Temos Que Melhorar Como Cidadãos
Miguel Sousa Tavares é um homem de gostos requintados, sensibilidade apurada e amante de um Portugal "selvagem" e eu, que ainda tive oportunidade de conhecer um bocadinho esse Portugal esquecido, do antigamente, das aldeias cheias de gente, da agricultura intensiva, das hortinhas já trabalhadas ao pôr do sol, depois de um dia de trabalho, quando os caminhos do campo eram percorridos intensamente a pé ou de bicicleta, quando o mato era roçado para a cama dos animais e os fogos passavam despercebidos na ausencia, ainda, das grandes extensões de eucaliptais, compreendo bem as críticas de MST que têm a ver com muitas das decisões políticas de hoje mas que refletem, igualmente, uma nostalgia pelo Portugal paisagístico de há meio século atrás.
Sem dúvida, que muitas coisas se fizeram neste país apenas porque havia dinheiro...dinheiro negociado em Bruxelas aos milhões e cujo objectivo era proporcionar aos portugueses mais desenvolvimento, melhor qualidade de vida, aproximá-los dos cidadãos dos restantes cidadãos dos países da europa central.
Habituados a "contar os tostões", de repente vimo-nos com a tarefa de gastar milhões, demasiados milhões para a nossa capacidade de os aplicar: por deficiências humanas da nossa máquina administrativa e de um sector privado que, pela primeira vez na vida do país, tinha um estado ávido de aplicar dinheiro dentro de determinados prazos sob o risco de ter que o devolver, e ele não se fez rogado. Gabinetes de contabilidade e projectos encarregaram-se, a troco de boas comissões, ensinar as pessoas a obter dinheiro do Estado. Estávamos ainda no primeiro governo de Cavaco Silva, tínhamos acabado de negociar o 1º Quadro Comunitario de Apoio e aconteceu um bocadinho daquilo que sucede quando "um pobresinho" recebe a taluda do euromilhões: grande parte dele não foi aplicado em benefício do destinatário, neste caso, o país.
Esta auto-estrada, a A6, referida por MST, parece realmente uma auto-estrada fantasma. Já o comprovei nas minhas idas a Espanha, quando vou de férias. No fundo, é um luxo que está ali, mas podíamos ter deixado de a fazer? Para quantas gerações se faz uma auto estrada? Como se teria aplicado o dinheiro que veio da Comunidade para a construir? Terão os Apoios sido bem negociados quanto aos seu objectivos? Em caso afirmativo terão sido depois bem utilizados?
Em última análise tinha Portugal alguma outra saída que não a de nos integrarmos na Comunidade Europeia com todas as vantagens e desvantagens daí decorrentes?
Todas estas questões são legítimas mas na opinião das pessoas mais responsáveis e entendidas, umas mais outras menos europeístas, a resposta é não. Muitos dos erros cometidos ao longo de todo este processo devem ser imputados a nós, portugueses, que enfermamos de todos aqueles vícios que MST tão bem conhece e denuncia.
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