mirko Stefano, darling, não sabe? Tratam ele de Magnífico Doutor e é mesmo. Você vai se dar conta sozinho, amor. É aquele pão doce que veio comigo da outra vez, se lembra? Mandou dizer a você que não pôde vir hoje, teve de ir a São Paulo para uma entrevista importante, mas dentro de poucos dias aparecerá para conversar com você e acertar tudo.
- Tudo?
- Tudo, sim, honey. Tudinho.
- Mas tudo o quê?
- Ah!, isso não sei, quem sabe é o Magnífico, é assunto dele e seu, não me meto. Discrição é o meu lema. Agora, adeusinho, sonhe comigo, petit amour. Adeus para você também, lindo. – Lindo é Osnar, ele se regala: se pego essa boa no escuro, vai sair faísca, Bebé vai saber o valor do pau de um sertanejo.
- Vamos, patota! – comanda a mítica secretária.
- Não tem mais nada para se ver aqui? – pergunta o nervoso Rufo, abanando a cabeleira de Mona Lisa.
- Nada.
- Que saco!
Decorador enfadado mas atento, o esteta Rufo passa em frente a Osnar sem o notar sequer. Mede, porem, o garoto Peto e o aprova mordendo o lábio, lânguido. Osnar acompanha-lhe o olhar e gesto: xibungo sem vergonha, bicha louca, não respeita nem mesmo uma criança. Criança? O corneta cresceu, espichou, certamente de tanto bater bronha, está chegando a hora de Osnar cumprir a promessa feita e levá-lo à pensão de Zuleika.
- Com quantos anos você está, sargento Peto?
- Vou fazer treze no dia 8 do mês que vem.
- Oito de Janeiro! Muito que bem.
Treze anos, a idade exata, Osnar vai combinar a festa com Zuleika e Aminthas, com Seixas e Fidélio. Na surdina, escondido de Astério, senão ele conta a dona Elisa e dona Perpétua acaba por tomar conhecimento, o mundo vira abaixo. Osnar sorri consigo mesmo, vai ser uma pândega, um rebucetê.
Ao cair da noite, chegando de Mangue Seco na canoa a motor, comandante Mário disse ter sido vista uma escuna ancorada na barra, dela haviam baixado duas lanchas, uma das quais a que subira o rio, escalando em Agreste; a outra desembarcara indivíduos e instrumentos na praia. Andaram fazendo perguntas aos pescadores, internaram-se, depois, no coqueiral. Ao Comandante todo esse movimento parece suspeito.
Ascânio Trindade, agora inteiramente certo de que se trata do estabelecimento de uma empresa turística na região, promete ao Comandante notícias concretas nos próximos dias. O mandachuva enviou a secretária executiva com recado, virá em breve para conversar, na certa para anunciar os projectos e obter apoio da Prefeitura. Apoio que não faltará, Comandante. Com o turismo reergendo Agreste, Ascânio, timoneiro a comandar o progresso do município, poderá ter esperanças de transformar o sonho em realidade.
Depois de tantos anos, pela primeira vez Ascânio Trindade sente-se mordido pela ambição, pelo desejo de ser alguém. Alguém com possibilidades de lutar por Leonora Cantarelli, bela e rica. Antes completamente inacessível, uma quimera. Agora conquista a ser realizada, meta a ser cumprida por um batalhador com os pés na terra, ideal de quem provou, em transe difícil, em duro desafio, coragem e competência capazes de superar os obstáculos e ir em frente, aspiração de um jovem temerário e lúcido a vencer as provações. A mais difícil, a que o virara do avesso, a essa Ascânio já vencera, falta-lhe tão-somente melhorar de vida, ser alguém, para poder aspirar à mão de Leonora, pedi-la em casamento. Ela rica, ele pobre. Não importa mais. Porque, se ele não tem fortuna a oferecer-lhe, em compensação ela já não possui o bem mais precioso que a noiva deve trazer para ofertar ao noivo na noite de matrimónio, o sangue da virgindade. Na face de Ascânio espelha-se a vitória mas não a paz, constata o comandante Dário.
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