quarta-feira, agosto 12, 2009


TIETA DO AGRESTE
Episódio Nº 204





DAS PREOCUPAÇÕES DO NOVO-RICO



Cresce o movimento, modifica-se a cadência. No caso concreto de Astério, promovido de modesto comerciante a novo-rico, de capitão a major, a responsabilidade cabe à cunhada rica de São Paulo e, se intervenção houve da Brastânio, foi indirecta e casual. De qualquer maneira, também para ele o ritmo de vida acelerou-se.

Antes, passava manhã e tarde na loja, despachando reduzida freguesia, vendendo uns poucos metros de fazenda, uma camisa de homem, uma saia de mulher, uma dúzia de botões, agulhas e carretéis de linha, quinquilharias, bagatelas. Sobrando-lhe tempo para transar com os amigos, sobretudo o indefectível Osnar, ouvindo fuxicos, comentando acontecidos, saboreando histórias da trepidante vida nocturna de Agreste (como diz o sarcástico Aminthas) pondo-se a par das qualidades das últimas raparigas recrutadas por Zuleika Cinderela. Dias antes, lhe haviam falado de uma novata, moderninha, quinze anos incompletos, dona de um traseiro que, a continuar se desenvolvendo, será, em breve, o mais vistoso de Agreste; viera do arraial de Saco e se chama Maria Imaculada.

No começo da tarde, hora morta, deixava o moleque Sabino tomando conta do balcão, ia dedicar-se a longos treinos nos dois brunswicks do bar. Agora tem de se desdobrar, dividindo-se entre a loja e as terras e as obras da casa de Tieta.

Ida matinal a Vista Alegre, para fiscalizar rebanho e plantação, colocados sob os cuidados imediatos de Menininho, filho de Lauro Branco, arranjo de Osnar.

- Roubado, major, você vai ser de qualquer maneira, bote quem botar, então, é melhor que seja pelo compadre Lauro que a gente sabe que rouba sem exagero e, tirando isso, é homem sério e trabalhador. Menininho é bom de enxada, sabe cuidar das cabras e tem o compadre ao pé para aperrear. Desde que você controle, como eu faço, a coisa anda.

Corre da loja para as obras em vias de acabamento, na casa comprada a dona Zulmira. O velho Zé Esteves plantava-se ali o dia inteiro, azucrinando mestre Liberato, dando esporro nos operários, ameaçando Deus e o mundo.

Astério precisa impedir que, com a falta do Velho, o trabalho se arraste justamente quando chega ao fim. Prontos os sanitários, os melhores de Agreste, com chuveiros e banheiras, latrinas de luxo, bacanérrimas, começada a pintura, pouco falta para a casa estar habitável. Aliás, o plano de Astério, é efectuar a mudança quanto antes, mesmo não estando completa a reforma. Duas vantagens: deixará de pagar aluguel e com eles dentro da casa as obras andarão mais depressa. Já deu ordens a Elisa para arrumar os teréns.

A morte do velho Zé Esteves viera abrir-lhe o caminho da prosperidade. Mandioca e cabras, terras. Quem possui terras é dono de um pedaço do mundo, repetia o sogro, lastimando o perdido património. Casa porreta, senão própria pelo menos gratuita, uma das melhores residências da cidade. Digna moldura para a beleza e elegância de Elisa.

Elisa o preocupa, anda de cabeça baixa, lacrimosa, pelos cantos. Nem parece haver recebido tantos e tamanhos benefícios, provas de amor fraterno poucas vezes vistas em Agreste. Nunca vistas. Tieta é mão aberta, mais que generosa, mais que generosa, perdulária. Não obstante, Elisa se comporta como se houvesse sido ofendida ou maltratada. Astério não lhe vira mais um único sorriso nos lábios desde aquela tarde, no dia seguinte ao enterro do Velho, quando Tieta anunciou a compra da Vista Alegre em nome do casal.

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