terça-feira, abril 28, 2009


Tieta do Agreste
Episódio Nº 116


DO SUICÌDIO DO PREFEITO MAURITÔNIO DANTAS E DOS CONSELHOS DO CORONEL ARTUR DE TAPITANGA


Impossível negar-se ligação imediata entre a presença em Agreste dos pioneiros comandados por Elizabeth Valadares, a última verdadeira garota de Ipanema, e o suicídio do cirurgião-dentista Mauritônio Dantas, prefeito de Agreste, a horas tardias daquela mesma noite encontrado morto, a língua de fora, nu e feio. Usara o pijama para enforcar-se no banheiro.

Quando os desbravadores atingiram o bar e desfalcaram os estoques de coca-cola, guaraná e cerveja do honrado português, o dramático prefeito fora visto na janela de sua casa, brechando as exibidas coxas marcianas e cariocas, rosnando nomes, bastante agitado. Mirinha, irmã e enfermeira, não conseguiu levá-lo para o quarto onde, durante dia e noite, entregava-se, ansioso e eficiente ao exercício da masturbação. Naquela tarde, comprovando ter chegado finalmente a safra de mulheres solicitada, de há muito ao bom Deus, excitara-se à janela, à vista daquele mar de coxas, prova da magnanimidade divina.

Na opinião geral, doutor Mauritônio Dantas começara a ficar tantã quando a esposa, Amélia, na intimidade Mel, juntou os trapos e foi encontrar-se com Aristeu Regis em Esplanada, dali tomando o casal rumo ignorado. Aristeu Regis visitara Agreste na qualidade de enviado da Secretaria da Agricultura para estudar problemas ligados ao cultivo da mandioca. Amélia não aguentava mais viver ali, nem mesmo ostentando o título de Primeira Dama do Município, título e merda sendo a mesma coisa, segundo ela. Aristeu ofereceu-lhe o braço e o desconforto, ela não vacilou. Algumas senhoras, amigas de Mel, confidentes de seus desgostos, afirmam ter o delírio do prefeito começado muito antes pois sujeitava a esposa a desregramentos e abusos insuportáveis, sendo esse o motivo real da fuga. Fosse assim ou assado, o processo de esclerose acentuou-se visivelmente após a partida da infiel. No dizer de Aminthas, nosso prezado Governador Civil administrara os chifres com perfeita honorabilidade e descrição enquanto Amélia derramou o mel de sua graça ali no município. Quando preferiu fazê-lo longe das vistas e das atenções do cônjuge, o digníssimo chefe da municipalidade não resistira a tanta ingratidão: jamais se opusera as folganças da esposa, por que o abandonara?

A demonstração oficial da demência deu-se poucos dias após a deserção de Mel. O prefeito decidiu, no sábado, atender os solicitantes vindos das roças e povoados com reclamações e pedidos, em estado de completa nudez, e para tal fim, despiu-se, retirando inclusive os sapatos. Manteve-se de meias, no entanto, para não pisar descalço o frio soalho da sala. Qualquer cochilo de Mirinha e o dentista vinha para a rua ou praça, de cuecas ou sem, a masturbar-se em público para júbilo dos moleques. Durou meses essa penosa situação comentada aos cochichos.

Quando, da janela, doutor Mauritônio Dantas constatou o movimento de retirada das celestes mini-saias, não se conformou, Deus as enviara para consolo de seu sofrido servo, como ousavam partir? Interrompendo a solitária e deleitosa prática, saiu para fora, aos gritos tentando apoderar-se de pelo menos meia dúzia, necessitando delas para esquentar-lhe o leito gélido com a ausência de Mel, suavizar as perfurantes molas do gasto colchão em que rolava insone. Molas e chifres, segundo o implacável Aminthas.

Site Meter