segunda-feira, agosto 03, 2009


TIETA DO AGRESTE
EPISÓDIO Nº 197






ONDE O AUTOR INFORMA E DOUTRINA SOBRE SUSCEPTILIDADES REGIONAIS, CITA NOMES FAMOSOS NO MUNDO DAS LETRAS E DAS ARTES, BUSCANDO CERTAMENTE COM ELES MISTURAR-SE, COM OCASIONAL REFERÊNCIA ÀS ELEIÇÕES PARA A PREFEFEITURA DE AGRESTE


Em momento crítico, quando ainda carecido de respostas positivas às questões colocadas com o anúncio da próxima instalação da Brastânio no coqueiral de Mangue Seco, ao pensar na população do Saco, arraial de pescadores ameaçados em sua actividade, Ascânio Trindade recusara tomar conhecimento do problema, recordando a posição geográfica do povoado, erguido na margem esquerda da foz do rio Real, no Estado de Sergipe. Em voz alta, Josafá Antunes proclamou o mesmo raciocínio regionalista em conversa com Tieta: os sergipanos que se cocem.

Coçaram-se, pois A Tarde, em quadro na primeira página, reclama a atenção dos leitores para candentes matérias impressas no corpo do jornal, referentes ao perigo da poluição: notícia sobre as anunciadas eleições para a Prefeitura de Sant’Ana do Agreste, telegrama do senhor Raimundo Sousa, prefeito do município de Estância, no estado de Sergipe, e entrevista de Caribe, artista de fama internacional que tanto tem elevado o nome do Brasil no estrangeiro.

Sobre as eleições, breve grifo na coluna de Notas Políticas: circulam rumores segundo os quais a prioridade consentida na pauta de trabalhos do Tribunal Eleitoral para a marcação da data do próximo pleito para a escolha do novo prefeito de Agreste deve-se à manobra da Brastânio, interessada em colocar à frente da comuna, onde pretende instalar a indesejável e condenada indústria de dióxido de titânio, homem de sua confiança.

O telegrama do prefeito de Estância ressuma indignação: “o ignóbil projecto da Brastânio de situar suas fábricas em Mangue Seco significa inqualificável ameaça para o litoral sul de Sergipe, para os bravos e honrados pescadores e toda a ordeira e laboriosa população do arraial do Saco, para a rica fauna piscatória da região, do mar e dos rios, o Piauí e o Piauitinga, que se juntam para formar o rio Real, pouco acima de Estância, município cuja ecologia e economia serão violentamente afectadas assim como as dos municípios vizinhos, tanto os de Sergipe quanto os da Bahia, Estados irmãos, cujas vozes e forças devem-se unir em defesa da integridade do meio ambiente”.

Não fosse o prefeito de Estância conhecido por sua fina educação, poder-se-ia pensar que, que ao considerar de honrados os pescadores do arraial do Saco, agisse na oculta intenção de opor sua honesta actividade à faina ilegal de contrabando exercida pela duvidosa colónia de Mangue Seco. De idêntica maneira, colocando o acento sobre o fato dos projectos da Brastânio ameaçarem igualmente a sã ecologia dos dois Estados, apelando para as relações fraternas que devem unir os membros de nossa vacilante federação, sobretudo quando vizinhos, tem-se a impressão que o autor do telegrama responde com acerba crítica ao pensamento de Ascânio Trindade e à frase infeliz de Josafá Antunes. Não tinha conhecimento, porém, o eficiente e popular prefeito de Estância nem da cínica declaração de Josafá, muito menos do desesperado recurso de Ascânio, que não chegara a se expressar em palavras. Devemos atribuir tais intenções, se em verdade existiram, a velhas queixas sergipanas contra certa tendência colonialista dos baianos, verdadeira ou não.

Ao transcrever das colunas de A Tarde o enérgico protesto do digno Prefeito de Estância, não posso perder a ocasião de render pública homenagem aos seus méritos. Disseram-me ser ele proprietário de tradicional indústria de charutos, infensa a qualquer tipo de poluição, fabrico de trato artesanal, onde as folhas do tabaco são enroladas sobre as coxas de exímias operárias, ganhando perfume e sabor especiais. Quem sabe, tratando-o bem como aqui o faço, receberei algumas caixas do estimado produto. Em tempo de magros direitos autorais, preciosa oferta.

Quanto à entrevista daquele a quem a redacção do jornal, num desparrame de elogios, trata de pintor notável, de fama internacional, fazendo-lhe, ao que me consta, justiça à obra vasta e bela é, como se depreende do texto, a segunda por ele concedida a propósito da Brastânio e o faz na qualidade de “baiano ilustre e de proprietário de encantadora e rústica vivenda de veraneio em Arembepe”. Começa por se referir a uma primeira entrevista quando, antecipando-se a Giovanni Guimarães, condenara indignado a Brastânio, “monstruosa ameaça à praia de Arembepe, a toda
a orla marítima da Capital, à população trabalhadora, aos peixes e mariscos, ao mar de Iemanjá”.

Site Meter