TIETA DO AGRESTE
EPISÓDIO Nº 182
- Feliz de quem possui uma irmã como você, Tieta. Você é a maior. Coração de ouro igual ao seu, não existe – exalta-se dona Carmosina, comovida; a amiga cresce em seu conceito a cada dia.
Elisa, porém, guarda silêncio, os olhos fixos no chão. Certamente emocionada a ponto de não saber como expressar a sua gratidão. Num esforço começa a falar sem suspender a cabeça, nervosa, gaguejante:
- Carmosina tem razão, tu é boa demais, Tieta. Antes de te conhecer, em pensamento eu te imaginava uma fada e tu é mesmo – Levanta a vista e pousa em dona Carmosina a lhe pedir apoio para o que vai dizer: Agradeço muito o que tu quer fazer por mim e por Astério, a compra da roça e a casa para morar de graça – Uma pausa para tomar fôlego e coragem – Mas não aceito. O que eu quero te pedir é outra coisa, até tinha conversado com Carmosina para ela falar contigo…
Uma sombra cobre o rosto de Tieta, sabe de antemão o que Elisa deseja:
- Tu não precisa de intermediário para falar comigo. Diga o que é que quer – Faz-se distante e fria.
Elisa eleva os olhos medrosos para a irmã poderosa e rica. Decide-se, a voz vibra na sala:
- Só quero uma coisa: ir contigo para São Paulo. Quero que tu me leve, arranje emprego para Astério, me…
Não consegue concluir a frase, Tieta a interrompe, brusca:
- Tu quer ir para São Paulo. Fazer lá o que, me diga? Botar chifre em teu marido? Ser puta?
O soluço irrompe do peito de Elisa, as lágrimas saltam-lhe dos olhos. Estremece como se houvesse levado uma bofetada, cobre o rosto com as mãos. Esses soluços, essas lágrimas nada têm de comum com as choradas de há pouco, na obrigação do nojo, no ritual da morte. É um pranto sincero, verdadeiro, produto de duro e inesperado golpe, de um desgosto real, de um sonho roto. Arreia a cabeça sobre os braços, na mesa, geme baixinho num choro de criança, os cabelos se espalham.
Ergue-se Tieta, aproxima-se da irmã mais moça. Levanta-a toma-a nos braços e a consola. Beija-a nas faces, limpa-lhe as lágrimas, acaricia-lhe os cabelos, chama-a de Lisa, minha filha, a voz doce e terna, maternal:
- Não chore, Lisa, minha filha. Se nego, é para teu bem. Lá não ia prestar para vocês. Ruim para ti, pior para Astério. Um dia eu te prometo, quando for fazer uma viagem, me baldar de férias, mando buscar vocês para irem passear comigo. Tu sabe que quando eu prometo cumpro. Mas agora, o que tu vai fazer é ajudar teu marido na loja, que ele precisa tempo livre para o criatório. – Levanta a voz de novo: - E nunca mais me fale em ir para São Paulo. Nunca mais.
Dona Carmosina não pode conter a emoção, enxuga os olhos miúdos com um lencinho bordado. Tonha assiste, apalermada, sem conseguir entender aquela confusão. Tieta, deixando Elisa, vem abraça-la, repetindo ao despedir-se, a recomendação sobre o dinheiro:
- Guarde o seu dinheirinho com cuidado. Não empreste nem dê a ninguém. Nem Elisa, nem Astério, nem Perpétua, mesmo que lhe peçam. Eles não precisam. – Acena para dona Carmosina: - Vamos, Carmô?
Ainda afogada na decepção, Elisa volta a se abraçar com Tieta, no desejo, quem sabe, de arriscar uma última súplica apesar da proibição terminante. Não chega a fazê-lo. Passos ressoam no corredor, Astério entra na sala, estranha o desespero da esposa, crescendo em choro convulso, em altos soluços à sua aparição. Qual a causa desse pranto ardente, de ais tão sentidos? Pela morte do Velho não há-de ser.
- Aconteceu alguma coisa? – Já lhe arde o estômago.
Dona Carmosina explica:
- Elisa está chorando de contente e agradecida. Tieta vai comprar uma fazenda para vocês.
Elisa, porém, guarda silêncio, os olhos fixos no chão. Certamente emocionada a ponto de não saber como expressar a sua gratidão. Num esforço começa a falar sem suspender a cabeça, nervosa, gaguejante:
- Carmosina tem razão, tu é boa demais, Tieta. Antes de te conhecer, em pensamento eu te imaginava uma fada e tu é mesmo – Levanta a vista e pousa em dona Carmosina a lhe pedir apoio para o que vai dizer: Agradeço muito o que tu quer fazer por mim e por Astério, a compra da roça e a casa para morar de graça – Uma pausa para tomar fôlego e coragem – Mas não aceito. O que eu quero te pedir é outra coisa, até tinha conversado com Carmosina para ela falar contigo…
Uma sombra cobre o rosto de Tieta, sabe de antemão o que Elisa deseja:
- Tu não precisa de intermediário para falar comigo. Diga o que é que quer – Faz-se distante e fria.
Elisa eleva os olhos medrosos para a irmã poderosa e rica. Decide-se, a voz vibra na sala:
- Só quero uma coisa: ir contigo para São Paulo. Quero que tu me leve, arranje emprego para Astério, me…
Não consegue concluir a frase, Tieta a interrompe, brusca:
- Tu quer ir para São Paulo. Fazer lá o que, me diga? Botar chifre em teu marido? Ser puta?
O soluço irrompe do peito de Elisa, as lágrimas saltam-lhe dos olhos. Estremece como se houvesse levado uma bofetada, cobre o rosto com as mãos. Esses soluços, essas lágrimas nada têm de comum com as choradas de há pouco, na obrigação do nojo, no ritual da morte. É um pranto sincero, verdadeiro, produto de duro e inesperado golpe, de um desgosto real, de um sonho roto. Arreia a cabeça sobre os braços, na mesa, geme baixinho num choro de criança, os cabelos se espalham.
Ergue-se Tieta, aproxima-se da irmã mais moça. Levanta-a toma-a nos braços e a consola. Beija-a nas faces, limpa-lhe as lágrimas, acaricia-lhe os cabelos, chama-a de Lisa, minha filha, a voz doce e terna, maternal:
- Não chore, Lisa, minha filha. Se nego, é para teu bem. Lá não ia prestar para vocês. Ruim para ti, pior para Astério. Um dia eu te prometo, quando for fazer uma viagem, me baldar de férias, mando buscar vocês para irem passear comigo. Tu sabe que quando eu prometo cumpro. Mas agora, o que tu vai fazer é ajudar teu marido na loja, que ele precisa tempo livre para o criatório. – Levanta a voz de novo: - E nunca mais me fale em ir para São Paulo. Nunca mais.
Dona Carmosina não pode conter a emoção, enxuga os olhos miúdos com um lencinho bordado. Tonha assiste, apalermada, sem conseguir entender aquela confusão. Tieta, deixando Elisa, vem abraça-la, repetindo ao despedir-se, a recomendação sobre o dinheiro:
- Guarde o seu dinheirinho com cuidado. Não empreste nem dê a ninguém. Nem Elisa, nem Astério, nem Perpétua, mesmo que lhe peçam. Eles não precisam. – Acena para dona Carmosina: - Vamos, Carmô?
Ainda afogada na decepção, Elisa volta a se abraçar com Tieta, no desejo, quem sabe, de arriscar uma última súplica apesar da proibição terminante. Não chega a fazê-lo. Passos ressoam no corredor, Astério entra na sala, estranha o desespero da esposa, crescendo em choro convulso, em altos soluços à sua aparição. Qual a causa desse pranto ardente, de ais tão sentidos? Pela morte do Velho não há-de ser.
- Aconteceu alguma coisa? – Já lhe arde o estômago.
Dona Carmosina explica:
- Elisa está chorando de contente e agradecida. Tieta vai comprar uma fazenda para vocês.
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