Tieta do Agreste
EPISÓDIO Nº 141
EPISÓDIO Nº 141
DO CONTEÙDO DAS SACOLAS, CAPÌTULO NO QUAL A BASTÂNIO COLOCA JESUS A SEU SERVIÇO
Meia centena de sacolas de papel, com cores e a insígnia – Ordem e Progresso – da bandeira brasileira, contadas e acumuladas na sala de reuniões do Conselho Municipal; separadas em dois grupos de vinte e cinco. No primeiro, destinado às meninas, predomina a cor amarela e cada sacola contem uma pequena boneca de plástico, um fogãozinho de lata, duas bolas de ar, um saco de balas, uma língua de sogra, um reco-reco de madeira. Nas outras, a cor dominante é o verde; a boneca e o fogão foram substituídos por um automovelzinho (de plástico) e uma cornetinha de (lata). Em todas as cinquenta, idêntica estampa com a efígie de Jesus de um lado, e do outro uma inscrição onde se lê em caracteres dourados: “Deixai vir a mim as criancinhas. Oferta da Brastânio – Indústria Brasileira de Titânio S. A., uma empresa ao serviço do Brasil”.
Peto, perdidas as últimas ilusões, abandona a Prefeitura:
- Que zorra! Um lixo…
Em compensação Leôncio freme de entusiasmo:
- Viva Deus! Sete mimos em cada saco, que fartura! Vou querer para meus três netos, as duas meninas e o menino. Não me falte por favor, doutor Ascânio.
Ascânio concede as três sacolas ao ex-soldado e ex-cangaceiro, fiel auxiliar da Prefeitura, salário mínimo nem sempre pago em dia. Naquela hora alegre e luminosa não pode negar-se a nenhum pedido, estando ele próprio cumulado, tendo recebido de uma vez e inesperadamente tantas mercês.
O Natal das crianças pobres. A solução do problema a afligi-lo, o financiamento da festa de inauguração da luz da Hidrelétrica: a benemérita Brastânio paga tudo, calçamento e bandeirolas, foguetes e música e o Doutor Mirko Stefano honrará a cidade com a sua presença. Mais ainda, porém, excitam-no as notícias sobre as perspectivas da instalação em Agreste da monumental indústria: o doutor praticamente garantiu o feliz resultado dos estudos. Nem Itabuna, nem Ilhéus, nem Valença, nem Arembepe…
Ascânio fica em dúvida: teria o doutor Mirko citado Arembepe entre os locais possíveis? Guarda a impressão de ter escutado o nome da praia famosa, atracção turística internacional, apesar de não chegar aos pés de Mangue Seco. Mas não tem certeza pois, ao repetir o nome das cidades concorrentes, o magnata as reduzira às duas do sul do sul do estado e à terceira do recôncavo. Enfim, não importa, pois as preferências dos responsáveis pela a empresa fixam-se em Agreste.
Para fechar a sua visita com chave de ouro O doutor Mirko liberara Ascânio da obrigação de sigilo: pode comunicar a boa nova ao povo. Ele o fará durante a distribuição dos brindes de Natal.
Mentir não é o forte de Ascânio Trindade, não sabe fazê-lo, comete indiscrições, escapam-lhe detalhes, revela pistas. Assim aconteceu no discurso pronunciado na Praça do Curtume (rectificando em tempo: Praça Modesto Pires) quando, levianamente, anunciara para breve grandes novidades, dando a entender a existência de projecto muito mais considerável do que simples empreendimento turístico, fazendo referência, imagine-se! A pólo industrial.
A maioria não maliciou mas alguns ficaram de orelha em pé. Osnar o interpelara a caminho do rio:
- Que conversa é essa, Capitão Ascânio, de pólo industrial? Nessa história tem gato escondido…
Meia centena de sacolas de papel, com cores e a insígnia – Ordem e Progresso – da bandeira brasileira, contadas e acumuladas na sala de reuniões do Conselho Municipal; separadas em dois grupos de vinte e cinco. No primeiro, destinado às meninas, predomina a cor amarela e cada sacola contem uma pequena boneca de plástico, um fogãozinho de lata, duas bolas de ar, um saco de balas, uma língua de sogra, um reco-reco de madeira. Nas outras, a cor dominante é o verde; a boneca e o fogão foram substituídos por um automovelzinho (de plástico) e uma cornetinha de (lata). Em todas as cinquenta, idêntica estampa com a efígie de Jesus de um lado, e do outro uma inscrição onde se lê em caracteres dourados: “Deixai vir a mim as criancinhas. Oferta da Brastânio – Indústria Brasileira de Titânio S. A., uma empresa ao serviço do Brasil”.
Peto, perdidas as últimas ilusões, abandona a Prefeitura:
- Que zorra! Um lixo…
Em compensação Leôncio freme de entusiasmo:
- Viva Deus! Sete mimos em cada saco, que fartura! Vou querer para meus três netos, as duas meninas e o menino. Não me falte por favor, doutor Ascânio.
Ascânio concede as três sacolas ao ex-soldado e ex-cangaceiro, fiel auxiliar da Prefeitura, salário mínimo nem sempre pago em dia. Naquela hora alegre e luminosa não pode negar-se a nenhum pedido, estando ele próprio cumulado, tendo recebido de uma vez e inesperadamente tantas mercês.
O Natal das crianças pobres. A solução do problema a afligi-lo, o financiamento da festa de inauguração da luz da Hidrelétrica: a benemérita Brastânio paga tudo, calçamento e bandeirolas, foguetes e música e o Doutor Mirko Stefano honrará a cidade com a sua presença. Mais ainda, porém, excitam-no as notícias sobre as perspectivas da instalação em Agreste da monumental indústria: o doutor praticamente garantiu o feliz resultado dos estudos. Nem Itabuna, nem Ilhéus, nem Valença, nem Arembepe…
Ascânio fica em dúvida: teria o doutor Mirko citado Arembepe entre os locais possíveis? Guarda a impressão de ter escutado o nome da praia famosa, atracção turística internacional, apesar de não chegar aos pés de Mangue Seco. Mas não tem certeza pois, ao repetir o nome das cidades concorrentes, o magnata as reduzira às duas do sul do sul do estado e à terceira do recôncavo. Enfim, não importa, pois as preferências dos responsáveis pela a empresa fixam-se em Agreste.
Para fechar a sua visita com chave de ouro O doutor Mirko liberara Ascânio da obrigação de sigilo: pode comunicar a boa nova ao povo. Ele o fará durante a distribuição dos brindes de Natal.
Mentir não é o forte de Ascânio Trindade, não sabe fazê-lo, comete indiscrições, escapam-lhe detalhes, revela pistas. Assim aconteceu no discurso pronunciado na Praça do Curtume (rectificando em tempo: Praça Modesto Pires) quando, levianamente, anunciara para breve grandes novidades, dando a entender a existência de projecto muito mais considerável do que simples empreendimento turístico, fazendo referência, imagine-se! A pólo industrial.
A maioria não maliciou mas alguns ficaram de orelha em pé. Osnar o interpelara a caminho do rio:
- Que conversa é essa, Capitão Ascânio, de pólo industrial? Nessa história tem gato escondido…
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