segunda-feira, maio 11, 2009


Tieta do Agreste


EPISÓDIO Nº 129







Preso aos lábios do doutor Stefano, Ascânio enxergou Agreste reerguido da decadência, colocado na vanguarda dos municípios do interior baiano. No céu a visão da fumaça das chaminés, pagando com juros o atraso devido à ausência da fumaça do trem de ferro, trazia ao mesmo tempo a riqueza para Agreste e um laivo de soberba a instalar-se no coração de Ascânio: à frente do progresso, a comandá-lo, o jovem prefeito, incansável batalhador.

Ao final da conversa com o enviado da directoria Provisória, quando, em nome da Prefeitura, autorizou a sociedade a examinar as possibilidades de estabelecer sua indústria em terras do município, Ascânio sentiu reviver aquela antiga ambição de estudante de Direito, do noivo de Astrud, planos de triunfo. Interesse pessoal somando-se a elevado sentimento cívico. Pessoal, não mesquinho ou desonesto.

Vislumbrou a possibilidade de construir, à base do novo progresso de Agreste, carreira de administrador e político, a levá-lo e a elevá-lo até Leonora. Carreira vitoriosa, dando-lhe as credenciais exigidas a quem deseje candidatar-se a marido de herdeira paulista, grã-fina e milionária.

Até então julgara-a inatingível, vivendo no pavor do anúncio da data de partida, do fim do acanhado idílio de silêncios e expectativas, de meias palavras e gestos imprecisos. Agora, tinha um horizonte, campo de luta, já não se sentia mísero funcionário de um burgo nas vascas da agonia pois, como afirmara poeticamente o Magnífico Doutor, raiava sobre Agreste a aurora de grandes eventos, a manhã do progresso.

Pena não poder contar o milagre a Leonora, nem a ela nem a pessoa alguma. O Doutor Mirko Stefano exigira a máxima descrição, segredo absoluto até nova ordem. Somente após a conclusão dos estudos preliminares, apenas iniciados, poderia a empresa dar publicidade à notícia auspiciosa. Uma palavra dias antes do momento exacto pode botar tudo a perder.

Se bem, à primeira vista, a região de Sant’Ana do Agreste, nas proximidades de Mangue Seco, parecesse o local ideal para a instalação das fábricas, os relatórios conclusivos dependiam ainda de um levantamento completo de possibilidades e vantagens, de análises diversas, indo da profundidade do mar na barra do rio Real ao apoio da Administração. Novos técnicos desembarcariam logo após o Natal. Para o complicado trabalho que iriam realizar o doutor Stefano solicitou reserva e boa vontade ao Senhor Prefeito, além da necessária autorização. Eram propriedade da Prefeitura as terras à margem do rio? A quem pertenciam? A discrição impunha-se inclusive para evitar uma alta exagerada nos preços dos terrenos, tornando anti económica a utilização da área. Por ora silêncio, depois os foguetes.

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